Educação e Tecnologia
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Tecnologias Educacionais no Projeto Político-Pedagógico das Escolas - 10/04/2017
João Luís de Almeida Machado

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Tecnologias Educacionais

Desde o surgimento dos computadores pessoais, passando um pouco mais adiante pelo advento da internet comercial e de outros importantes recursos como os tablets e smartphones, por exemplo, sem contar ainda as implementações dos processos de comunicação em rede, com a web deixando de ser 1.0, aquela em que continuávamos a receber informação sem possibilidade de responder ou criar e divulgar nossa produção própria, a educação tem tentado acompanhar e incorporar a revolução em curso.

As tecnologias, por sinal, em sua grande maioria, como os expoentes citados no início deste texto, não foram criadas para a educação, mas, sim, adaptadas posteriormente para seu uso em escolas e salas de aulas de todo o mundo por educadores e estudantes.

A adequação, por sinal, torna difícil e sinuoso o caminho de aplicação destas tecnologias em sala de aula, mas, felizmente, os educadores que pesquisam e aplicam tais instrumentos em projetos e ações educacionais são persistentes e seguem sua trilha buscando tal incorporação, sempre visando a melhoria dos processos, projetos, fluxos, ações e programas em andamento.

Há, ainda, o empecilho da cultura arraigada nas escolas brasileiras e em outras partes do mundo, mais ou menos, dependendo da localidade, que resistem ao advento não de equipamentos, softwares ou aplicativos, mas a toda uma nova forma de ensinar que precisa ser criada e estimulada.

Pois já se percebeu que não adianta simplesmente incorporar hardware e software ao cotidiano das escolas. Isso, segundo muitos especialistas, entre os quais me incluo, apesar dos custos e dificuldades de infraestrutura que existem, em especial num país como o Brasil, é a parte mais fácil de iniciativas de tal monta e gênero.

Modificar a cultura de professores e gestores em prol do uso planejado, meticuloso e diferenciado dos modelos previamente existentes aplicados nas salas de aula regulares, dos cursos presenciais, este sim é um grande desafio.

Significa, na prática, atirar contra o status quo dominante desde que a educação foi “formatada” para atender a demanda social crescente, quando ocorreu a Revolução Francesa, na década final do século XVIII, em que as escolas passaram a ser direito da população, dever do estado e, afinal, porque não, elemento de preparação das novas gerações para a vida em sociedade, o trabalho, os conformes jurídicos, os estamentos dominantes, a cultura burguesa, a economia de mercado, a democracia liberal e outras estruturas vigentes.

Nesta sociedade baseada em contratos, a escola e o sistema educacional são também, estruturas que trabalham a partir de documentos que infiram as normativas, decorrentes de debate e discussão democrática, envolvendo indivíduos e grupos de interesse para que, a decisão coletiva, traga os melhores resultados em prol da coletividade, ainda que isso, por vezes, represente para alguns, derrotados nas prerrogativas por eles defendidas, oposição ao que foi aprovado. Sem problemas pois assim é a democracia que, segundo Winston Churchill, é o pior modelo político, mas que, ainda assim, não há nenhum melhor que ele.

É neste sentido que urge pensar o uso e aplicação da tecnologia educacional como parte do projeto político-pedagógico (PPP) das instituições de ensino. Para tanto é necessário, inicialmente, firmar real compreensão sobre o que é o PPP e, caso ele não exista na escola, trabalhar por sua criação ou ainda, caso não verse sobre o uso de recursos tecnológicos, que seja refeito para incluir tal temática entre suas proposições.

A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96, estabelece que, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, compete as instituições de ensino criar e colocar em uso sua própria proposta pedagógica. Isso significa que, sem que com isso os princípios legais em vigência no país e as bases regulatórias da educação definidas pelos sistemas em utilização definidos por órgãos reguladores, cada escola deve, independentemente do segmento que atende, criar seu próprio documento normativo que, no caso, deve ter conotação pedagógica evidente e ser de conhecimento geral para plena aplicação e respeito, assim como, em se tratando de uma sociedade democrática, que seja definido a partir de amplo debate envolvendo os interessados, em especial no que tange a instituições públicas de ensino.

O que se espera, então é que as unidades de ensino, sejam elas privadas (o que, neste caso, infere a criação deste documento nos conformes daquilo que seus mantenedores decidam mas que, certamente, não podem contrariar as leis e prerrogativas educativas vigentes nem, tampouco, a expectativa social) ou públicas, criem seu PPP.

Caso já existente, é preciso, igualmente, revisões periódicas já que, é claro e evidente para todos, o mundo atual é extremamente dinâmico, em constante renovação, com demandas novas surgindo constantemente e, também, com o perfil dos usuários das escolas e o contexto em que vivemos sempre pedindo atualizações.

As tecnologias de informação e comunicação, conforme previamente dito neste texto, foram se inserindo no cotidiano do planeta há aproximadamente 4 ou 5 décadas, com diferentes impactos em cada uma delas, até que, com a virada de século e milênio, seu impacto tornou-se grandioso a ponto de, em poucos anos, impactar a vida de ¾ da população mundial, conforme demonstram os dados mais atuais, pelos quais sabemos que a internet chega a aproximadamente 6 bilhões de usuários.

Neste sentido cabem estudos nas escolas que envolvam gestores e professores para que se percebam, entendam, utilizem, aprovem, reprovem e, finalmente, que se estabeleçam parâmetros gerais de uso de tais tecnologias nas escolas. Tais diretrizes devem, então, fazer parte de debates juntamente as comunidades atendidas no sentido de esclarecimento público e, ao mesmo tempo, de busca de aprovação da coletividade quanto a perspectiva geral de uso de tecnologias no âmbito escolar. O que é? Para que servem? Como aplicar? Que benefícios podem trazer? Qual o impacto? Que resultados são esperados? Há contraindicações? Qual será a carga horária de aplicação e uso de tecnologias na escola? Como fazer com que estes recursos sejam adicionados a outros já existentes e validados socialmente? Enfim, há questionamentos importantes a serem trazidos a público para que se definam os trâmites e se aprovem mudanças ou um novo PPP que inclua as tecnologias educacionais.

Deve-se sempre considerar, igualmente, que não é neste documento, de âmbito maior para a vida da escola e da comunidade por ela atendida, que as especificidades do uso de tecnologias educacionais irão ser trazidas a público. Isso carece de outros instrumentos preparatórios, amplos ou específicos, através dos quais o corpo docente e os gestores das unidades de ensino especifiquem o que querem, como irão trabalhar, que tecnologias serão usadas, as metodologias de uso, as estratégias didáticas específicas...


Obs. Para entender melhor o que é Projeto Político-Pedagógico leia os artigos recomendados a seguir:

O que é o Projeto Político-Pedagógico. Artigo da Revista Educação, disponível em www.gestaoescolar.org.br

Projeto Político-Pedagógico: Dimensões conceituais. Artigo da Escola de Gestores do MEC. Disponível em www.escoladegestores.mec.gov.br



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