Aparência x Eficiência - 13/03/2017
João Luís de Almeida Machado
É sempre possível, acredita Nestor, dar o melhor de si em tudo o que estiver envolvido. Para tanto é preciso se informar, organizar processos, buscar apoio de colegas, compor equipes coesas, definir claramente as metas, fechar os cronogramas e entregar no prazo previsto.
Nestor é um funcionário que começou na empresa como estagiário e, por conta de seu trabalho, já que nunca foi protegido de ninguém da diretoria, foi conseguindo galgar os degraus da empresa e hoje é supervisor do departamento onde trabalha.
Apesar de todo seu esforço, estudo e da eficiência evidenciada pelo sucesso atingido na maioria dos projetos em que está envolvido, Nestor estacionou na supervisão e não conseguiu chegar a gerência.
E o cargo ficou disponível pelo menos 2 vezes nestes 6 anos em que ele ocupa a supervisão. Márcio, que ocupou a posição por 20 anos se aposentou depois de uma carreira primorosa. O primeiro da fila para ocupar seu cargo na empresa era o Nestor, profissional de confiança do próprio Márcio, que o indicou para a vaga. Mas como o antigo gerente estava se aposentando, não tinha mais poder de decisão e a escolha coube ao doutor Manoel, vice-presidente daquela corporação, que preferiu dar a vaga para a Suzana, sua sobrinha e afilhada, ainda muito nova na empresa, mas que tinha feito uma primorosa graduação e cursava MBA.
Não que Nestor não tivesse também feito MBA e pós-graduação, ele tinha, mas o parentesco pesou e Suzana ficou com a vaga. Além disso, segundo os diretores, ela tinha presença, ou seja, a aparência de autoridade e competência, aliadas a formação e também a sua evidente beleza e postura a colocaram na frente do eficiente supervisor.
Bastaram alguns meses e tropeços evidentes, fruto da empáfia e do orgulho, da falta de experiência e comprometimento real com a empresa para que Suzana iniciasse sua derrocada. Nestor até tentou ajudar, mas não era escutado por sua nova gerente. Ela tinha a formação, a aparência de vencedora, a arrogância própria de quem se acha superior e, evidentemente, o cargo...
Ela ainda conseguiu completar 2 anos à frente da gerência que ocupava. Durante sua gestão o comprometimento anterior conseguido pela ação da dupla Márcio e Nestor foi sendo demolido. As pessoas não eram ouvidas e, pior, eram instadas a desconfiar de seus pares, o que nunca ocorrera até então. Alguns colaboradores qualificados não aguentaram e pediram as contas. Ofertas para eles não faltaram, muitos foram contratados pelo concorrente direto da empresa onde até então trabalhavam.
Estimulou-se na gestão de Suzana uma competição insana. As pessoas não deviam ser eficientes apenas, era preciso provar isso chegando cedo e saindo tarde, ainda que o trabalho pudesse ser executado durante o período de tempo normal de trabalho, sem qualquer prorrogação. O que importava era parecer ocupado e comprometido com a empresa por esta aparente percepção de quanto tempo era dedicado a empresa. Além de não aumentar a produtividade esta ação desencadeada na gestão de Suzana acarretou custos adicionais relacionados as horas extras dos colaboradores e, para piorar, muitas destas horas adicionais foram totalmente supérfluas...
Com a saída de Suzana todos apostaram novamente em Nestor e no retorno a harmonia e bom desempenho no departamento. A empresa resolveu, no entanto, buscar alguém de fora, experiente, com currículo invejável tanto do ponto de vista da formação quanto de experiência, ou seja, tempo de serviço e préstimos a outras empresas. Encontraram então o Bruno, que já tinha trabalhado em algumas empresas do ramo com algum destaque na mídia, com formação destacada pois fizera MBA em instituição de ponta no país.
Bruno era a elegância em pessoa. Se vestia muito bem, tinha postura de profissional de ponta, era persuasivo ao falar, vendia muito bem o que se propunha a oferecer a seus clientes. Parecia perfeito até demais. Não comprometeu o grupo como Suzana, minando as forças de seus colaboradores, mas com o tempo as pessoas perceberam que cobrava muito e fazia pouco. Sempre que cobravam dele resultados se apoiava nos pretensos erros de seus colaboradores e colocava suas cabeças na bandeja para entregar a direção. Não assumia os próprios erros, era perfeito demais para errar, os problemas vinham dos outros colaboradores.
O tempo foi passando e depois de mais 2 anos com queda nas vendas, a direção da empresa foi percebendo a estratégia de Bruno e resolveu dispensar o até então aparentemente perfeito gerente. E olhem que ele não apenas ficou surpreso com a demissão como ainda disse que ao ser chamado pelo presidente e pelo conselho da empresa pensou que seria promovido para diretor da empresa.
Descobriu-se depois de algum tempo que Bruno tinha ficado menos tempo do que dizia em seu currículo nas empresas pelas quais passou e que nem mesmo o MBA alegado por ele havia sido finalizado. Ele era a mais completa farsa. Para a empresa, no entanto, ficaram as dívidas e os prejuízos de uma gestão ineficiente, marcada apenas pela aparência de que tudo estava indo bem...
Nestor, depois da saída de Bruno, já não alimentava esperanças de que fosse promovido. Na realidade, para ele a questão não era a promoção, o cargo ou mesmo os benefícios obtidos com o novo cargo. Ele, é claro, sabia que tudo isso seria bom para ele, pessoalmente, mas o importante seria recuperar a empresa, estimular sua equipe, realizar com sucesso a gestão de empreendimentos pelos quais trabalhara com afinco durante longos anos, usando o conhecimento e a experiência que tinha. Nestor amava o que fazia e tinha real comprometimento com o segmento, a empresa e a equipe.
Cogitou-se, durante alguns dias, nova contratação externa. Nos corredores as pessoas falavam sobre o irmão do presidente da empresa, que recentemente fechara sua empresa e que podia assumir a gerência.
Sabiamente a direção, desta vez, resolvera analisar também os currículos de alguns colaboradores de longa data, como Nestor. Entrevistou alguns funcionários, avaliou dados da gestão de Márcio em que o supervisor fora peça chave e, depois de alguns dias de suspense, resolveu efetivar o colaborador. O tempo fizera com que a eficiência de Nestor lhe desse a oportunidade de subir novamente na empresa. Mais que aparência, ele era leal, tinha princípios, formação, experiência, assumia as responsabilidades, era um realizador e liderava com naturalidade. E se revelou um ótimo gerente, o que fez com que, alguns anos mais tarde, assumisse a direção e levasse a empresa aos melhores resultados de sua história. Tudo isso sem apadrinhamento, sem deixar de ser quem era, mantendo sua sobriedade e agindo com inteligência de um verdadeiro líder.
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