A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

27/9/2004 - Aprendendo com a Sétima Arte - 27/09/2004
O Cinema chega ao Vestibular

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Rolo-de-filme

Aos poucos as barreiras da academia estão sendo Aos poucos as barreiras da academia estão sendo derrubadas e o cinema está sendo incorporado ao cotidiano do ensino universitário. Já é muito expressiva a utilização de filmes em sala de aula por professores das mais diversas disciplinas e cursos. Não há restrições desde que a produção cinematográfica esteja de acordo com os planejamentos e conteúdos previstos na programação.

Agora, o mais recente avanço quanto à utilização de filmes como recurso efetivo de aprendizagem é a adoção desses materiais em concursos vestibulares.

Há instituições pioneiras nesse sentido. No campo das federais, desde o ano passado, a Universidade Federal da Bahia já possui uma lista de filmes sugeridos. Entre as particulares, a Universidade de Taubaté (Unitau), no Vale do Paraíba paulista, resolveu largar na dianteira e, a partir desse ano, também incorporou a seus pré-requisitos alguns títulos de destaque.

Filmes como “Cidade de Deus”, “Central do Brasil”, “Baile Perfumado”, “Inteligência Artificial”, “Tiros em Columbine”, “Desmundo”, “Abril Despedaçado”, “Uma Mente Brilhante” ou “Fale com Ela” fazem parte das relações das duas instituições universitárias.

Deve-se inclusive louvar a iniciativa de valorização dos títulos nacionais que constituem mais de 50% das obras sugeridas. Do mesmo modo, é importante salientar que a preocupação com produções requintadas, que se comprometem a discutir questões de interesse político-ideológico, econômico, social ou cultural são a tônica nas duas relações.

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“Cidade de Deus”, “Tiros em Columbine” e “Desmundo” estão entre os títulos
que estão nas listas da Universidade Federal da Bahia ou da Universidade de Taubaté.

E não podia ser diferente.

Cineastas como Walter Salles Jr., Fernando Meirelles, Michael Moore, Pedro Almodóvar, Steven Spielberg, Ettore Scola, Stephen Frears ou Glauber Rocha, apenas para mencionar alguns daqueles que estão nas sugestões da Federal da Bahia e da Universidade de Taubaté, constituem um grupo seleto de cineastas que conseguem atingir o grande público, gerar polêmica, discutir temas importantes e ainda produzir obras verdadeiramente inovadoras (artisticamente, esteticamente).

Levando-se em conta o fato de que a nova geração tem uma relação estreita com a comunicação visual, via televisão, internet e mesmo cinema, a transposição desses recursos fílmicos de grande impacto e profundidade para o ambiente acadêmico depende quase que exclusivamente do aperfeiçoamento da metodologia e da conscientização dos educadores quanto a suas grandes potencialidades.

Que outro recurso permite ao educando um contato com tantas variedades de elementos comunicadores de idéias?

Os filmes provocam os espectadores de diferentes formas, não apenas com as imagens, mas também com recursos como os figurinos, a cenografia, a música, os sons, os efeitos visuais, a computação gráfica, a atuação dos atores, a condução dos diretores, o empenho dos técnicos e, finalmente, com a capacidade dos roteiristas em criar histórias envolventes.

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Walter Salles Jr. (Central do Brasil, Diários de Motocicleta) e Steven Spielberg
(Inteligência Artificial, A Lista de Schindler) são alguns dos cineastas que já figuram
entre os expoentes da Sétima Arte discutidos em exames vestibulares.

São muitos os profissionais envolvidos que estão pensando e realizando uma produção cinematográfica. Invariavelmente, quando temos por trás das câmeras especialistas que já compuseram obras criativas, diversificadas, instigantes e que, por esses motivos já geraram discussões, artigos, reflexões e acabaram sendo premiados, a possibilidade de estarmos diante de material rico e propício ao enriquecimento do debate acadêmico passa a existir e, deve ser considerada.

O cinema de alto nível, como aquele que está presente nas listas da Unitau e da UFBA, nos estimula a pensar e, ao mesmo tempo, nos permite aprender de forma lúdica, prazerosa. É justamente nesse ponto que os filmes se revestem de uma condição muito peculiar e especial enquanto recursos pedagógicos. Atraem os estudantes pela composição de meios que utilizam para traduzir suas mensagens e, ao mesmo tempo, permitem que eles se divirtam.

Aprender sem prazer é fórmula falida. A nova geração procura em aulas os elementos que reconhece como necessários a sua formação, mas já não admite que na escola não exista espaço para a interação, para a construção conjunta dos conhecimentos. Os estudantes não querem mais ser identificados como agentes passivos nessa relação. Eles demandam movimento, ação, prática, recursos elucidativos, metodologia dinâmica e inteligente que os coloque, literalmente, “na roda”.

Metrópolis-Cinema ParadisoCinema-paradiso
Clássicos do passado ou mais recentes como o alemão “Metrópolis”,
do diretor Fritz Lang, ou “Cinema Paradiso”, do italiano
Giuseppe Tornatore, podem ser referências futuras.

Dispor de ferramentas como filmes, músicas, livros, computadores, internet, jornais e revistas, ou ainda, integrar os conhecimentos teóricos com a produção artística ou artesanal faz com que os educandos se integrem e queiram participar e aprender. Não dá mais para imaginar que aulas regidas somente com a lousa, o giz e a saliva consigam atrair os estudantes.

Iniciativas como as da Universidade Federal da Bahia e da Universidade de Taubaté são importantes justamente por causa disso, ou seja, colocam os filmes na ordem do dia, estipulam para os mesmos uma relação de uso e valor na educação, pedem a outras instituições de ensino que olhem com muito mais atenção e carinho para esse poderoso arsenal de informações.

E o mais interessante é saber que há, ainda, um universo de possibilidades entre as produções cinematográficas já produzidas ou ainda por serem realizadas disponíveis para outros vestibulares e demandas educacionais.

Não podemos esquecer que ainda podemos incorporar as listas anteriores os nomes de cineastas imprescindíveis como Luís Buñuel, Luchinno Visconti, Akira Kurosawa, Stanley Kubrick, John Ford, Charles Chaplin, François Truffaut, Alfred Hitchcock, Hector Babenco, Sergei Eisenstein, Fritz Lang, Federico Fellini, Billy Wilder, Martin Scorsese e tantos outros, das mais variadas nacionalidades, representativos de culturas tão diversas quanto as ocidentais e orientais, com matizes político-ideológicas de diferentes colorações,...

Há filmes inesquecíveis que enfocam temas que nos são caros e imprescindíveis; obras como “O Carteiro e o Poeta”, “Tempos Modernos”, “O Pagador de Promessas”, “Ladrões de Bicicleta”, “O Leopardo”, “Metrópolis”, “Bye-Bye Brasil”, “2001, Uma Odisséia no Espaço”, “A Última Tentação de Cristo”, “A Vida é Bela”, “Spartacus”, “Casanova e a Revolução”, “Cinema Paradiso” e muitas mais podem fazer parte dos exames de outras instituições ou mesmo das próprias Unitau e Federal da Bahia.

O mais importante é constatar que a porta já foi aberta e que, daqui para frente, o mais provável é que outras instituições tomem o mesmo rumo e passem a adotar as listas de filmes sugeridos ao lado da relação de livros cobrados nos vestibulares.

O pioneirismo dessas universidades merece nosso respeito pela coragem e aplausos pelas possibilidades futuras que se abrem com o levantar dessas cortinas. A partir de agora é só lembrar de um famoso musical de Bob Fosse, “O Show deve continuar” ou ainda da produção de Cacá Diegues, “Dias melhores virão”...

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