Planeta Literatura
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Como não ser enganado nas eleições - 22/09/2004
Precisamos aprender com urgência

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“Ao votar, a primeira recomendação é ter calma. Eleição é assunto sério, o voto é um ato de cidadania importante e precisa ser muito bem pensado, analisado. Além do mais, votar não é apenas escolher um candidato, colocar o voto na urna e pronto, acabou. Quando você vota, escolhe alguém que, se eleito, deverá representar todos os seus eleitores”. (Herbert de Souza, o Betinho, no prefácio do livro “Como não ser enganado nas eleições).

Há certas histórias relacionadas aos períodos eleitorais no Brasil que parecem apenas parte do anedotário nacional. Casos como aqueles dos eleitores que trocavam botas por seus votos e que recebiam um dos pés desse calçado antes do voto e o outro depois de consumada a sua escolha (em prol do candidato que o havia corrompido), são muito mais do que simples piadas, são questões muito sérias, que merecem um cuidadoso exame e criteriosas formas de educar os eleitores para evitar que isso volte a acontecer.

O jornalista Gilberto Dimenstein teve a felicidade de pensar a respeito do tema e, há alguns anos atrás, reuniu algumas personalidades de destaque da área cultural para produzir um precioso livro destinado a estudantes. O título desse livro não podia ser mais direto e objetivo, trata-se da obra “Como não ser enganado nas eleições”, publicado pela Editora Ática, com o apoio do grupo Folha Educação e da Associação de Escolas Particulares.

Entre os colaboradores dessa publicação estão jornalistas e articulistas como Carlos Heitor Cony, Elio Gaspari e Boris Casoy, os sociólogos Bolívar Lamounier e Herbert de Souza (o Betinho, já falecido) ou ainda o publicitário Washington Olivetto, entre outros. Pelos nomes e pela repercussão dos trabalhos e obras de cada um deles (inclusive do próprio Dimenstein), dá para ter uma idéia da seriedade desse trabalho.

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“Você sabe que um candidato é mentiroso e tenta enganá-lo quando:- 1- Tem soluções para todos os problemas e, pior, tentar provar que há recursos e que é possível resolvê-los todos se for eleito; 2- Diz que vai realizar mais obras e prestar mais serviços (aumentar mais as despesas) e, ao mesmo tempo, afirma que vai reduzir os impostos, ou mesmo que não vai aumentá-los; 3- Gasta mais tempo em criticar os adversários e as propostas deles do que na defesa de suas próprias idéias”. (Ronald Kuntz, especialista em Marketing Político, em artigo constante do livro “Como não ser enganado nas eleições”; seu artigo tem 16 orientações sobre políticos mentirosos e informações importantes para o eleitor entender e analisar imagens e atitudes desses mesmos políticos).

Isso é inclusive muito importante para que tenhamos sempre em mente que eleição é assunto muito sério e que exige responsabilidade da parte de cada eleitor ao depositar seu voto na urna (ou, atualizando, ao clicar referendando o nome de um candidato ou de uma legenda política nas modernas urnas eletrônicas).

Outro dado muito importante refere-se ao fato do livro ter sido editado em 1994, portanto há dez anos atrás e, apesar dos avanços percebidos na área, continuar sendo um documento atualizado, que se presta a informar os novos eleitores dos meandros e desvios existentes na política brasileira.

Histórias como aquela contada no início desse artigo, em que nos referíamos a uma prática relacionada à República Velha, no tempo em que os Barões do Café controlavam o país, dentro do ciclo do Café com Leite, continuam ocorrendo. O pior de tudo é constatar que não são casos isolados e não se restringem apenas a pequenos municípios, de regiões isoladas, onde os índices de analfabetismo são altos. Também não estão limitados a bairros periféricos das grandes cidades, onde o desemprego e os baixos salários poderiam contribuir para que os eleitores se sentissem compelidos a barganhar o seu voto em troca de favores materiais.

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“Uma velha máxima diz que, na publicidade, não existe verdade: existe a imagem, a impressão da verdade, que pode muito bem ser uma mentira. Em outras palavras ‘não é o que você diz, é o que o outro entende’. Não é à toa que a política, área em que a verdade nunca foi prioritária, casou tão bem com a publicidade”. (Nelson Sá, jornalista e crítico de televisão, autor do texto “A Mentira e a Televisão”, constante do livro “Como não ser enganado nas eleições”).

Quantos de nós não sabemos de histórias de candidatos ou eleitores que se dispuseram a barganhar votos? Cestas básicas, material de construção, jogos de camisas para times de futebol, bolas, material escolar, remédios, cadeiras de rodas e até dentaduras fazem parte do que é oferecido e, infelizmente, aceito em períodos eleitorais.

Esses eleitores parecem não saber que o que lhes foi dado lhes será tirado posteriormente na forma de propinas, suborno, corrupção. Os custos desses benefícios são repostos para as contas desses políticos a partir do desvio das verbas do erário público ou ainda da contratação irregular de empresas para prestar serviços ou realizar obras no município, com a devida compensação desses “servidores” públicos com aumentos nos preços finais cobrados do governo (municipal, estadual ou federal).

E no final das contas, de quem sai esse pagamento adicional? Dos bolsos dos contribuintes... Aqueles mesmos que trocaram seu voto nesses políticos desonestos por telhas, cimento, camisetas, réguas, bolas ou dentaduras...

Há pouco tempo atrás escutei uma história que ilustra muito bem como esses hábitos perniciosos continuam freqüentes na história política brasileira. Segundo consta, um candidato a vereador resolveu se eleger buscando apoio na comunidade religiosa que freqüentava. Para tanto precisava do apoio dos líderes dessa igreja na comunidade onde morava e resolveu ir atrás desses religiosos. Ao aborda-los ficou sabendo que poderia ter todo o apoio se viesse a se empenhar na obtenção de material para a construção de um novo templo. Conseguiu esses recursos e se elegeu pela primeira vez.

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“Se todos nós votássemos com mais razões e menos emoção, procurando ver o que representam e quem são realmente os candidatos, o que eles fizeram e falaram no passado, certamente teríamos um Brasil melhor”. (Boris Casoy, é jornalista e apresentador de telejornal; escreveu o artigo “A arte de enganar” que faz parte do livro “Como não ser enganado nas eleições”).

Numa segunda oportunidade escutou dos pastores que se obtivesse os recursos necessários para o acabamento interno da igreja, os votos estariam novamente garantidos. Deu certo.

Nova eleição e lá foi o tal candidato atrás dos ministros de sua igreja. Dessa vez eles pediram uma Kombi. O candidato, já experimentado na política, deu o automóvel, mas só passou o documento em nome da comunidade depois de eleito... Moral da história? Só trocamos as botas, mas continuamos, literalmente, “pisando na bola”...

Não é apenas de casos de compra de votos que padecemos no Brasil. Ainda há verdadeiros currais eleitorais, onde os modernos “coronéis” definem os votos de seus comandados e cobram fidelidade, caso contrário, como na República Velha, podem ocorrer demissões, surras, mortes...

Mesmo com todas as oportunidades de obtenção de informações, continuamos sendo enganados por políticos populistas, daqueles que vão as ruas na época das eleições, entram em bares para comer pastel e tomar café com leite, abraçam os populares, pegam crianças pequenas no colo, visitam fábricas e falam de seu passado humilde, participam de quermesses e festas para fazer o povo senti-los como parceiros,...

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“O candidato aparece na televisão e diz: ‘Sou candidato, mas não sou político. Detesto política. Quero seu voto, mas prometo que não vou fazer política’. É um grande mentiroso que, curiosamente, tem por base um pequeno truque de palavras. O que esse tipo de candidato realmente faz é insinuar que existe uma fronteira nítida entre os políticos e os não-políticos. Ou entre os ‘bons’, os que praticam a ‘verdadeira’ política, a política com P maiúsculo, e os outros, a maioria, os maus, os politiqueiros”. (Bolívar Lamounier é um dos sociólogos mais respeitados de nosso país; escreveu o artigo “Uma grande mentira” que faz parte do livro “Como não ser enganado nas eleições”).

E as propostas de governo? E a coerência política (inexistente em um país como o nosso, onde ideologia é palavra de dicionário apenas)? E a fidelidade partidária (dizem que no Brasil os políticos trocam mais de partido do que de roupa)? Por que esses políticos não vão as ruas depois de eleitos? O que faz com que eles deixem de tomar café e comer pão com manteiga assim que acabam as disputas eleitorais? Onde eles se escondem quando precisamos cobrá-los quanto às promessas feitas durante a campanha?

Eleição ainda não é considerada pelo brasileiro como um ato de cidadania, que define não apenas vencedores e vencidos nos pleitos eleitorais, mas o futuro de uma cidade, estado ou mesmo de todo o país. Somos vítimas de nossa desinformação, da péssima distribuição de renda, do analfabetismo, da fome ou das doenças que afetam nossa condição física e emocional. Se não votarmos conscientemente, dificilmente escaparemos desse círculo vicioso que nos lega tantos problemas quanto os mencionados.

Temos que conscientizar as parcelas menos favorecidas da importância do voto. Devemos informar as novas gerações quanto ao compromisso com o futuro percebido num pleito eleitoral. Necessitamos disso pelo futuro do país e de cada um de nós. Realizações como o livro “Como não ser enganado nas eleições” são contribuições importantes para efetivar essa transformação. Cabe a nós professores e formadores de opinião, efetivamente colocar em prática esses e outros ensinamentos...

Obs.: As imagens disponíveis nesse artigo constam do livro “Como não ser enganado nas eleições”. As charges são de autoria do cartunista Glauco e as fotos contam com a participação especialíssima do ator, comentarista e diretor teatral Cacá Rosset.

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7 COMENTÁRIOS

1 LUIZ GUSTAVO - DIVINOPOLIS
o POVO SÓ VAI APRENDER A VOTAR QUANDO APRENDER QUE ELEIÇOES NÃO É UM CAMPIONATO DE FUTEBOL. E QUE LUGAR PRAR TORCER E SER FIEL A UM TIME INDEPENDENTE SE ELE BOM OU RUIM É NO ESTADIO E NÃO NA POLITICA...COMO O BRASIL VAI MUDAR SE VC JÁ SABE EM QUEM VOTAR E TORCER PRA UM PARTIDO PRO RESTO DA SUA VIDA..COMO SE FOSSE SEU TIME DE FUTEBOL DO CORAÇAO QUE MESMO COM DECEPÇOES NÃO IA PARAR DE TORCER POR ELE..NUNCA VI O TANTO DE GENTE QUE FICAM TRISTE QUANDO SEU CANDIDATO VAI PRESO OU É EXPULSO DA POLITICA NÃO POR TER ROUBADO E SIM POR TER SEU TIME DESCLACIFICADO DO CAMPIONATO.
14/12/2012 22:30:24


2 Bruno Morais - Palmácia Ce
Achei o texto bastante interessante. Na minha cidade são três candidatos a prefeito, Zé da Budega PPL54, Claudio do Depósito PT13, candidato a reeleição e Alexandre Desidério PSB40. A disputa está mais acirrada com os dois primeiros citados, está sendo uma política muito dificil pois o candidato Zé da Budega tem a ficha suja e seu vice Dr. Fernando tem ofendido bastante a boa parte dos eleitores de Palmácia. Da primeira vez chamou alunos da escola MAPS de burros denegrindo a imagem dos professores e da escola, E outras sujeiras tbm que não gosto nem de falar..
01/10/2012 00:36:53


3 fatima augusta santos da silva - Apucarana
Texto maravilhoso, claro e de fácil entendimento para um eleitor comum.
23/04/2012 21:08:01


4 angelica carvalho de souza - santa cruz do sul
achei muito legal pois subi de coisas que nem imaginava que tinha acontecido.adoro as calegrafia que eles botam junto nos texto.
08/12/2010 08:11:34


5 Porfirio Marinho Balieiro Filho - São Paulo
Recentemente o Gilberto declarou no rádio que: A eleição do Alckimin foi ótima para a educação, eu fico me perguntando qual a intenção de um sujeito ao afirmar uma coisa destas, visto que eu particularmente conheço dezenas e dezenas de jovens recém saídos do primeiro e segundo graus que não sabem LER SIC, O Dimenstein sabe disso, e no entanto , qual será a intenção dele com tal afirmação, será que ele pensa que as pessoas são idiotas ou imbecís? Jornalista?Educador?bem se vê o motivo deste país estar nesta situação . Porfirio
07/10/2010 10:44:54


6 Bianca Harumi Yamamoto Hasegawa - Belo Horizonte
Este livro traz até nós leitores, um assunto sério e polêmico, de uma maneira objetiva e inclusive divertida. E mesmo tendo sido publicado a mais de dez anos, ainda, infelizmente, se torna atual para as condições do nosso país, que ainda não mudou sua postura, quando é hora de exercer sua cidadania.
22/08/2008 08:59:13


7 monica maciel - olinda
muito ascessivel a linguagem utilizada, e os textos de suporte interessantissimos. Pena que o periodo eleitoral nos tras armadilhas novas acada ano.
11/05/2007 19:09:02


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