Educar, um ato de amor profundo - 25/11/2016
João Luís de Almeida Machado
Sempre acreditei que educar é um ato de amor profundo, ainda que realizado por profissionais que atuam nas escolas. Há, é certo, todo o respaldo do estudo e da formação que permitem aos educadores realizar seu trabalho, seja na sala de aula, na gestão das escolas, quando escrevem livros didáticos ou mesmo fora do trabalho, em contextos externos, nos quais continuam a professorar de algum modo.
Todo ato de amor profundo, no entanto, infere não apenas os momentos mais doces e ternos. Há as dores e os espinhos. Em educação não é diferente. Não há atalhos, por exemplo, para se atingir a plena formação, aquela que de fato garante ao educando a compreensão dos conhecimentos almejados quando matriculado ou inscrito em um curso, seja ele qual for, nos ciclos regulares em que todos devem participar até os livres, escolhidos por interesse pessoal.
E há que se dosar, da forma mais equilibrada possível aquilo que é alegria e o que é sacrifício, labor mais pesado, que por vezes acaba afastando o educando do interesse e curiosidade que seus mestres precisam lhes incutir para perseverar nos caminhos das ciências, letras, artes, cálculos, humanidades e todos os saberes que a vida pode lhes proporcionar.
A sabedoria dos mestres deve fazer com que os educandos subam um após o outro os degraus do conhecimento. Isso mesmo, há degraus e eles foram e continuam sendo estrategicamente posicionados ao longo do caminho daqueles que se atrevem a aprender para que o façam sem que a complexidade maior lhes faça desanimar ou desistir. É como a construção da casa tão sonhada, ou seja, não dá para começar pelo telhado. É preciso iniciar com a fundação, a preparação do terreno, as ferragens que irão dar sustentação para as paredes e por aí vai.
Educação é construção que acompanha cada um de nós por toda a vida. Aprendemos sempre. Os maiores mestres são aqueles que reconhecem e praticam isso. Seus ensinamentos são, ao mesmo tempo, oportunidades para aprender mais, no contato com seus alunos e com tudo que os cerca. Parece simples, mas o mestre há que se revestir de uma postura que lhe permita, ao mesmo tempo, a propriedade daquilo que já conhece para que compartilhe e, também, a humildade para que saiba escutar e aprender sempre.
Quando falamos em pedras que serão encontradas ao longo da educação temos que pensar nas dificuldades e fazer com que delas surjam oportunidades para um maior crescimento. Neste sentido compete ao educador estar atento e ter pleno conhecimento de seus alunos. Esta atenção e conhecimento permitirão que ele auxilie nos momentos cruciais, trazendo respostas ou sugestões quanto as dúvidas ou dificuldades ou, ainda, o que é deveras importante, reforçando as qualidades percebidas em seus pupilos.
Alunos que têm dificuldades quanto a leitura, por exemplo, tendo em vista a falta de pré-requisitos ou mesmo de incentivo à leitura em etapas anteriores de sua formação, na escola ou em casa, precisam de reforço e mais leitura. Isso, no entanto, não deve ocorrer apenas por mera imposição. A leitura é um grande prazer e isso tem que ser trabalhado juntamente aos alunos. Rodas de leitura, contação de histórias, dramatizações, musicalização e outras estratégias devem ser usadas para que o aluno se interesse e se aproxime dos livros.
Se a dificuldade é em matemática, que tal contextualizar os números? A significância ou insignificância de um saber para uma criança ou adolescente se estabelece muitas vezes pela percepção ou clareza do quanto aquilo está próximo dela. Os cálculos são abstrações que transformados em situações do cotidiano passam a falar mais alto para os alunos. Do mesmo modo como ao se ensinar história, geografia, ciências ou qual matéria tivermos em mãos, o resultado se tornará melhor e mais efetivo quanto a aprendizagem se os alunos perceberem números, fatos, acidentes geográficos e tudo o mais como parte do seu dia a dia.
Se há as dores, há os bons sabores e, neste sentido, é primordial fazer com que a educação caminhe de braços dados com a arte e a cultura em geral. As salas de aula têm que ser espaços que compactuem com o que lhes é oferecido em museus, exposições, shows, cinemas, parques... As crianças precisam aprender com música, ter por perto telas de grandes artistas, ouvir pelo menos uma vez por dia uma crônica ou uma poesia, admirar a natureza ao vivo ou por meio de livros e internet para saber o que é um mico leão dourado ou uma azaléia...
Educar é uma arte e o professor precisa trazer artistas para que, junto com ele, aprender seja muito mais saboroso e divertido.
Educação sisuda, baseada em regras comportamentais que nos encaixotam, ou seja, que não nos permitem o movimento, a ação, a dúvida, a curiosidade, a troca e outras ações fundamentais não liberta, pelo contrário, encarcera.
Não significa que a anarquia deva prevalecer. Há ordem e regras, é claro, mas o mundo não precisa ser cinza se há tantas cores disponíveis no mundo para alegrar a todos. O educador se sente pleno quando percebe que ao final de seu encontro com os educandos, quando as luzes se apagam e o ano letivo se encerra, o resultado é muito mais que a aprovação, se revelando porque os alunos cresceram mesmo, aprenderam de fato e, acima de tudo, mesmo com as dificuldades e sacrifícios, apreciaram toda a trajetória até o momento final.
Afinal de contas, resultados são importantes, mas o que vivemos quando nos mobilizamos para atingir tais objetivos e metas é o que, realmente, torna a vida tão bela e, neste sentido, em educação, todo o processo é o que realmente configura o ato de amor profundo dos educadores em relação a seus alunos.
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