Os resultados do ENEM 2015 e a infindável crise da educação brasileira - 11/10/2016
João Luís de Almeida Machado
Os resultados do ENEM 2015 publicados no início de outubro de 2016 pelo MEC após a finalização da tabulação de dados e exame minucioso das informações obtidas pelo INEP ratificam o que todo mundo já sabe quanto a educação brasileira, ou seja, demonstra que estamos muito aquém do que almejamos e que, isso se verifica com maior ênfase na educação pública, infelizmente.
Entre as 100 melhores escolas de ensino médio do país há apenas 3 instituições públicas, todas elas federais, vinculadas a universidades. As demais 97 são particulares, com destaque para as escolas do estado de São Paulo, que representam 30% desta lista que ratifica a excelência educacional em termos de Brasil.
As notas médias das diferentes áreas do conhecimento avaliadas pelo ENEM, no comparativo com os resultados obtidos na avaliação realizada em 2014 baixaram em todas as áreas, exceto em Ciências Humanas. Isso pode ter sido motivado por 2 razões principais: queda na qualidade de ensino entre os anos de 2014 e 2015 ou, ainda, que a prova do ENEM em 2015 tenha sido mais difícil que aquela aplicada no ano anterior.
Os dois motivos combinados, provavelmente, a se comprovar com mais pesquisas, devem ter comprometido o rendimento dos alunos nas provas de Redação, Matemática, Ciências da Natureza e Linguagens e Códigos.
O certo, ao se avaliarem os dados disponibilizados pelo MEC/INEP é que a educação nacional está no limbo, ou seja, que a formação oferecida em nossas escolas não atende à demanda não apenas dos mercados, mas, principalmente as necessidades da vida humana.
Quando não educamos de forma consistente as repercussões para a sociedade são grandes demais para serem desprezadas. Podemos notar isso em nosso cotidiano, nos jornais, pela internet, no contato com as pessoas, nas diferentes situações de nossa existência.
Nossas cidades passam a sofrer com a violência, profissionais despreparados, sujeira, doenças, desrespeito às leis, impunidade, analfabetismo estrutural, falta de ética, corrupção, agressividade e tantos outros aspectos exteriores que apenas reiteram o quanto a educação de baixa qualidade oferecida nas escolas brasileiras oferece a população repercute para todos.
É claro que não é só isso. O país precisa de educação e de muitas outras reformas de base. A começar pela política, passando pela fiscal e pela previdenciária e repercutindo na saúde e na infraestrutura, caso contrário continuaremos amargando quedas do PIB, desemprego, inflação, violência e outros problemas sérios.
Os dados trazidos à tona pelo INEP com os resultados do ENEM 2015 não somente demonstram que o brasileiro em formação, na adolescência, migrando para a idade adulta, escreve mal, lê pouco, tem rendimento pífio em matemática e ciências, entende pouco de humanidades (com viés excessivamente ideológico, sem que lhe permitam autonomia em suas escolhas e opções), como também demonstram o atraso civilizacional do Brasil.
Na mesma semana em que se divulgam estas informações quanto a educação brasileira estão sendo trazidos a público os vencedores do Nobel 2016. Cientistas, pesquisadores, políticos e escritores são premiados por pesquisas, obras notáveis, ações que repercutem socialmente e, para variar, o Brasil não está entre os premiados. O Nobel nunca foi concedido a brasileiros. Os argentinos já ganharam 5 vezes, os chilenos 2 vezes, os portugueses também levaram 2 vezes o prêmio, representantes da África do Sul já faturaram o Nobel em 10 oportunidades, isso somente para mencionar países vizinhos ou com nível de desenvolvimento próximo ao brasileiro. Os norte-americanos, por exemplo, já ganharam mais de 300 prêmios por suas contribuições a ciência, a paz e a literatura.
Isso não ocorre por acaso. É algo que se planta e se consolida a partir de uma cultura de estímulo a educação, a cultura, a pesquisa e a ciência desde a infância e não apenas quando nossos jovens chegam as universidades. É preciso mudar essa história. O Brasil precisa consolidar práticas educativas consistentes, que não dependam de partidos, que não sejam apresentadas como soluções mágicas, em que não se enganem os cidadãos com promessas de melhorias a curto prazo. Educação precisa de currículo apropriado, práticas regulares pesquisa, estímulo a ciência, muita leitura, muita produção textual, ética e cidadania, comprometimento e qualidade dos professores, condições adequadas e formação sólida para os docentes e demais trabalhadores da educação, ações em parceria com a sociedade e as universidades...
Há muito a ser feito para que possamos ter escolas públicas de qualidade no país e deixar para trás ações que são paliativos, como as cotas, por exemplo, a tentar suprir as deficiências educacionais. Não podemos depender para sempre de remédios que não curem o doente, usados apenas para apaziguar sua dor e sofrimento, como neste caso.
Definir metas. Criar projetos. Estipular resultados a serem obtidos. Engajar os professores com benefícios associados a um melhor desempenho de seus alunos. Métricas que permitam aos professores entender o que estão fazendo, como podem melhorar. Coaching por parte de professores experientes que atingem bons resultados com suas turmas. Projetos de cultura e esporte associados a educação. Metodologia científica desde o ensino básico. Graduação em pedagogia e licenciaturas atualizada de acordo com o que o mundo de hoje exige e proporciona de melhor para quem vai educar...
Há muito o que pode ser feito, no entanto, além das políticas a serem implementadas, é preciso que a sociedade exija, se faça presente, busque uma melhor educação para seus filhos, caso contrário não sairemos do lugar. A responsabilidade não é somente de educadores, políticos e envolvidos diretos com a gestão das escolas e redes, mas de toda a sociedade. As repercussões dos problemas atingem a todos. As soluções, igualmente, tendem a atingir a todos e é isso que temos que ter em mente se queremos um país com mais progresso, trabalho, oportunidades, saúde, segurança, ética...
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