Diário de Classe
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Avaliações em forma de entrevistas das “páginas amarelas” - 10/09/2004
Coluna Diário de Classe

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As páginas amarelas da revista Veja se tornaram célebres nacionalmente
em virtude das importantes reportagens que semanalmente preenchem seu espaço.

Como etapa de avaliação continuada dos estudos de História da Gastronomia, no curso de Tecnólogo de Gastronomia, ministrado na Faculdade Senac de Campos do Jordão, destacando o tema “História da Alimentação na Pré-História”, aplicamos uma metodologia diferenciada que pudemos identificar como avaliação “páginas amarelas”.

O termo “páginas amarelas” foi utilizado tendo como referência uma das seções (editada em páginas amarelas com o propósito de destacar aquele conteúdo específico do semanário) da revista de informação semanal Veja, publicada pela Editora Abril, onde a cada edição são apresentadas entrevistas com personalidades relevantes de diversas áreas de atuação, como educadores, políticos, artistas, cineastas, psicólogos, escritores,...

De acordo com a proposta apresentada os estudantes teriam que, tendo como referência um dos textos selecionados pelo professor para o estudo da alimentação na Pré-História*, criar uma entrevista que teria sido feita com o autor do livro.

Nesse caso os estudantes, reunidos em duplas, teriam que formular questões coerentes com as idéias e conceitos apresentados nos textos destinados a cada grupo (os estudantes foram divididos em 3 grupos de alunos, por números, cabendo a cada um desses o trabalho com um determinado texto; posteriormente foram divididos em duplas a partir desses grupos maiores) e, ao mesmo tempo, preocupar-se em respondê-las.

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Estudar antecipadamente, lendo com atenção os textos trabalhados
em sala de aula e destacando idéias e conceitos importantes destacados
nas explicações é fundamental mesmo em provas com consulta e em grupos.

Ao optar pelo trabalho em duplas, a intenção era fazer com que fosse estimulada uma breve discussão acerca de quais idéias principais deveriam constar na entrevista/avaliação e que o próprio processo de confecção pudesse ser discutido.

Para tanto teriam a possibilidade de consultar o texto, portanto a avaliação seria com consulta dos materiais discutidos e analisados previamente em sala de aula.

Ao ficarem sabendo desses pormenores, os alunos imaginaram estar diante de uma prova em que se sairiam muito bem, na qual teriam pouquíssimas dificuldades. Alguns deles chegaram mesmo a comentar que seria muito fácil tirar uma boa nota nessa avaliação, afinal de contas, não é toda hora que se tem a chance de trabalhar em dupla e, ainda por cima, com o texto estudado a mão para consultas adicionais.

É lógico que isso acaba sendo ilusório se o estudante não tiver lido os textos, prestado atenção às aulas ou ainda se o seu parceiro na dupla não estiver bem preparado. Comemorar antecipadamente não foi, decididamente uma boa opção.

Como observação preliminar foi estipulado que há diferenças sensíveis entre a linguagem escrita e a linguagem oral. Isso foi feito para que os estudantes percebessem que não seria possível copiar trechos dos textos estudados. Outro importante ponto destacado em relação à atividade foi que eles deveriam produzir cinco perguntas e respostas priorizando apenas os principais conceitos desenvolvidos nos textos trabalhados.

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A diferença entre a linguagem escrita e a oral refere-se principalmente aos maiores
cuidados que temos quando nos propomos a escrever. Transferindo do universo coloquial
em que utilizamos as palavras e expressões no cotidiano (e mais especificamente na forma oral)
para o papel, especialmente dentro do ambiente escolar, temos que nos preocupar
ainda mais com a gramática, o vocabulário e a coerência das idéias.

Nesse ponto reside uma das dificuldades que só poderiam ser solucionadas se os alunos tivessem se preparado previamente. Como saber quais as idéias principais sem ter atentado as explicações e demonstrações de aula? Como encontrá-las ao longo do texto se o mesmo não tivesse sido lido com zelo anteriormente?

Com essas medidas tínhamos a intenção de mostrar para os alunos que a leitura preliminar atenta, como um estudo de aprofundamento, seria imprescindível para que eles pudessem discernir quais eram os conceitos principais (mesmo por que eles tinham apenas 50 minutos para realizar tal proposta).

A questão da linguagem oral e escrita também foi levantada tendo como objetivo esclarecer que, a despeito das marcantes diferenças entre uma e outra, ao dar uma entrevista, um especialista procuraria se apresentar através de seus depoimentos de forma clara, conclusiva e esclarecedora. Ainda mais se tendo em vista tratar-se o veículo de divulgação de suas idéias uma publicação destinada a públicos mais amplos e menos especializados.

Muitos alunos tiveram dificuldade e levaram praticamente todo o tempo disponibilizado para concluir o trabalho (alguns utilizaram os minutos do intervalo para fechar sua produção). A maior parte dos estudantes comentou, depois da aplicação da avaliação, que as dificuldades maiores relacionaram-se a elaboração das questões e também a transposição dos raciocínios desenvolvidos pelos autores da linguagem escrita para a oral.

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Superar os modelos tradicionais de avaliação é um dos maiores desafios da educação.
Não há fórmulas exatas e absolutas para renovar, o mais importante é a criatividade
dos professores e a atenção as diversas idéias que podem surgir a partir do dia a dia.

Ao utilizar como referência para a avaliação dos estudantes uma conhecida publicação e uma de suas seções referenciais, o propósito da atividade era motivar os alunos a repensar as informações, debater e selecionar conceitos, transformar as palavras utilizadas pelos estudiosos em discurso inteligível a seus próprios ouvidos e, para finalizar, referendar idéias apresentadas em sala de aula.

Ao avaliar a participação dos alunos posteriormente, pude perceber que as perguntas careciam de maior aprofundamento e de melhor elaboração. Muitos tiveram dificuldades na adaptação das idéias principais contidas nos estudos utilizados para os termos mais apropriados para uma entrevista. O melhor resultado se deu na seleção dos conceitos e idéias principais, onde a maioria dos grupos conseguiu escolher os tópicos mais condizentes discutidos em aula.

Apesar de ter utilizado essa estratégia numa avaliação para alunos de 3º grau (ou seja, nível universitário), acredito que ela também possa ser facilmente adaptável para alunos de Ensino Médio ou mesmo para as turmas de 7ª ou 8ª séries do Ensino Fundamental.

Vale lembrar que para alunos mais novos, como aqueles que freqüentam as séries iniciais do fundamental, da 1ª a 6ª séries, o ideal é que a adaptação seja feita tendo como referência outras publicações, mais apropriadas para cada faixa etária e, também por esse motivo, conhecidas entre garotos e garotas dessas séries (uma sugestão seria a utilização de seções das revistas Superinteressante ou Recreio). Por que não tentar algumas adaptações? O único limite é a nossa própria criatividade!

* Textos extraídos dos livros “Sal – Uma história do mundo”, de Mark Kurlansky, publicado pela Editora Senac-SP, “Seis mil anos de pão”, de Heinrich Eduard Jacob, publicado pela Editora Nova Alexandria e “História da Alimentação”, organizado por Montanari e Flandrin, da Editora Estação Liberdade.

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