Educação e Tecnologia: Novos números e considerações necessárias - 21/09/2016
João Luís de Almeida Machado
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Pesquisa com números sobre o acesso à internet na América Latina e considerações trazidas à tona a partir de depoimentos de especialistas em educação e tecnologia trazidas a público nos últimos dias nos levam a importantes reflexões quanto ao uso destes recursos nas escolas brasileiras e, mesmo, em todo o mundo.
A pesquisa “O Estado da Banda Larga em 2016 na América Latina e no Caribe”, produzido pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) somente confirma aquilo que todos já sabemos: O mundo pode até vivenciar, em alguns momentos ou contextos, crises de diferente magnitude, a afetar a economia de países ou regiões inteiras, mas os índices de acesso à internet crescem mesmo dentro de cenários inóspitos e difíceis como aqueles pelos quais passam tais localidades.
Na América Latina e no Caribe não é diferente, ou seja, os indicadores são claros quanto a expansão no uso destas redes e de suas tecnologias de aporte, como podemos confirmar analisando alguns números divulgados no levantamento que trazemos a seguir:
- 54,5% dos habitantes da América Latina e Caribe usaram a internet em 2015; este número é 20% maior do que aquele registrado em 2010.
- Foi registrado um crescimento de 10,6% ao ano entre 2010 e 2015 em relação aos usuários de internet na região.
- A quantidade de residências conectadas a internet nos países da América Latina e Caribe subiu, em média, 14,1% entre 2010 e 2015, dobrando neste período e atingindo a marca de 43,4% de lares ligados na web.
- Somente 3 países tem alcance superior a 60% dos lares, a saber: Uruguai, Chile e Costa Rica. O Brasil ficou no segundo bloco, formado por países em que entre 45 e 59% dos lares está conectado à internet.
- O que mais cresceu no período foi, no entanto, o acesso a internet, por meio de banda larga, em dispositivos móveis, atingindo 58% da população da América Latina e Caribe. Em 2010 o percentual era de apenas 7% da população.
- O Brasil é o segundo país com maior alcance de população por meio de dispositivos móveis, com 88,6% das pessoas conectadas, abaixo apenas da Costa Rica, que atinge 92,5% de sua população.
- O Brasil é o segundo país com maior alcance de população por meio de dispositivos móveis, com 88,6% das pessoas conectadas, abaixo apenas da Costa Rica, que atinge 92,5% de sua população.
- O custo para acessar banda larga fixa nos países da região caiu, em média, de 18% da renda mensal em 2010, para 2% dos rendimentos auferidos.
No que se refere ao mais imediato, vale destacar não apenas o crescimento do acesso à internet banda larga na região, mas atentar para o mais que expressivo crescimento do acesso à web por meio de dispositivos móveis, em especial no caso do Brasil e a redução dos custos de utilização de banda larga em todos os países, com queda acentuada no comparativo com a renda mensal média da população de toda essa extensa faixa de países.
Há mais e mais pessoas conectadas na web todos os dias. Esse é o fato. Não tão novo, é certo, mas muito expressivo pois revela que é preciso ação consciente e imediata das escolas quanto ao uso correto, ético, inteligente e construtivo destas ferramentas e informações. Estamos fazendo isso de forma planejada, ponderada e crítica nas salas de aula brasileiras?
Não é isso o que vemos, exceto em ações isoladas, é claro. Experimentais ou pilotos, estas iniciativas têm que ser replicadas e ampliadas para bases cada vez maiores, caso contrário o risco de termos gerações de pessoas que usam tais recursos sem explorar suas melhores potencialidades e fora dos limites éticos, legais e cidadãos que a sociedade como um todo preconiza há de imperar.
Neste sentido busco apoio em depoimentos trazidos recentemente à tona por especialistas em educação e tecnologia. Em depoimentos dados a importante jornal publicado em São Paulo, o cientista social Sílvio Fiscarelli, da Unesp, destaca que, apesar de muitas pessoas ainda acreditarem que a tecnologia, por si só irá modificar o painel da educação no Brasil e no mundo, tais recursos, de acordo com suas palavras, são “aliados” nesta luta. No entanto, ele ressalta que sozinha, a tecnologia “não vai solucionar todos os problemas”.
Fiscarelli conduziu pesquisas quanto a melhoria de rendimento de alunos de escola pública que utilizaram recursos digitais em seus projetos no comparativo com outros estudantes que não tiveram tais ferramentas a mão. O rendimento de quem usou simulações, jogos e outros recursos digitais foi 24% maior que o de seus pares não conectados. Alunos com notas baixas que contaram com o apoio de computadores e internet viram suas notas aumentar, em média, em 46%.
Fiscarelli, no entanto, destaca que estas ações enriquecidas pelo uso das tecnologias e acesso à internet, somente deram certo porque “os estudantes seguiram um roteiro planejado por um conjunto de professores da escola e entregaram registros das atividades por escrito".
Não há caminho de volta quanto ao uso de tecnologias e redes computacionais, no entanto, tudo tem que ser minuciosamente planejado e, ao mesmo tempo, orientado, coordenado, acompanhado de perto pelos educadores, que por conta de seu preparo e inteligência pedagógica não seriam apenas tutores ou monitores deste processo, mas, essencialmente os maestros com as batutas em suas mãos a conduzir com paixão e comprometimento suas orquestras.
Nesse sentido vale destacar o que a diretora do Instituto Inspirare, ONG que atua na área de inovação educacional, quando afirma que "é necessário ter clareza dos objetivos que a tecnologia vai ajudar a alcançar".
Sem isso, o crescimento das redes, a melhoria da tecnologia existente, o barateamento de custos de acesso a equipamentos e serviços, a democratização do acesso à internet, a multiplicação de sites e aplicativos, enfim, tudo o que se oferece hoje, não terá o uso que se espera e que nos permita uma sociedade mais justa, ética, cidadã, produtiva, plena e feliz.
# “Aprender é muito divertido e jogar é aprender”
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