Ideologia e partidarismos na escola: Como proceder? - 25/08/2016
João Luís de Almeida Machado
"Tenho meus posicionamentos políticos, ideológicos e até opção partidária clara. Na sala de aula, como devo proceder quanto a isso em relação a meus alunos?"
A pergunta, enviada por um jovem professor, iniciando suas ações na escola, não é feita regularmente pelos profissionais da educação. A sala de aula, espaço privado em escolas públicas ou particulares, ainda que deva ter foco no conteúdo a ser ensinado, conforme previsto nos planejamentos e currículos estipulados para cada segmento da educação básica, tornou-se, em especial entre alunos do Ensino Médio, local onde se propagam bandeiras, colorações, partidarismos, preferências políticas e ideologias.
Escola sem partido, preferências, opções, ideologias é algo tão utópico quanto pensarmos toda a sociedade politicamente neutra ou a ciência sem vinculações a interesses, pessoas, grupos, pensamentos...
O problema é que, “Fazer a cabeça”, para muitos professores, infelizmente, passou a ser a regra. A política não é apresentada quanto a sua história, variáveis, linhas de pensamento, ideologias, partidos e bandeiras na sua multiplicidade, os olhares são direcionados, o papel da escola de permitir uma ampla visão do mundo, neste sentido, deixa de acontecer.
Quando estive na faculdade, no último ano da graduação no curso de história, tive 2 professores que ao entrarem para o primeiro dia de aula, tiveram posições diferentes ao se apresentarem para o grupo de alunos: o primeiro disse que não iria fazer a cabeça de ninguém, que iria trabalhar de forma neutra; o segundo foi explícito ao admitir que em seu trabalho iria acabar trazendo influências ao grupo ou ao menos a algumas pessoas.
No decorrer do curso, o primeiro tentou a todo custo, apesar do discurso ser o da neutralidade, fazer com que empunhássemos bandeiras partidárias. O segundo deixou seu curso transcorrer naturalmente, expôs diferentes pensamentos políticos ao longo dos temas que tinha a trabalhar conosco e em nenhum momento trabalhou no sentido de realmente “fazer a cabeça” de alguém. Tinha seus posicionamentos e sabia que isso iria de algum modo influenciar o grupo ou parte dele, mas trabalhou de forma honesta, respeitando a si mesmo e ao espaço alheio, de seus alunos.
Que os professores influenciam seus alunos não há dúvidas. O que não pode ocorrer é militância na sala de aula. O respeito a opinião alheia é importante e, enquanto profissionais da educação, o que se espera é que as diferentes tonalidades que existem na política sejam apresentadas, discutidas quanto a seus prós e contras (no que já acontecerá uma natural orientação do professor quanto as suas preferências, o que não pode ficar claro, evidenciado ou propagandeado) para que os alunos possam, por livre e espontânea escolha, decidir se preferem o partido A, B ou C, se querem ser de esquerda, direita, centro, se apoiam tal ou qual causa...
Os cursos de humanidades, em particular, como história, filosofia, sociologia e geografia, que têm maior vinculação com as questões políticas e sociais, nas formações realizadas em universidades de todo o Brasil, contam com formação num viés marxista. A leitura de mundo se dá com base em obras que analisam o mundo partindo de conceitos essenciais da obra de Karl Marx, como a Luta de Classes, a Mais-Valia, o Materialismo Histórico, a Dialética, o Imperialismo, entre outros.
Há, certamente, valor e ciência nesta linha de interpretação e análise da sociedade e do mundo, mas é preciso atualizar os conhecimentos, reler o próprio Marx de acordo com as mudanças que o mundo teve ao longo das últimas décadas, em especial após a Queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética.
Além disso, é preciso conhecer as demais linhas de pensamento, tornando assim, as análises, mais ricas e capazes de oferecer soluções diferenciadas das fórmulas previamente aviadas pelo marxismo. A esquerda precisa se atualizar e, para isso, precisa entender como pensam os demais segmentos políticos, verificar as experiências que ocorrem em outros países e regiões do mundo. Não estou dizendo com isso que os professores devam abandonar seus ideais, sua ideologia, em absoluto, o que penso é que é preciso estudar, analisar e compreender as outras vertentes e linhas de pensamento.
Em especial para que na sala de aula não fique evidenciada ação de cunho partidário, ideológico, na qual o professor desrespeita o direito básico de escolha do aluno ao lhe imputar, pela força de sua posição, maior experiência e até mesmo pelo respeito e admiração que gera entre seus alunos.
Se o aluno opta por linhas diferentes de pensamento temos que pensar nisso como algo positivo, pois a sociedade democrática baseia-se no pluralismo, numa ampla biodiversidade em que temos partidos azuis, vermelhos, verdes e de todas as cores e tonalidades.
A pobreza de uma sociedade democrática é aquela em que impera o discurso uníssono, em que discordâncias e opiniões diferentes não são respeitadas, na qual o direito de livre expressão das ideias é cerceado e a imprensa controlada. Na sala de aula não pode ser diferente, ou seja, oferecer a informação ampla deve ser a regra, para que o aluno possa escolher livremente o que representa a sua leitura de mundo.
O que se quer evitar, com isso, é a sociedade controlada por um estado rígido, marcial, frio e imparcial, onde as pessoas sejam apenas números, meros produtores de bens e riquezas, para suprir as demandas de governos autoritários travestidos de pais severos a controlar seus filhos pelo seu próprio bem. George Orwell, em "1984", já falava sobre isso...
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