30/8/2004 - O que aprendemos em Atenas - 30/08/2004
Dez importantes lições das Olimpíadas
Dezessete dias de esporte que envolveram o mundo numa grande e fraterna corrente. Período durante o qual os competidores foram ao limite de suas forças para subir ao pódio ou, ao menos, representar com dignidade as cores de seus países. Durantes as Olimpíadas de Atenas víamos atletas de várias nacionalidades disputarem palmo a palmo cada metro de corrida ou natação, golpe a golpe cada momento das lutas, ponto a ponto cada vibrante instante dos esportes coletivos...
Novos heróis surgiram, algumas decepções aconteceram. Vitórias e derrotas levaram esportistas e torcedores ao êxtase e as lágrimas. E o que restou de tudo isso ao final de mais uma celebração mundial dos esportes para nós brasileiros? Que tal refletir um pouco a respeito de tudo isso? Pensamos em dez motivos para relembrar e aprender um pouco com os Jogos organizados por seus mentores originais. Vejam o que foi destaque para nós:
1- Semeando para o futuro. A natação brasileira não trouxe medalhas, mas conseguiu resultados expressivos com uma nova geração que promete saldos ainda mais lucrativos para o próximo encontro em Pequim, 2008. Foi a competição olímpica em que conseguimos classificar o maior número de atletas para finais nas piscinas. As meninas da natação lideradas pela jovem Joanna Maranhão (17 anos) voltaram as finais depois de mais de 50 anos.
Joanna Maranhão e Thiago Pereira são as promessas da natação que podem brilhar em Pequim 2008.
Em Atenas eles levaram o Brasil as finais da natação.
2- Nunca o Brasil teve representatividade no cenário mundial em termos de Ginástica Artística. Nos últimos anos, com treinadores importados do leste europeu (berço da magnífica Nádia Comaneci, a maior ginasta de todos os tempos) e um sério investimento num centro de treinamentos, vimos surgir Daiane dos Santos, Danielle Hypólito e Camila Comin. Não conseguimos a tão sonhada medalha, mas ganhamos respeito e credibilidade. Os Twists Carpado e Esticado de Daiane viraram referência mundial. Quem sabe em Pequim possamos subir ao pódio...
3- Torben Grael se tornou o atleta mais premiado do iatismo em Olimpíadas (2 medalhas de ouro, 1 de prata e 2 de bronze), Robert Scheidt é o maior vencedor da classe Laser em Olimpíadas e campeonatos mundiais, Marcelo Ferreira chegou a sonhada 3ª medalha olímpica. O iatismo é o esporte que mais glórias trouxe ao Brasil em Olimpíadas. Pena que faltou melhor planejamento para o atleta da classe Mistral também ganhar uma medalha...
4- Futebol também é esporte para as mulheres. A bola bateu na trave duas vezes e faltou muito pouco para o ouro parar nas mãos do Brasil. Agora é hora de investir mais no futebol feminino e dar a estrutura que essas meninas merecem. Depois de três jogos em que o futebol das mulheres atingiu o Olimpo do esporte, o Brasil tem um saldo muito positivo. Fomos semifinalistas em 3 olimpíadas e, apesar da falta de patrocínio e incentivo, chegamos a uma prata valiosíssima em Atenas!
Qualidade. Excelência. Trabalho. Equipe. Sinônimos do Vôlei Masculino do Brasil,
Campeão Olímpico em Atenas 2004.
5- Os tatames prometiam mais brilho. Trouxeram um compensador e bonito resultado com dois bronzes. Continuam constituindo um esporte onde o Brasil é considerado mundialmente como um dos melhores. Porém corre o risco de sucumbir com o crescimento no setor de outros países e ver anos e anos de uma história vitoriosa se tornar apenas artigo de museu, peça conservada atrás de vidros de proteção. As diferenças políticas da CBJ (Confederação Brasileira de Judô) não podem prejudicar a formação e seleção dos atletas. A participação em grandes torneios internacionais tem que continuar. Só assim novas medalhas chegarão...
6- Chegamos as finais em esportes em que não tínhamos força, como os saltos ornamentais, o nado sincronizado ou a ginástica rítmica. Os atletas se superaram e mostraram que podem ir ainda mais longe. A iniciativa privada tem que seguir o exemplo do governo e investir na carreira desses esportistas. A escola tem que transformar sua educação física em centros de treinamento, escolinhas e promover a participação em competições para que revelações do esporte possam surgir. Garantiremos não apenas medalhas, mas também saúde, cidadania e dignidade.
7- Superamos os criadores do esporte (os norte-americanos) e nos tornamos o país que mais medalhas conquistou no vôlei de praia em Olimpíadas. Trouxemos o ouro no masculino (com Emmanuel e Ricardo) e a prata no feminino (com Shelda e Adriana Behar). Homens e mulheres subiram ao pódio e ratificaram nossa supremacia. Faltou apenas um pouco mais de confiança para superar as americanas no feminino. Parabéns!
Num só barco, o de Torben Grael e Marcelo Ferreira, temos oito medalhas olímpicas.
Dessa vez foi o ouro em Atenas 2004.
8- O quarta colocação do basquete e do vôlei femininos frustraram nossas expectativas. Sempre torcemos e acreditamos. Não faltou garra e disposição. Nem treinamento e boa vontade. No basquete fomos derrotados por nossos próprios erros, com muitos lances desperdiçados nos arremessos de 3 pontos ou mesmo debaixo do garrafão. Nossas adversárias erraram muito menos e, por isso, abriram as vantagens necessárias para sacramentar suas vitórias sobre as brasileiras. O vôlei feminino, recém vitorioso na Liga Mundial, uma das maiores esperanças de medalha pelo Brasil, perdeu inexplicavelmente para a Rússia quando ninguém esperava derrota. Teve sete oportunidades para fechar a semifinal que garantiria a medalha de Prata e foi vencida. Disseram que a ansiedade nos derrotou... Foi nossa mais dolorosa experiência em Atenas. Perdemos nosso controle emocional e, depois disso, a medalha de bronze ficou fácil para as cubanas...
9- O ouro do vôlei masculino consagrou os jogadores e, protocolo a parte, deveria ter conferido ao técnico Bernardinho um prêmio especial. Não há treinador de esportes coletivos mais vitorioso no mundo atual. Sua vibração e garra, disposição para os treinamentos, paciência para corrigir erros e melhorar os fundamentos em que o Brasil já era um dos melhores do mundo e a forma apaixonada com que incendeia o time durante os jogos é contagiante. Não há atleta que não se deixe influenciar pelo espírito vencedor e perfeccionista de nosso treinador. Além dele, quem tem Giba, Serginho, Ricardinho, André Heller, André Nascimento, Gustavo, Maurício, Dante, Giovane e tantos atletas de ponta, apaixonados pela vida e pelo esporte, componentes de uma equipe muito unida, tem que ganhar ouro sempre...
10- Nosso maior triunfo foi o último e derradeiro ato olímpico brasileiro em Atenas. Quando um atleta como Vanderlei Cordeiro de Lima, maratonista brasileiro que não estava cotado entre os favoritos, apontou a pouco menos de 5 km do estádio olímpico (a maratona tem 42 km) em primeiro lugar, seu nome parecia destinado a pertencer ao Olimpo reservado aos grandes heróis do esporte. Ao ser ‘atacado’ por um maníaco e tirado por alguns segundos de sua trilha vitoriosa, Vanderlei acabou perdendo o ouro. Ao chegar em terceiro, entretanto, foi mais aplaudido que o vencedor da prova. O público do estádio havia acompanhado seu drama pelo telão e via em Vanderlei a prova concreta do espírito olímpico encarnada em um atleta. Seu bronze foi mais celebrado que o ouro. Ao final, para completar, Vanderlei ainda teve fôlego para perdoar seu agressor. Foi nossa maior e mais expressiva lição olímpica. Que os deuses do Olimpo te garantam a felicidade e as vitórias que você merece Vanderlei. Saudações!
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