Educação e Tecnologia
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

As tecnologias que não usamos em sala de aula - 07/07/2016
João Luís de Almeida Machado

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Garoto em cima de uma escada procurando livro numa prateleira de biblioteca dentro de um laptop

Nos últimos anos foram criadas muitas ferramentas, plataformas, objetos virtuais de aprendizagem, técnicas ou metodologias de trabalho com recursos digitais em sala de aula, recursos que permitem medir e avaliar, instrumentos de comunicação e interação. A educação ganhou espaço no que tange ao mundo digital. A educação à distância ganhou corpo com recursos e ambientes. Temos uma caixa de ferramentas com considerável quantidade de bons instrumentos cabe, neste momento, verificar como estamos usando tudo isso e se, ao fazê-lo, estamos optando pelas melhores alternativas quanto a este uso.

Pegue, por exemplo, o livro digital. O MEC, só para exemplificar, passou a exigir que os volumes em papel tenham versão digital igualmente disponível para quem quiser participar do PNLD (Plano Nacional do Livro Didático). As editoras contrataram ou criaram meios para que os PDFs de seus livros fossem transformados em livros com recursos de anotação, grifo, animações, vídeos, caderno com as observações dos alunos e continuam investindo em outros elementos e recursos. Quem, entre os compradores, no entanto, utiliza os e-textbooks ou livros didáticos digitais de forma corrente em suas salas de aula?

Mais do que simplesmente pilotos, o que se pretende é verificar se em escolas regulares, professores e alunos estão fazendo com que os recursos viabilizados pelo uso de livros digitais estão sendo úteis, de fato, para os processos de ensino e aprendizagem ali realizados.

É preciso, inclusive, deixar de atribuir a formação dos professores, em pedagogia e demais licenciaturas, a responsabilidade pelo não uso deste e de outros recursos digitais.

A tecnologia está sendo trazida e, em muitas escolas, além das formações oferecidas pelas redes privadas e públicas, os docentes estão ligados, atentos, tendo acesso à internet, navegando hoje como seus próprios alunos, por meio de seus próprios tablets, smartphones ou notebooks ou acessando das escolas, já em grande parte conectadas, ainda que a rede no Brasil seja cara e cotada como uma das piores em qualidade no planeta.

Além dos livros digitais, no que se refere a EAD, objetos digitais, lousas interativas, softwares e aplicativos educativos, bibliotecas online, sistemas de gerenciamento de aprendizagem (LMS), sistemas de gestão de notas e faltas e tantos outros recursos, inclusive as famosas e muito utilizadas redes sociais, foram igualmente apropriadas pelas escolas e, novamente à exceção de escolas e redes nas quais o investimento está sendo mais maciço, de tempo e formação, o uso ampliado não é uma realidade.

Grandes players do mercado de tecnologia como o Google, a Microsoft e a Apple têm departamentos dedicados a educação em suas empresas. Investidores como as empresas de Jorge Paulo Lemann e sua Fundação, trabalham arduamente, organizam eventos, trazem especialistas nacionais e estrangeiros, fomentam como anjos o surgimento de startups, ocasionam o lançamento de aplicativos e sistemas e, com isso, colaboram fortemente para que o mundo digital seja, de fato uma realidade para as escolas brasileiras. Ainda assim quantos educadores usam o Google Forms, conhecem e utilizam regularmente o YouTube Edu, aplicam metodologias como o Blended Learning ou fazem a leitura regular de dados coletados por instrumentos como o P+ (do Sistema de Ensino Poliedro) ou o Geekie?

Em 2003 o Planneta Educação, a partir de projeto desenvolvido por sua equipe de tecnologia responsável pelo portal, criou o Coliseum. Tive participação nesta ação, como responsável pedagógico no projeto, e sinto muito orgulho pelo reconhecimento da iniciativa pelo MEC pois o Coliseum foi selecionado para o Guia de Tecnologias do MEC em 2004. Sua criação gerou grande expectativa na empresa tendo em vista que havíamos criado uma plataforma que ensejava, naquele já longínquo ano (já se passaram 13 anos!), a colaboração entre alunos de diferentes escolas, o acompanhamento por professores, o EAD em AVA, o uso de ferramentas de comunicação, a gamificação, o uso da pedagogia de projetos online, o acesso a conteúdos diversificados, a avaliação online e outros recursos. A seleção pelo MEC foi uma chancela a um projeto inovador e ousado... O mercado, no entanto, naquele momento, não estava pronto, não entendeu o produto e não conseguimos vender para ninguém a plataforma...

Hoje, quando uso os termos utilizados acima para descrever o Coliseum, não trago novidades, no entanto, ainda que muitos deles sejam correntes entre os educadores e outras ferramentas tenham surgido, o quanto e o que, de fato, são usados regularmente em nossas escolas?

Pessoalmente não creio numa escola sem sala de aula e interação olho no olho, com as pessoas próximas, a não ser em casos específicos, como aqueles relacionados a distâncias difíceis de superar, associadas a dificuldades de caráter social associadas à pobreza, dificuldade de locomoção ou falta de recursos que liguem as pessoas pelas vias regulares. Nestes casos, ou mesmo por opção pessoal, como em países nos quais o homeschooling é uma realidade, a internet e os recursos tecnológicos são importantíssimos para a configuração de uma aprendizagem mais efetiva e qualificada. Como estamos, no entanto, usando esta tecnologia nestas situações no Brasil?

Mesmo no caso da escolarização regular, o uso de tecnologias deveria ser um poderoso adendo para o processo formativo e não é. Estamos muito distantes disso e não é por inércia dos realizadores que buscam e compõem estas novas tecnologias. O gargalo está nas escolas, nas salas de aula, na nossa incapacidade de ir além daquilo que a educação pratica há tanto tempo.

As modernidades estão aí, mas continuamos ensinando como sempre o fizemos, sem que a incorporação das mesmas seja real. Somente seremos capazes de dizer que as tecnologias estão nas salas de aula quando seu uso for tão comum que nem mais perceberemos isso. Para tanto precisamos planejar, colocar no cotidiano, verificar qual o melhor meio de utilização para as ferramentas disponíveis, selecionar o que atende de forma mais eficaz aos anseios de educadores e estudantes...

O efeito rede, tão importante, precisa enfim, realizar-se para que os educadores troquem ideias e, acima de tudo, práticas relacionadas ao seu cotidiano em sala de aula. O que fizeram que deu certo? Que aplicativos funcionam bem? Como isso foi incorporado ao seu cotidiano? De que modo isso resultou em melhoria de rendimento dos alunos?

Isso é, certamente, imprescindível e urgente para a educação brasileira e mundial.



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