Mad Max: Estrada da Fúria - 01/07/2016
João Luís de Almeida Machado
O cataclisma, o apocalipse, o fim dos tempos, a destruição do mundo, a extinção da vida no planeta, enfim, como seja chamado ou reconhecido este momento que pode ocorrer por vias naturais ou pela ação humana é tema recorrente no cinema, na literatura e no imaginário das pessoas.
Para produtores de filmes, na TV ou no cinema, torna-se um filão inesgotável para produções que ficam cada vez mais refinadas quanto a efeitos especiais e bilheterias gordas, a alavancar continuações ou novas versões quanto a este final que ninguém quer, de fato, presenciar.
Tudo parece apenas ficção, algo distante, fruto da imaginação dissonante de alguns escritores ou roteiristas que querem apenas nos assustar, no entanto, a ciência preconiza que, como dissemos, pelas mãos humanas (guerras, explosões atômicas, poluição, química a destruir recursos naturais e causar doenças...) ou por destruição em massa relacionada a diferentes fatores, como meteoros que podem cair ou se chocar com a Terra, aquecimento global, esgotamento das reservas naturais, extinção progressiva de espécies, exaustão dos solos quanto a sua capacidade produtiva, ampliação excessiva das áreas humanizadas e a consequente devastação da cobertura vegetal da terra, poluição das águas, este dia poderá chegar...
Filmes como “Armagedon”, “Impacto Profundo”, “O dia depois de amanhã”, “2012” ou séries de televisão como “The Walking Dead” mostram o lado sombrio dos dias que se seguiriam as hecatombes de qualquer natureza. “O impossível”, produção que enfocou em acontecimentos reais, relacionados ao Tsunami ocorrido em 2004 com terríveis prejuízos em termos de vidas humanas e destruição material, trabalha com a catástrofe tanto durante quanto depois. Muito antes deles, no entanto, no início dos anos 1980, o cineasta australiano George Miller já abordava o tema, num filme que ganhou o mundo, virou franquia (teve continuações), ganhou Hollywood e tornou, de quebra, Mel Gibson num astro mundial. Quem conhece cinema sabe que estamos falando de Mad Max.
No universo pós-apocalíptico de Miller a humanidade tem que sobreviver a qualquer custo, num mundo em que as reservas naturais estão próximas do esgotamento e os processos produtivos já não existem, ou seja, alimentos, água, abrigo, combustível e outros gêneros geram muita discórdia, guerra, destruição, violência generalizada. Neste universo não é possível confiar em quase ninguém. A vida humana vale pouco ou quase nada. Quem tem controle sobre algum manancial de água, terra de onde se possam extrair víveres, petróleo ou refinaria e congêneres, contando com um bom bando de violentos asseclas, controla a ferro e fogo a vida de dezenas, centenas ou milhares de pessoas.
Transparece o lado mais sombrio e vil da humanidade, nos conformes das obras filmadas por George Miller. Palavras como amizade, solidariedade, tolerância, respeito e equilíbrio desaparecem de cena. Max, o policial cuja família foi violentamente morta por desequilibrados, é exemplo claro do desequilíbrio que toma conta de todos.
É claro que um sucesso de tal dimensão filmado nos anos 1980 teria que ganhar versão nova, atualizada, para chegar a nova geração. E quem retornou para trás das câmeras visando trazer Max novamente para as salas de cinema de todo o mundo? Ele mesmo, George Miller, o próprio. Ninguém melhor que o criador da franquia para nos contar a história com mais qualidade técnica e, melhor, ainda que seja um filme de ação poderoso, com um roteiro impecável, personagens interessantes e atuações de ponta. O novo “Mad Max: Estrada da Fúria”, lançado em 2015, com Tom Hardy no papel que foi de Mel Gibson e a estrela Charlize Theron como Furiosa, revigorou o gênero ação apocalíptica e para comprovar isso basta apenas ver a resposta do grande público e da crítica, além dos prêmios aos quais foi indicado, inclusive o Oscar, no qual foi o maior vencedor em quantidade de prêmios, ainda que não tenha levado as principais estatuetas, como melhor filme.
É possível tirar lições deste e de outros filmes que falam sobre o fim dos tempos e os possíveis sobreviventes de algum tipo de destruição que arrebate quase que completamente a vida no planeta? Sim. Não há dúvidas quanto a isso, a começar pelo fato de que se há questões como estas já elencadas, que ameaçam a preservação da vida na Terra, temos que buscar soluções para elas por meio da ciência visando evitar que tais cataclismas se concretizem. Só isso já seria suficiente, mas há mais ideias sobre como trabalhar com “Mad Max” e outras produções do gênero.
O Filme
Max (Tom Hardy, em atuação destacada) está na estrada. A se esconder. Buscando sobreviver num mundo poeirento e de muita violência. Ele mesmo se utiliza da brutalidade quando necessário, mas em seu peito, por mais que isso não transpareça muitas vezes, nos gestos ou nas palavras, há ainda resquícios do homem da lei que lutava pela ordem e estabilidade.
Mas Max não está sozinho e, por conta disso, ele acaba sendo aprisionado por um bando de malucos que sobrevive às custas de um ditador das águas, Immortan Joe (Hugh Kaeys-Byrne), controlador de alguns reservatórios, que permite que algumas centenas de pessoas sobrevivam tendo acesso a estes mananciais desde que subjugados a ele, a prestar-lhe serviços eternamente, como verdadeiros escravos.
Há, no entanto, entre seus cativos, um pequeno grupo de belas mulheres, que compõem seu harém pessoal e que permitem a reprodução deste líder. Furiosa (a talentosa Charlize Theron, em premiada interpretação) é uma delas. Mas ela não quer continuar vivendo desta forma e está prestes a fugir, num plano insano que, se realizado, permitirá a ela e a algumas de suas colegas, todas escravas sexuais do violento líder, cheguem a um oásis perdido nos confins do imenso deserto em que vivem para serem livres.
Este processo, no entanto, depende de vários fatores e, no meio do caminho, terá Max como passageiro também... Desejado ou indesejado, ele igualmente estará em fuga das mãos dos vândalos seguidores do vingativo e poderoso Immortan Joe.
Num ritmo alucinante o filme não permite ao espectador muitas alternativas, senão, atenção e tensão constante, com um roteiro de primeira, atuações espetaculares e surpresas do início ao fim. Uma obra-prima.
Para refletir
1- Filmes apocalípticos apontam problemas a partir da ficção que podem, de fato, provocar cataclismos na Terra e promover mortes e destruições de grande impacto. Para isso é sempre bom lembrar de situações como os Tsunamis que causaram grandes estragos na Tailândia em 2004 e no Japão em 2011. Os eventos que também ocasionaram perdas consideráveis na região da Louisiana, nos Estados Unidos, com destaque para a destruição considerável ocorrida na cidade de Nova Orleans é outra demonstração da força da natureza, neste caso associada a furacões. Estudar os fenômenos climáticos, suas causas, como seria possível evitar tais tragédias, o que já está sendo feito nas áreas de risco, como foi a reconstrução destas áreas é um tópico decorrente do contato com produções fílmicas deste segmento.
2- “Mad Max: Estrada da Fúria” e todos os filmes anteriores da franquia mostram a humanidade no extremo pela sua sobrevivência. Assistir os filmes e discutir o que seria possível fazer em momentos de grande perda, associados a tragédias, como as pessoas poderiam ou deveriam proceder, de que forma seria possível preservar os fundamentos mínimos de convivência entre todos é, igualmente, algo a ser trabalhado nesta e em outras produções.
3- Pesquisar a ação de órgãos mundiais e locais de apoio a vítimas de catástrofes, entender seu trabalho, colocar-se a disposição para ajudar, ser mais solidário e, na medida do possível, associar as escolas, alunos, professores e gestores a, de algum modo colaborar, seria, sobremaneira, um grande ganho após assistir filmes como Mad Max e congêneres.
4- Os filmes que falam sobre o fim do mundo focam tanto em ações naturais quanto em problemas causados pelo homem relacionados, principalmente, a dois elementos, a destruição do meio-ambiente ou o acionamento de armamentos de destruição em massa, como os armamentos atômicos ou as armas químicas e biológicas. No caso destes recursos criados pelo homem que destroem o ambiente o que provocam mortes por bombardeios seria importante verificar a história, o funcionamento, como estão tais questões hoje em dia, o que as Nações Unidas e os países estão fazendo quanto a isso...
Veja o trailer do filme
Ficha Técnica
Filme: Mad Max - Estrada da Fúria
Título original: Mad Max - Fury Road
País/Ano: EUA/Austrália, 2015
Duração: 120 minutos
Gênero: Ação/Aventura/Ficção
Direção: George Miller
Roteiro: George Miller e Nick Latouris
Elenco: Tom Hardy, Charlize Theron, Zöe Kravitz, Nicolas Hout, Nathan Jones, Josh Helman, Rosie Huntington-Whitley, Hugh Kaeys-Byrne, Riley Keough.
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