Cinema na Educação
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Carlota Joaquina, Princesa do Brasil -
Brasil, onde até reis e rainhas são figuras cômicas

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Carla Camurati é saudada como a responsável pelo sucesso abre-alas da retomada do cinema nacional depois dos problemas da Era Collor, em que a produção tupiniquim quase pereceu de vez. Jovem cineasta de talento, atriz promissora que se revelou competente em sua carreira, Carla resolveu filmar a história do Brasil, em busca de nossas raízes e acabou escolhendo o período em que a família real portuguesa, acuada pela invasão das tropas napoleônicas, cruzou o Atlântico e se instalou no Brasil.

História de difícil digestão quando estamos numa sala de aula, o filme de Camurati acabou se transformando num grande sucesso. Reduzida a fatos como a abertura dos portos às nações amigas, aos tratados de comércio e navegação ou a chegada da Missão Francesa, a apresentação do chamado Período Joanino pode ser realmente entediante. Aliás, é necessário que os professores passem a usar recursos como esse filme para dinamizar a aula, gerar maior interesse entre os alunos, fazê-los entender que esses acontecimentos e personagens realmente existiram!

Como qualquer filme, há várias liberdades tomadas pela diretora e pelos roteiristas, nada que possa comprometer o aproveitamento do recurso ou o desenvolvimento da temática em aula. Basta ter discernimento para apontar as idéias ou princípios que mais lhe interessam para a composição e, estar por dentro do assunto que será possível fazer bom uso desse material.

A grande crítica que se faz ao filme "Carlota Joaquina" reside no aspecto caricato dos membros da família real portuguesa, principalmente Dom João e a própria Carlota. Dom João é comilão, preguiçoso, influenciável e um governante indeciso (às vezes, irresponsável). Carlota tem um apetite sexual insaciável, tendo passado Dom João para trás várias vezes, o que não lhe causa nenhum tipo de arrependimento ou remorso. Pode-se perceber nessa caracterização uma tentativa de apresentar elementos que nos permitam visualizar em Dom João um retrato da nobreza européia. Em Carlota, podemos entrar em contato com os hábitos dessa nobreza no que se refere aos casamentos e relacionamentos amorosos onde não há vínculos estreitos já que se tratavam de acordos que uniam famílias, posses e poder.

Outro aspecto interessante a se destacar reside na influência dos ingleses quanto à vinda da família real para o Brasil. Isso normalmente é ressaltado no desenvolvimento das aulas, o personagem de Lorde Strandford serve como referência importante a esse acontecimento e pode fazer com que se desenvolva uma discussão em que se debatam os interesses que moveram a Inglaterra a auxiliar a fuga de Dom João e companhia.

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A chegada a terras brasileiras e a adaptação de lusos ao novo ambiente e de brasileiros aos hábitos dos visitantes ilustres também merece destaque. A necessidade de ceder suas casas aos portugueses, os apertos relativos ao mercado e a pequena oferta de alimentos e demais gêneros (que causavam aumento de preços) foram alguns dos problemas enfrentados pelos brasileiros. O calor, os novos alimentos, a convivência muito estreita com negros e mestiços e os insetos foram dificuldades encontradas pelos portugueses no Brasil.

Há seqüências que, a princípio, deveriam ser encaradas como trágicas, mas que são hilárias, como no caso da retirada da família real portuguesa da metrópole (que D. Maria, a louca, entendeu como sendo uma fuga) ou a primeira noite do casal João e Carlota, ainda jovens, que quase terminou em tragédia.

Preste atenção aos hábitos despojados da corte no Brasil que contrastam enormemente com a morbidez dos mesmos personagens quando viviam em Portugal. Infelizmente, Carla Camurati não contou com um orçamento generoso, o que restringiu as possibilidades de uma grande reprodução de época, no entanto, no geral as locações e os figurinos não comprometem a compreensão desse período, pelo contrário, tentam ser fiéis ao que conhecemos de então.

Se por um lado faltaram dinheiro e recursos materiais, por outro, o elenco colocado à disposição para as filmagens foi de primeira. Especial destaque para Marieta Severo como Carlota e para Marco Nanini como Dom João, eles estão impagáveis e muito seguros em seus papéis. Bem conduzidos, realizaram uma pequena pérola do cinema nacional.

Recentemente, a Rede Globo veiculou uma minissérie abordando o mesmo período e personagens, não é possível comparar os dois produtos culturais. O autor do trabalho veiculado na Globo criou situações, alguns personagens e descaracterizou situações, ridicularizando por completo a história do período. Esqueça a série televisiva e use e abuse do filme "Carlota".

Ficha Técnica

Carlota Joaquina, A Princesa do Brasil

País/Ano de produção:- Brasil, 1994
Duração/Gênero:- 100 min., Comédia
Disponível em vídeo e DVD
Direção de Carla Camurati
Roteiro de Carla Camurati e Melanie Dimantas
Elenco :- Ludmila Dayer, Maria Fernanda, Eliana Fonseca, Brent Hieatt,
Marco Nanini, Marcos Palmeira, Marieta Severo.

Links
- http://www.adorocinema.com/filmes/carlota-joaquina/carlota-joaquina.htm
-http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=258

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7 COMENTÁRIOS

1 Jeana Zago - Caçador
Acredito que poucas produções históricas foram tão felizes em retratar um período quanto essa. O uso e abuso do recurso da sátira conferiu ímpar entendimento do que foi a real sucessão dos fatos ali retratados.Como gosto de afirmar para os alunos, analisem se essa era a nobreza o que esperar dos comuns.Fica retratada de forma evidente infelizmentea origem vira lata de nossa nação, mas como disse Tancredo Neves infeliz do povo que não conhece sua história...ÓTIMA OBRA...REAL E CONTUNDENTE.
16/09/2010 22:12:20


2 juliana f. lisboa - sa
tá todo lindo
25/08/2010 17:12:25


3 juliana lisboa - salvador
muito bom só ñ gostei pq é historico
25/08/2010 17:11:27


4 Karina weber - novo hamburgo
Eu sou estudante e achei o filme bem interessante minha professora passou ele para a a turma e todos gostamos D
22/07/2008 10:33:54


5 Suzane Enai - Bahia
O filme aborda de forma clara e bastante envolvente o período da chegada da Família real ao Brasil, que aliás, ano que vem completa duzentos anos. A temática é bem abordada, no entanto existem algumas análises feitas pela autora que deixam a desejar, a exemplo do estereótipo que a mesma toma por base acerca da atitude de D. João VI ter vindo para o Brasil e deixado o seu povo vulnerável aos ataques de Napoleão. D. João aparece como um tolo, comilão, indeciso, covarde, sem nenhuma vocação para administração, e que tinha uma "companheira" adúltera, mas nem para todos essa visão tão pesssimista se aplica, se pararmos para analisar que ele estava entre a cruz e a espada, de um lado havia a Inglaterra (senhora dos mares) e França (toda poderosa em terra). Além do mais D. João era bem formado, apesar de não o ter sido para ser o rei, mas o ensino da época garantiria que não estivesse assim tão incapaz, ele fazia parte da FAMÍLIA REAL. Portugal era uma metrópole falida que mantinha seu luxo as custas da colônia e não tinha dinheiro nem armas suficientes para enfrentar as tropas de Napoleão, então a idéia da fuga para o Brasil foi uma salvação. A chegada da Corte no Rio de Janeiro mais parece com a chegada dos portugueses em 1500. Outro aspecto que foi mal colocado no filme é quando D. Pedro aparece no meio do povo mostrando-se a favor da independência. Os acordos feitos eram tratados com pessoas que tinham posses, afinal D. Pedro era um nobre. Apesar dessas falhas o filme é ótimo e aborda de forma criativa e divertida esse momento que revolucionou essa terra descoberta que deixou de ser colônia e passou a ser Reino Unido a Portugal e Algarves e depois alcançou a independência através de acordos e se tornou o Brasil de todos.
06/11/2007 20:50:34


6 Deize Elle Ribeiro da Silva - Arcoverde- PE
Bom eu acredito que nesse filme podemos vê que realmente esses lendarios personargens da historia são simples mortais o que todos embora saibam vem a esquecer e pensar ser algo realmente imaginaveis suas atitudes e preocupações
20/09/2007 09:25:42


7 Larissa Fernanda Rocha de Araújo - Londrina
A produção tenta retratar a história brasileira segundo os fatos reais da época. Além de abordadar os acontececimentos que ocorreram durante o período Joanino, o filme mostra a vida de personagens históricos como se estes realmente um dia tivessem sido seres humanos como qualquer um, e não heróis românticos que é o que por diversas vezez vemos que produções realizam no enredo de um filme épicos. Devemos perder o hábito de olhar para personagens históricos com os olhos de idealização e canonização, uma vez que estes simplesmente agiam conforme os seus interesses e os interesses da sua classe.
17/08/2007 11:16:47


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