A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A escola que não ensina - 23/05/2016
João Luís de Almeida Machado

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boneco de marionetes sendo manipulado

Há anos o Brasil está estagnado na parte de baixo dos rankings educacionais.

Há anos apregoa-se no país que a educação é prioridade e, recentemente, o governo federal e seu aparato de marketing definiram que o Brasil é a Pátria Educadora, como se somente a criação de tal slogan pudesse motivar, modificar, melhorar o panorama da educação brasileira.

Tecnologias são compradas ou instaladas em escolas na esperança de que seu advento e utilização reformulem o ensino e permitam aos brasileiros educação compatível com aquela oferecida nos países mais desenvolvidos na área.

Metodologias, sistemas, filosofias e práticas pedagógicas são importadas e aplicadas em escolas modelo para que, com isso, tais ações frutifiquem em caso de êxito e sejam incorporadas a redes de ensino públicas ou privadas e oportunizem a qualidade em educação que se espera.

Teóricos favoráveis a medidas que permitam o ingresso da educação brasileira em parâmetros compatíveis com aquilo que o mercado, o neoliberalismo, a globalização e o Banco Mundial pretendem estão nunca constante queda de braço com especialistas que defendem uma educação crítica, mais teórica, associada a critérios e pensamentos progressistas.

Não há consensos. Prevalecem as dúvidas. Persistem as incertezas. Em cada canto o que algumas pessoas decidem, sejam estes gestores da educação ou professores, é o que acaba aparentemente imperando. As salas de aula, por sua vez, são locais sagrados e fechados onde tantas vezes, a despeito do que pregam leis, consensos nacionais ou as diretrizes de quem comanda o cenário nacional ou local não chegam ou se são comunicadas, não são efetivadas.

A cada ano que passa a qualidade dos alunos que se formam ou se mantém dentro de níveis mínimos ou abaixo disso, com médias nacionais ponderadas em aproximadamente 3 a 4,5 numa escala de 0 a 10, escancarando o fracasso e a certeza de que, infelizmente, a escola não ensina como deveria.

Neste momento buscam-se culpados. Os dedos são apontados em todas as direções. Diretores, coordenadores, professores, pais, alunos e os responsáveis pelas políticas públicas em educação no país tentam se esquivar, se justificar, remediar situações que momentaneamente são irremediáveis e que não serão solucionadas com fórmulas mágicas ou simplistas.

Não há medicamentos capazes de estancar a hemorragia que aflige a educação nacional se não se definirem compromissos nacionais de longo prazo, que preconizem ações a garantir desde a formação mais sólida dos profissionais que atuam em sala de aula, exigindo dos mesmos garantias de que podem desempenhar com qualidade este trabalho, até instrumentos de avaliação sérios e rigorosos, materiais didáticos que desafiem e estimulem os alunos, uso de tecnologias em conformidade com os planejamentos e metas pré-estabelecidas para cada etapa formativa, contextualização da aprendizagem para que esta seja significativa para os estudantes, salários e planos de carreira que estimulem os profissionais a permanecer na educação e melhorar sua formação, criação de elos entre a sala de aula e a cultura, perenidade nas políticas públicas independentemente de qual partido ascender ao poder, metas plausíveis para quinquênios, constante supervisão/monitoramento das ações realizadas em educação, valorização das melhores ações e profissionais, coaching para professores e gestores...

Há, certamente, muitas lacunas, o mais difícil neste cenário é assumir as responsabilidades de forma coletiva, sem dedos apontados na direção de qualquer um dos protagonistas neste cenário.

Educação exige rigor, compromisso com a ciência e a pesquisa, prática permanente, muito trabalho e compreensão plena daquilo que pode surgir a curto, médio e longo prazo para todos os envolvidos.

Em qualquer cenário é imprescindível que os alunos sejam instados a todas as práticas regulares que lhes permitam compreender o mundo em que vivem, nele se inserir de forma a se tornarem protagonistas, permitir a leitura das variáveis em diferentes linguagens, propor e motivar a participação política, cidadã e ética, gerar comprometimento com toda a comunidade, promover o progresso e defender o meio-ambiente e o planeta em que vivemos, agindo dentro de princípios de solidariedade e valorização e princípios democráticos.

Não é utopia. Exige trabalho. Pede persistência. Necessita que se assumam compromissos que vão muito além de nossas realidades mais imediatas, se pensando a médio e longo prazo, por um país e também por um mundo melhor, onde a chaga do analfabetismo pleno ou funcional não existam mais, de fato e não apenas como peça de propaganda ou ficção.



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