“Não existem fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos.”
Friedrich Nietzsche, em sua obra “Além do Bem e do Mal”

Para conhecer os maiores pensadores de todos os tempos o melhor caminho ainda é a leitura de suas obras originais. Não há dúvidas quanto a isso, mesmo porque, ao lermos obras que representem interpretações do pensamento elaborado por renomados filósofos ou cientistas, estamos tendo nosso olhar direcionado para pontos referenciais destacados por um intermediário, autor de estudos ou pesquisas acerca de tal pensador. Isso nos induz claramente a ler apenas aquilo que fez sentido ou que foi significativo para esse estudioso. O que representa a perda de determinados trechos ou conteúdos que tenham sido descartados ou colocados em segundo plano pelo tal pesquisador/escritor...

Isso não significa que os trabalhos que fazem leituras interpretativas e explicativas de obras filosóficas, literárias, artísticas ou científicas devam ser desprezados, abandonados. Sua leitura pode ser uma importante porta de entrada para nossos estudos. Facilita a compreensão e estimula a busca por outros livros, entre os quais as obras originais desses importantes pensadores, escritores ou cientistas.

Lembro-me que quando fazia minha graduação em história costumava ler livros das coleções “Primeiros Passos” e “Tudo é História” da Editora Brasiliense (editados ainda hoje), que acabaram fazendo com que certos temas, pensadores ou acontecimentos históricos entrassem na minha pauta de estudos. Em determinados casos, devido à escassez de títulos disponíveis, algumas dessas análises eram os únicos materiais ao nosso alcance.

“Existe ainda algo como em cima e em baixo? Não estaremos a deriva através do nada infinito?
... Não estará a noite com certeza sempre mais profunda se fechando em torno de nós?
Não necessitaremos de lanternas pela manhã? Estamos ainda surdos ao rumor dos coveiros cavando o túmulo de Deus?
Não sentimos o mau cheiro de putrefação divina?
... A coisa mais santa e poderosa do mundo sangrou até a morte sob as nossas facas...”
Friedrich Nietzsche, em sua obra “Assim Falou Zaratustra”

Seguindo essa linha de trabalho, com enfoque na filosofia e na ciência, a Jorge Zahar Editora lançou no Brasil as coleções “Filósofos em 90 minutos” e “Cientistas em 90 minutos”, onde além do trabalho sobre o alemão Friedrich Nietzsche, há livros dedicados a pensadores e pesquisadores de todos os períodos históricos e de variadas nacionalidades, como Sócrates, Confúcio, Santo Agostinho, Einstein, Newton, Galileu, Sartre, Kant,...

Há um mérito e uma necessidade real quanto a publicações como essas que devem ser necessariamente destacados. O mérito reside em investir em obras que discutam temas como filosofia e ciência, alimentando o debate e proporcionando aos jovens a oportunidade de conhecer personagens polêmicos e suas obras consagradas.

Pelo caráter teórico e conceitual das propostas e pensamentos defendidos por filósofos e cientistas como aqueles citados anteriormente, de alto nível e de difícil compreensão em muitos casos, as obras introdutórias acabam permitindo aos jovens leitores perceber o universo em que esses autores compunham suas obras, como esse contexto histórico beneficiou ou prejudicou sua produção, pontos primordiais em termos de conceitos e idéias, influências fundamentais para esses pensadores,...

“Com Nietzsche a filosofia passou a ser novamente perigosa, dessa vez com uma diferença.
Nos séculos anteriores a filosofia fora perigosa para os filósofos; com Nietzsche se torna perigosa para todos.
Nietzsche terminou louco, o que começou a transparecer no tom de seus últimos escritos.
Suas idéias perigosas, porém, começaram a surgir muito antes dele enlouquecer e
nada têm a ver com sua insanidade mental clínica”.
Paul Strathern, “Nietzsche em 90 minutos”

A necessidade é percebida quando notamos a carência que nossos estudantes tem em relação a idéias, argumentos, inspiração. O desconhecimento das teorias que nortearam o pensamento humano ao longo de gerações e gerações, criando as bases que sustentam ainda hoje o funcionamento de nossas sociedades, especialmente no mundo ocidental, faz com que falte aos jovens o subsídio para definirem seus próprios rumos no mundo em que vivem.

A falta de valores morais, éticos ou mesmo de uma filosofia são decorrentes do desconhecimento da obra desses pensadores imortais e da capacidade que temos de selecionar, escolher, negar, concordar, discutir e definir nossos próprios ideais e sonhos a partir de suas idéias (da forma como foram concebidas ou alteradas conforme nossos sonhos, utopias ou realidades). Autores como Nietzsche podem ser importante fonte de inspiração para novos pensamentos, para novas teorias.

Nietzsche foi um dos pensadores mais importantes do mundo contemporâneo justamente por nos encorajar a superar o que ele identificava como “a repressão dos verdadeiros sentimentos e a sublimação do desejo implícitos no cristianismo”, percebidas em atitudes cristãs como a compaixão e a humildade extrema.

Ao advogar a tese da “vontade da potência”, exortando a humanidade a buscar seus objetivos, movida por todas as suas forças, sem temer eventuais obstáculos, Nietzsche parecia querer nos fazer caminhar em direção a nossos sonhos, desvinculando-os de qualquer outra força realizadora, como aquelas identificadas como supremas pela religião.

Para quem quiser conhecer melhor as obras de Nietzsche, confiram alguns de seus melhores trabalhos,
destacados a seguir: “A Gaia Ciência”, “Além do Bem e do Mal”, “Assim Falou Zaratustra”, “Ecce Homo” e
“Humano, Demasiado Humano”.

Essa tentação nietzschiana fica mais clara e evidente a medida em que conhecemos outras idéias e conceitos originais desse polêmico pensador, como o “eterno retorno” ou o “super-homem”, destacados e explicados no livro de Paul Strathern, escritor e professor universitário.

Destaco, porém, que apesar dessa importante contribuição como introdução ao pensamento de Nietzsche ou de qualquer outro grande filósofo ou cientista, não podemos deixar de ler as obras originais desses grandes homens. Não há como deixar de se interessar e querer saber mais. Nesse quesito, obras como “Nietzsche em 90 minutos” servem como um delicioso aperitivo que nos convida para uma refeição soberba como seqüência, acompanhada dos mais saborosos vinhos e sobremesas...