Usando Cartas Enigmáticas para entender o Cristianismo - 13/08/2004
Coluna Diário de Classe
Alguns dos maiores estudiosos das religiões afirmam categoricamente que há uma grande quantidade de enigmas escondidos por detrás das palavras e dos rituais de praticamente todas as grandes religiões do planeta. Tentam, inclusive, de forma exaustiva, descobrir alguns deles, procurando minúcias e detalhes em documentos oficiais, obras de arte, cartas pessoais enviadas por alguns dos maiores expoentes dessas religiões, objetos sacros e construções. Isso se aplica tanto aos cultos originários do mundo oriental quanto a aqueles que se fixaram e firmaram suas raízes no ocidente, como é o caso do Cristianismo (apesar de ter surgido na antiga Ásia Menor, atual Oriente Médio, as religiões cristãs tem sua principal base de apoio nos países ocidentais).
Pensando nisso, e cientes do grande desafio que teríamos pela frente ao estudarmos as origens e o processo de evolução do Cristianismo, resolvemos propor a nossos estudantes (do 1° ano do ensino médio), a criação de cartas enigmáticas contendo as principais idéias dessa religião e a produção de um painel composto apenas de imagens que retratassem os conceitos expressos na carta enigmática.
O que desejávamos era realizar um estudo que fosse ao mesmo tempo, informativo e instigante. Sabíamos que muitos deles possuíam conhecimentos sobre os cultos cristãos em virtude da formação religiosa recebida a partir de suas famílias, entretanto o nosso foco em aula era uma compreensão dos princípios filosóficos e da própria ética original do cristianismo, além da história dessa religião.
Sabíamos também que entre os alunos que fazem parte do grupo há pessoas de outras religiões, algumas delas também cristãs, mas não católicos. Por esse motivo o exercício iria requerer da nossa parte o respeito pelas crenças religiosas diferenciadas e um exame do fenômeno cristão a partir da filosofia e da história, sem qualquer tipo de doutrinação ou tentativa de conversão.
A plena compreensão da ética e dos valores de cada uma das religiões nos permite
ampliar cada vez mais a tolerância e a compreensão entre os homens.
Tendo ficado claros alguns de nossos objetivos, iniciamos os trabalhos lendo o material de referência em busca de subsídios que pudessem compor nossas cartas. Essa etapa previa uma leitura analítica, através da qual os alunos teriam que definir quais trechos e conceitos seriam referenciais para a compreensão da ética e da história da cristandade.
Essa leitura atenta foi feita de forma individual e, num segundo momento, trabalhando em trios, os estudantes deveriam comparar o que cada um deles havia conseguido. A comparação é uma etapa fundamental para que eles possam estipular, por consenso, que idéias poderiam ser aproveitadas nas cartas enigmáticas. Isso exige, além da capacidade de negociação dentro do grupo a fim de justificar determinadas escolhas, que os estudantes pensem com maior profundidade a respeito daquilo que foi lido.
Tendo escolhido os pensamentos fundamentais que definem a filosofia cristã, cabia aos estudantes, de posse de revistas, colas, tesouras, canetas coloridas, papel sulfite e lápis de cor, criar as tais cartas enigmáticas.
Mas, a propósito, o que seriam essas cartas enigmáticas?
A solidariedade, a compaixão, a amizade, o amor e a paz foram algumas das mensagens percebidas
pelos estudantes no exame da doutrina cristã. É válido ressaltar que essas mensagens têm caráter universal
e também fazem parte dos ensinamentos de outras religiões como o judaísmo, o islamismo ou o budismo.
Expliquei a eles que essas cartas poderiam ser feitas de duas maneiras, sendo que:
- Na primeira delas o conteúdo da carta é escrito com palavras extraídas de revistas ou jornais, coladas propositalmente fora de ordem nas frases em que se encontram inseridas. Por exemplo, ao invés de escrever: Jesus foi o representante máximo do cristianismo, eles teriam que, com palavras recortadas e coladas, escrever algo do tipo: máximo o cristianismo do foi Jesus representante.
- Na outra alternativa as palavras seriam construídas a partir de desenhos que somados ou subtraídos de letras teriam que dar o significado das palavras e, no conjunto, das sentenças pretendidas. Por exemplo, para escrever Católico, os estudantes poderiam pegar uma fotografia ou desenho de uma casa e subtrair a sílaba sa, adicionar uma toalha de onde iria se subtrair alha, juntar a livro e tirar vro e fechar com uma colher menos o adicional lher. Veja o exemplo abaixo:
O exame dos ensinamentos do cristianismo nos colocou em contato com uma ética e com
uma série de valores que se disseminaram pelo mundo e que, hoje indicam os caminhos
percorridos por milhões de pessoas. (foto do filme “Paixão de Cristo”, de Mel Gibson)
Ao perceberem a dimensão da atividade e toda a dificuldade que teriam os estudantes logo se puseram a reclamar da forma habitual (“tenha dó professor”; “Parecia fácil demais...”; “Os projetos do professor João Luís sempre são mais complicados do que parecem a princípio”) e, apesar disso, se dispuseram a encarar mais esse desafio (ou “tortura chinesa” nos dizeres de alguns deles...).
E pensar que, além disso, ainda teriam que se preocupar em produzir um painel que utilizando apenas imagens representasse as idéias contidas na carta enigmática...
Na medida em que foram se lembrando dessa outra etapa os estudantes perceberam que teriam que se organizar para dar conta do trabalho dividindo funções, por exemplo, enquanto um procurava palavras ou imagens que pudessem ser utilizadas na carta, outro ia montando as frases que deveriam constar do documento e o terceiro membro do grupo buscava as imagens para o painel.
Tínhamos, a princípio, apenas três aulas para realizar a atividade, porém, considerando o esforço dos alunos e as dificuldades que estavam tendo, ampliamos o prazo de entrega para nossa próxima aula, uma semana depois.
Como era de se prever, quando recolhemos as produções, sem que fosse surpresa para ninguém, todos os grupos haviam escolhido a primeira opção como modelo para suas cartas enigmáticas. Ficaram satisfeitos de terem dado conta de mais um projeto diferenciado e de difícil execução e pareciam contentes por terem conseguido aprender de forma significativa os conceitos e idéias pretendidos com as aulas/atividades, entretanto... Ainda não havíamos acabado!
Nessa aula de retorno, depois de recolher as cartas enigmáticas e os painéis fui redistribuindo-os para outros grupos. Dessa forma eles puderam ver como os demais colegas resolveram a proposta. Além disso, pedi a eles que decifrassem os enigmas propostos e que identificassem nas imagens dos painéis dos grupos formados pelos colegas os conceitos do cristianismo mencionados nas cartas.
Conseguiram atingir o objetivo e, dessa forma, fechamos de maneira lúdica, como uma brincadeira de criança, um conteúdo que poderia ter nos dado muito mais trabalho! Valeu!
1 Isabel Uliana - Paiçandu
Esse trabalho é muito bom. Traz sugestões para ampliar o trabalho em sala. Inclusive gostaria de pedir sugestões de atividades em geral relacionadas a conteúdos de História.
15/04/2009 11:24:26
2 Sara lima - Porto Velho
eu amei esse site, me trouxe informaçõe bastante esclarecedora, pois tenho um trabalho para apresentar na faculdade, e estava com muitas duvidas, foi bom pesquisar, e encontrar esse site. Gostaria de receber sempre informações sobre esse site, e assuntos variados. Obrigada.
28/03/2009 13:48:48
3 jessica micaela palhano - balneario camboriu
essa carta enigmatica é muito interesante eu pesquisei porque tive um trabalho da escola sobre isto, e se eu soubesse eu ja teria entrado e visto nao so pra pesquisar mais sim pra ler e pensar é muito legal diferente e eu nao sabia o significado agora eu sei graças a professora adorei esse site e pode ter certeza que nao vai ser a primeira e nem a ultima vez que entrarei!!!
17/03/2009 18:37:12
4 Maria da Graça Mendonça Gallotti - Curitiba
A idéia é ótima e acredito que pode ser adaptada a todos os conteúdos de História. De maneira lúdica os alunos apropriamse de conhecimentos que, tradicionalmente, não sentiriamse envolvidos.
28/01/2009 18:14:10
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