A Semana - Opiniões
Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil.

Podemos ser melhores? - 03/03/2016
Wanda Camargo

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quadro negro com desenho de dois professores apontando para uma gráfico

No dia oito de julho de 2014 entendemos, dolorosamente, que já não somos os melhores do mundo em futebol. Não é uma tragédia da dimensão que parece, pois pode ser revertida: ainda temos e sempre teremos jogadores de grande talento, gostamos do esporte, em qualquer espaço disponível há crianças e adultos jogando bola. Temos uma enorme massa crítica, no país existem milhões de praticantes, possíveis técnicos e comentaristas da modalidade em todos os níveis; resolvidos os imensos problemas práticos, políticos e de foco, podemos tornar a reunir as condições de ser o “país do futebol”.

No entanto, outra questão também afeta, ou deveria afetar, o orgulho nacional, e esta compromete de modo irremediável nosso futuro: o Brasil está em 60º lugar no ranking de educação do Pisa, numa lista de 76 países; em primeiro vem Cingapura, a seguir Hong Kong e Coreia do Sul. Este fato lamentável deve também ser revertido, com a maior urgência.

O Pisa – Programme for International Student Assessment, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes é uma das avaliações de estudantes mais respeitadas. É desenvolvido e coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE. Em cada país participante há uma coordenação nacional, no Brasil o Pisa é coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, e envolve mais de trinta mil estudantes matriculados a partir do 7º ano do Ensino Fundamental de quase mil escolas.

Trata-se de uma iniciativa de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa dos 15 anos, idade em que normalmente é concluída a escolaridade básica obrigatória na maioria dos países.

O objetivo do Pisa é a produção de indicadores que venham a contribuir para a discussão da qualidade da educação nos países participantes, visando subsidiar políticas de melhoria do ensino básico. São avaliadas as competências dos estudantes em Leitura, Matemática e Ciências, e coletadas informações para a elaboração de indicadores contextuais, que possibilitem relacionar o desempenho dos alunos com variáveis demográficas, socioeconômicas e educacionais. Essas informações são coletadas por meio da aplicação de questionários específicos para os alunos, para os professores e para as escolas.

E o que é mais absurdo, no contexto de nosso fracasso nesta avaliação educacional, é que temos todas as condições de nos sair melhor, mas de algum modo as sabotamos. Temos uma grande população; com poucas exceções, falamos a mesma língua; embora tenhamos uma enorme diversidade cultural, a cultura é definidora da nacionalidade no sentido de que praticamente não existem guetos culturais isolados no país, qualquer brasileiro se sentirá no Brasil em qualquer ponto do território, e ainda que possa estranhar sotaques, hábitos e alimentos, essas diferenças são menos profundas do que parecerão a princípio.

Países divididos por dialetos, ódios seculares, assolados por catástrofes naturais, recém-saídos de guerras, conseguiram centrar com sucesso a vontade nacional na necessidade de educar seus povos. Nós também podemos, e temos inúmeras vantagens para isso.

O que parece nos impedir é uma complacência que não se justifica, aqueles que demonstram dificuldades de aprendizagem são os que mais necessitam atenção e empenho, maior valorização do magistério e recursos pedagógicos, e não do desenvolvimento de uma cultura de valorização do fracasso como elemento definidor de igualdade.

Conformar-se diante dos péssimos resultados obtidos, acreditar que é inútil o esforço de melhoria do sistema educacional brasileiro, aceitar que teremos umas poucas “ilhas de excelência”, isso sim perpetuará a mediocridade.



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