A Semana - Opiniões
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Pelo fim da corrupção e da impunidade - 02/03/2016
João Luís de Almeida Machado

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algema sobre várias cédulas de dinheiro

“A corrupção dos governantes quase sempre começa com a corrupção de seus princípios”. (Montesquieu)

“A corrupção não é uma invenção brasileira mas a impunidade é uma coisa muito nossa”. (Jô Soares)

Dois homens. Dois tempos diferentes. Duas nações e realidades distintas. As palavras de Montesquieu, pensador francês que muito contribuiu para a Revolução das Luzes, o Iluminismo, no período que antecede a Revolução Francesa que estabeleceu as bases do mundo atual, de base capitalista, burguesa, já naquele período denunciava a corrupção.

Associava tal mal não apenas ao ato ilícito em si, de se apoderar daquilo que não lhe pertence, que é público, proveniente do esforço coletivo de milhares ou milhões de pessoas, os cidadãos, os trabalhadores, suas famílias, sua prole... Montesquieu, autor da célebre obra “O espírito das leis”, através da qual preconizou o modelo político baseado nos três poderes (executivo, legislativo e judiciário), destaca que o problema é ainda maior pois que, ao se permitir corromper por dinheiro, poder ou qual benesse for, o sujeito se desvirtua por completo pois abandona o que deveria ser mais caro para si, seus princípios, seus valores, sua ética.

Ética esta que não é apenas sua, mas de seus familiares, de antepassados que prezaram comportamento lícito, lisura e honestidade acima de tudo. Gente que, antes dele, provavelmente construiu com o suor do rosto, sua história e, ao fazê-lo, deu as possibilidades para que esta pessoa pudesse dar continuidade a esta trilha composta com muito esforço e, acima de tudo, com dignidade.

Ao nos movermos no tempo, em direção ao outro ilustre artista mencionado na abertura desta pensata, o humorista, escritor e apresentador de TV, Jô Soares, entramos num Brasil de heranças benditas e outras tantas, infelizmente para todos e cada um de nós, maldita.

Carregamos os erros de um passado colonial e imperial no qual a corrupção já existia, com os favores e o jeitinho brasileiro sendo moldado a partir do patriarcalismo, do colonialismo, do cartorialismo e da burocracia excessiva associados a sistemas tributários que sempre oneraram muito os brasileiros.

A impunidade, certamente, como cita Jô Soares, não é uma invenção brasileira, está entre os seres humanos desde que a humanidade começou a colocar cercas e a definir espaços, posses, benefícios, poder e começou a usar o sistema monetário. A troca de favores é tão antiga quanto as primeiras demarcações de terra e o advento do vil metal.

O que fizemos por aqui foi tornar cada vez mais comum tal prática, com os olhos da justiça a se tamparem diante dos ilícitos praticados pelas autoridades, ricos e poderosos. Quem desfruta de algum tipo de influência, até bem pouco tempo atrás, e ainda hoje, mesmo com todo o movimento histórico do judiciário e da polícia federal no encalço dos maiores criminosos do país, aqueles que atentam contra o erário público e alijam com estas ações os hospitais, as escolas, as estradas, a habitação popular, a segurança pública, consegue sair praticamente impune, muitas vezes pela porta da frente, de cabeça erguida, cerro em punho, do modo mais arrogante possível, a desafiar o povo honesto, maioria dos brasileiros, que todos os dias pulam da cama para conseguir o pão de cada dia...

Que a corrupção seja extirpada do Brasil e do mundo, assim como a impunidade que a estimula e protege quem é corrompido e quem corrompe, é o que se deseja e o que se percebe nestas linhas curtas mas tão fortes e simbólicas de um francês do século XVIII e de um brasileiro do século XXI.



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