9/8/2004 - No topo do Olimpo - 09/08/2004
O esporte pela paz
Emblema dos Jogos Olímpicos de Atenas, na Grécia.
Eles saltam, correm, lutam, nadam, marcam gols, acertam cestas incríveis, dão cortadas fenomenais. São super-homens e super-mulheres (esse ano as mulheres representam 44% do total dos atletas que comparecem aos jogos; a delegação brasileira tem em seu grupo quase 50% de mulheres). São seres humanos que fazem parte de uma elite onde músculos, força, dedicação e disciplina os fazem brilhar, para que se tornem membros de um clube muito seletivo, formado pelos atletas olímpicos.
A cada quatro anos são reunidos em alguma parte do planeta para celebrar a maior de todas as festas do esporte, as Olimpíadas. Independentemente dos vencedores, aqueles que terão a grande honra de voltar para casa ostentando em seus pescoços uma lustrosa medalha (de ouro, prata ou bronze), todos aqueles que conseguiram atingir índices em suas respectivas modalidades já podem se considerar autênticos campeões.
Uma das imagens mais carregadas de simbolismo das Olimpíadas modernas (esse termo é utilizado para diferenciar os eventos organizados depois de 1896, a partir da influência e dos esforços do Barão de Coubertin e dos investimentos do magnata Georgios Averoff, dos jogos originais, criados na Grécia Antiga, em homenagem aos Deuses do Olimpo, disputados entre o século VII a.C. e IV d.C.) é, sem dúvida, a corrida de uma maratonista suíça (Gabrielle Andersen-Schweiss), toda trêmula, no limite de seus esforços, competindo contra suas próprias dores e limitações, adentrando o estádio olímpico em Los Angeles, 1984, retirando forças de onde ninguém mais imaginava e, despencando logo depois de cruzar a linha de chegada. O estádio inteiro aplaudiu de pé. Foi comovente o esforço e, até hoje, as pessoas ainda se lembram da cena (o mais interessante é que quase ninguém se lembra dos vencedores daquela prova).
A suíça Gabrielle Andersen-Scheiss entra no estádio olímpico de Los Angeles em 1984,
atormentada por câimbras e
dores de lado, a poucos metros de uma chegada triunfal. Inesquecível.
Nos jogos de Sydney, há quatro anos atrás (2000), o nadador Eric Moussambani, da Guiné Equatorial, um pequeno país africano, protagonizou cena semelhante de reconhecimento olímpico em virtude de suas grandes dificuldades para completar uma prova no complexo aquático onde grandes feras como o russo Alexander Popov ou o australiano Ian Thorpe disputavam, braçada a braçada, os ouros olímpicos em suas especialidades.
Vencer é estar em Atenas.
Que nós, brasileiros, possamos entender isso muito bem. Justamente pelo fato de termos nascido num país onde há muitos problemas e que, em virtude disso, investimentos em esporte têm acontecido com maior freqüência apenas há alguns anos. Isso pode ser notado pelo excelente trabalho em esportes como o vôlei, a ginástica artística, o iatismo, o judô ou mesmo a natação. Lembrando que, ainda há setores sem patrocínio e sem os necessários recursos para realizar seus treinamentos. Como somos “novos” no ramo de preparação totalmente profissionalizada de nossos atletas, ainda não estamos no mesmo nível das grandes potências olímpicas. Certamente não estaremos no topo do quadro de medalhas...
O vôlei masculino do Brasil, assim como o feminino, vencedores recentes da Liga Mundial e do Grand Prix,
são fortes candidatos a medalhas nos Jogos Olímpicos de Atenas.
É lógico que esperamos algumas vitórias. Sabemos do enorme potencial das equipes de vôlei de quadra e de praia, acreditamos nas meninas da ginástica artística (força Daiane e Danielle), temos alguma tradição no iatismo (basta lembrar do supercampeão Robert Scheidt) e uma escola respeitada de judô. O que não podemos fazer é jogar uma carga de responsabilidade gigantesca sobre as costas desses extraordinários atletas. Eles representam as nossas cores nacionais com brio e desenvoltura e podem alcançar o degrau mais alto do pódio, especialmente se os pouparmos de qualquer tipo de pressão.
A despeito de todas as disputas, o que esperamos, com sinceridade, é que o esporte triunfe sobre as diferenças políticas (evitando que situações constrangedoras como os boicotes aos jogos de Moscou, em 1980, e Los Angeles, em 1984, se repitam) e sobre o terror e as diferenças que movimentam as guerras de nosso mundo (para que situações como a morte dos atletas israelenses nos jogos de Munique em 1972 jamais voltem a acontecer).
O espírito olímpico cultivado pelos gregos desde a origem desse evento no longínquo século VII a.C. apregoava que nesse momento de competição e congraçamento entre as diversas cidades participantes toda e qualquer disputa geopolítica fosse deixada de lado. Isso quer dizer que as guerras eram interrompidas para que os atletas pudessem mostrar toda a sua força, agilidade e beleza aos milhares de espectadores que tinham a possibilidade de assistir aos eventos.
Robert Scheidt e Daiane dos Santos são atletas de ponta que já conquistaram campeonatos mundiais e disputam,
com grandes chances, medalhas em Atenas, no Iatismo e na Ginástica Artística.
Torcemos sinceramente para que nossos atletas brilhem em Atenas. Esperamos que a bandeira e o hino de nosso país sejam freqüentes nos pódios gregos e que seus esforços possam ser coroados com o máximo reconhecimento que pode ser dado a qualquer esportista no mundo de hoje.
Entretanto, as maiores esperanças residem na paz, na competição justa (e sadia, sem a utilização de anabolizantes ou esteróides), no brilho do ouro conquistado as custas de treinamento, esforço, dedicação e muita disciplina, para que o espírito dos jogos da Antiguidade seja respeitado e corroborado para os novos e próximos encontros...
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