O encontro entre culturas diferentes sempre foi marcado por grandes conflitos. Os povos acabam entrando em atrito por tentarem impor aos oponentes a sua forma muito específica e peculiar de ver o mundo, pouco se importando com o que os outros pensam a respeito dos mesmos assuntos. Quando a relação é temperada por ingredientes que tornam o encontro ainda mais "caliente", como minérios valiosos, terras férteis e religião, podem ter certeza que as coisas ficam ainda mais complicadas.

Se pararmos e pensarmos a respeito da chegada dos europeus na América perceberemos que todos os aspectos ponderados no início do texto estiveram presentes nos contatos que se estabeleceram entre os nativos das Américas e os conquistadores (portugueses, espanhóis, ingleses, franceses ou holandeses). A mentalidade européia do período (séculos XV e XVI) baseava-se principalmente no mercantilismo e, as Américas representavam para os europeus, que estavam envolvidos no processo de expansão marítima, a possibilidade de superar as dificuldades encontradas para o estabelecimento do comércio de especiarias com o Oriente, até então monopolizado por árabes e italianos (no que tange as rotas do Mediterrâneo).

Os europeus tinham sede de conquistas, necessitavam de ouro e prata para rechear os cofres das monarquias recém estabelecidas, diziam querer propagar a fé cristã através de suas caravelas e sonhavam com o surgimento de oportunidades comerciais muito enriquecedoras em seus horizontes.

Os índios americanos viviam próximos da natureza, em muitos casos desprovidos de qualquer senso de posse, distanciados da idéia de que ouro e prata enriqueceriam suas comunidades quando transformados em moedas, cultuando em suas preces o frescor das límpidas águas, o alimento oferecido pelo solo e a enorme variedade de animais que podiam encontrar nas florestas.

Diferentes visões do mundo. Propostas ainda mais diversas quanto ao futuro esperado. Os índios vislumbravam o encontro com os deuses e o estabelecimento da paz e da prosperidade. Os europeus desejavam encontrar as cidades de telhados de ouro descritas por Marco Polo em suas anotações sobre as viagens que fez a Cipaio e Cipango (China e Japão), o tão sonhado eldorado. Pensavam ao longo do caminho no que teriam que fazer para derreter tais telhados...

A História

Miguel e Túlio são dois jovens vigaristas que pregam golpes pelas ruas da Espanha do século XVI para angariar recursos que patrocinem seus caprichos. Depois de descobertos ao tentarem passar para trás mais um grupo de pessoas, fogem e se escondem, sem que saibam, num dos navios do violento e poderoso Hernán Cortez.

Estavam a caminho da maior aventura de suas vidas, haviam embarcado para a América. Descobertos pelos tripulantes, pareciam condenados ao trabalho pesado nas plantações de tabaco ou açúcar dos colonos espanhóis na América Central Insular. Com o auxílio de um cavalo conseguem fugir e ficam a deriva até irem parar numa ilha aparentemente deserta.

Para a surpresa dos dois, há muitos sinais na ilha que se assemelham aos desenhos de um velho mapa ganho pelos dois em um jogo de dados. O mapa indicaria o caminho para a lendária El Dorado, a cidade do Ouro. No caminho teriam que enfrentar a natureza estonteante da região (recheada de perigos), encontrar os nativos e estabelecer relações com os mesmos, cruzar seus caminhos novamente com Cortez e seus homens e descobrir que há riquezas muito mais reluzentes e impressionantes que o ouro...

Trata-se de um desenho que nada fica a dever para os melhores exemplares da escola Disney (foi, no entanto, produzido pela Dreamworks). Ação, emoção e diversão para todas as idades.

Aos professores

1- O outro desperta enorme curiosidade em todos nós. Para que possamos entender as diferenças que nos separam temos que traçar um perfil bem definido de quem somos. A busca de nossa identidade pode ser feita a partir da compreensão de outros povos, de outras culturas. Incentivem seus alunos a pensarem como eles se relacionam com a natureza, de que forma encaram os índios (ou qualquer povo diferenciado em relação a eles), o que parece ser exótico para eles, se respeitariam (ou respeitam) os outros e suas preferências...

2- A visão apresentada pelo filme representa exatamente aquilo que aconteceu no contato entre as civilizações? O que a história registrou desses encontros? Há relatos produzidos pelos europeus e seus descendentes mas, e os índios, sobreviventes dos massacres promovidos pelos europeus, puderam falar a respeito dessa sua história?

3- A fauna e a flora da América daquele período com certeza sofreram modificações em relação aos tempos atuais, no entanto, é pouco provável que os produtores tenham retratado as espécies que desapareceram no filme. Seria interessante se os alunos pudessem fazer um levantamento das espécies vegetais e animais (a partir de projeções e aproximações quanto as espécies que conhecemos) apresentadas ao longo da animação e produzir um inventário e um dossiê sobre a biodiversidade de nosso continente.

4- Comparações entre "El Dorado" e outros filmes que retrataram o encontro entre os nativos da América e os europeus podem indicar semelhanças e diferenças na forma como nos posicionamos em relação a esse momento tão especial da história em diferentes décadas e escolas cinematográficas. Títulos que poderiam auxiliar esse trabalho seriam "1492 - A Conquista do Paraíso" e "Aguirre, a cólera dos deuses".

Ficha Técnica

O Caminho para El Dorado
(A Road to El Dorado)

País/Ano de produção:- EUA, 2000
Duração/Gênero:- 89 min., Animação
Disponível em vídeo e DVD
Direção de Bibo Bergeron, Will Finn, Jeffrey Katzenberg,
Don Paul e David Silverman
Roteiro de Ted Elliott e Terry Rossio
Elenco (vozes, no original em inglês):- Kevin Kline, Kenneth Branagh,
Rosie Perez, Armand Assante, Edward James Olmos, Elton John.

Links

- www.roadtoeldorado.com (site oficial, em inglês)

- http://www.adorocinema.com/filmes/caminho-de-el-dorado/caminho-de-el-dorado.htm