Assaye For Alle And Some - 18/01/2016
Rodolfo Mattiello
Mais um ano, mais tudo de novo. Mais trabalho, mais contas, mais aulas... Não, aulas ainda não. Mas nada nos impede de começarmos o ano regando a sementinha que há um certo tempo plantei com você, meu amigo teacher: a noção de que a língua é um organismo mutante, em constante metamorfose. Por isso, precisamos tomar muito cuidado quando vamos corrigir nossos alunos para evitarmos constrangimentos. Nossos e dos alunos.
Infelizmente, aqui no Brasil temos uma noção de língua muito conservadora. Qualquer tipo de invenção já é tratada como erro, como morte do português, como desrespeito da nova geração com nosso idioma. Mas como somos professores de língua estrangeira, jamais iremos cair nessa armadilha, pois iremos entender a seguinte situação: se nos apegarmos de fato à perfeição da produção da língua inglesa e sua maneira mais canônica possível, teremos que voltar muitos séculos no passado. Caso a gente tenha uma abordagem conservadora com a língua, iremos exigir de nossos alunos frases iguais a que vemos em (1).
(1) And whoso fyndeth hym out of swich blame,
They wol come up…
O que vemos em (1) é uma citação de Geoffrey Chaucer, do século XIV! E pasmem, a palavra they está usada de maneira diferente. O pronome está se referindo a uma pessoa do singular, no caso hym (him). Será que temos envergadura moral para dizer que Chaucer não sabia inglês? Mas afinal, qual sugestão para situações como essa? Isto é, o que fazer quando os alunos surgirem com produções que saem do usual?
Antes de mais nada precisamos, de uma vez por todas, colocarmos na cabeça que "language is changing constantly: the English of Shakespeare’s day doesn’t sound like our English today, and the English of 500 years from now will have changed even further", como disse Gretchen McCulloch. Nosso trabalho é oferecer aos nossos alunos ferramentas para que eles as utilizem para desenvolver o idioma, ou seja, o papel que possuímos é de coadjuvante nesse mundo educacional. Entre as ferramentas que oferecemos, está a função de mostrar aos alunos que qualquer tipo de inovação e criatividade linguística é bem-vinda. Em seguida, temos a tarefa de contextualizar a fala dos nossos alunos, precisamos mostrar que existem situações em que a criatividade com a língua não será muito bem aceita. Assim, conseguiremos manter o estímulo à criatividade com a língua estrangeira, incentivaremos a criação do ambiente de "laboratório linguístico" e a resposta de nossos alunos com certeza será a mais positiva a cada turma que passar.
O fato de they ter se tornado a palavra do ano em 2015 fazendo referência a uma pessoa no singular reforça nossa posição descentralizada dentro da sala de aula. Se ficarmos tolindo todo momento de criatividade de nossos alunos com a língua, vai chegar um momento em que eles não vão mais sentir segurança em se comunicar no idioma alvo. Precisamos entender a inovação linguística e encorajar nossos alunos a brincar com o idioma, assim a língua deixa de ser um bicho de sete cabeças.
# O Idioma Disfarçado de Língua Inglesa
Os conceitos e opiniões emitidos em artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.