Geração sem-sem - 07/01/2016
Tom Coelho
É provável que você já tenha ouvido falar da “geração nem-nem”, denominação dada aos jovens que nem estudam, nem trabalham. Conheça agora a “geração sem-sem”. Ela não é formada exclusivamente por jovens, pois não está relacionada à idade, mas sim a novos hábitos oriundos da tecnologia. Trata-se de pessoas que utilizam celular e redes sociais sem limites, e não raro, sem noção das consequências.
Em 2012, a atleta grega Voula Papachristou foi afastada dos Jogos Olímpicos de Londres pelo Comitê Olímpico de seu próprio país após postar em seu Twitter: “Com muitos africanos na Grécia, ao menos os mosquitos do Nilo ocidental vão comer comida caseira”.
Em dezembro de 2013, Justine Sacco, então diretora de comunicação da IAC, empresa detentora de diversos sites, entre os quais o Vimeo, embarcava para a África do Sul, sua terra natal, quando tuitou para seus 170 seguidores: “Indo para a África. Espero não contrair Aids. Brincadeira. Sou branca!”. Ao desembarcar, nove horas depois, descobriu que sua mensagem havia repercutido fortemente, sendo capitaneada por grupos de combate ao racismo. No dia seguinte, foi sumariamente demitida.
Há alguns anos eu pretendia contratar uma assessoria de imprensa. Minha prioridade não era uma empresa formal, mas sim um profissional que pudesse realizar o trabalho à distância, em uma autêntica relação de confiança. Por coincidência, recebi o currículo de uma jornalista bastante qualificada. Porém, antes de procurá-la, decidi analisar seu perfil também nas redes sociais. Qual não foi minha surpresa ao constatar que a moça passava várias horas todos os dias em um jogo on-line, compartilhando com todos suas conquistas. Como estabelecer um sistema de trabalho à distância nestas circunstâncias?
Todos sabemos os benefícios legados pelos avanços da tecnologia. O acesso à informação, a velocidade da comunicação, a interação com novas pessoas e o resgate de relacionamentos do passado. Entretanto, falta bom senso na utilização de celulares e redes sociais.
A necessidade de acompanhar uma infinidade de posts faz com que predomine a superficialidade. Qualquer mensagem com mais de três parágrafos é simplesmente ignorada. Pior, a partir de uma leitura rasa e incompleta, muitos julgam-se em condições de comentar e criticar com propriedade, mesmo sem ter compreendido o contexto.
O Facebook, por sua ampla difusão, é um ótimo exemplo. Neste canal, é muito comum as pessoas inserirem textos e imagens que não necessariamente representem quem elas são, mas sim uma projeção de quem gostariam de ser. E a coleção de selfies retrata um mundo cor de rosa que não necessariamente corresponde à realidade dos fatos.
Mas nada é mais preocupante – e irritante – do que o uso indiscriminado dos celulares. Pessoas com a “síndrome da cabeça baixa” reunidas presencialmente, porém focadas exclusivamente na tela de seus smartphones ignorando a tudo e a todos ao seu redor. Gente que liga o aparelho dentro do cinema e do teatro, responde mensagens durante aulas e reuniões, dirige falando ao celular colocando em risco a própria integridade e a segurança de outros.
Até o surgimento de uma próxima moda precisamos aprender a lidar com a tecnologia, evitando o risco de ser um sem-sem: sem limites, sem noção!
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