Perde-se 1/5 de uma hora aula, em média, no Brasil... O que fazer? - 06/01/2016
João Luís de Almeida Machado
“…um professor no Brasil gasta, em média, 20% do tempo de aula para colocar ordem na sala (a média internacional é de 13%). É muito tempo. Quer ver? Imagine uma escola que tenha a carga horária mínima estabelecida pela LDB (Lei de Diretrizes e Bases, de 1996), que é de quatro horas diárias — ou 800 horas distribuídas em 200 dias letivos. Se os professores dessa escola gastarem 20% dessas quatro horas diárias colocando ordem na sala de aula, serão 48 minutos perdidos por dia. Restam apenas 3 horas e 12 minutos para o conteúdo.” (Mais informações em artigo da Folha)
O ponto principal, neste caso, se refere, obviamente, ao desperdício de tempo que poderia estar sendo utilizado em prol de melhor formação dos alunos.
Disto surgem questões essenciais a serem respondidas:
– Qual é a responsabilidade de cada um quanto ao desperdício de tempo tão alto nas salas de aula no Brasil?
– O que pode ser feito para diminuir o tempo desperdiçado?
É primordial ressaltar que ao questionar as responsabilidades de cada um dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem não se buscam culpados, apenas destaca-se a necessidade de auferir onde há falhas no processo e de que forma podem ser sanadas, o que é o foco da segunda pergunta.
As responsabilidades incidem sobre todos os envolvidos, sem exceção, a começar no ponto mais alto desta rede, ou seja, pelo próprio Ministério da Educação, que precisa e luta urgentemente para compor um currículo unificado para todo o país, modernizando-o e, ao mesmo tempo, provendo atualizações e cursos para as escolas e docentes quanto a sua aplicação neste novo contexto em que vivemos, já prevendo, por exemplo, escolas atentas ao perfil de alunos que são nativos digitais.
Cabe aos gestores de escolas, por sua vez, cobrar as autoridades responsáveis pela implantação deste novo currículo e, também, prover para seus docentes os meios, recursos e formações que os equipem para atuar de forma consequente e eficiente juntamente aos alunos, já prevendo que o papel dos professores está sendo modificado, cabendo a ele ações de orientação, planejamento, acompanhamento in loco, estímulo e avaliação de ações onde o aluno seja muito mais participativo do que é no presente momento, neste modelo de educação bancária que ainda existe nas escolas.
Aos professores, outrora detentores de todo o saber, deve ficar claro que devem continuar estudando, compreendendo o conteúdo específico de suas disciplinas, tendo foco nos segmentos em que atuam, mas que como gestores da aula, devem ter uma planificação muito bem feita de suas ações, realizando e agindo em prol de ações orquestradas de seus alunos, relacionando saberes importantes que antes eram ensinados de forma estanque ao que o mundo lá fora faz com estes conhecimentos, articulando dentro de sua sala de aula as competências e habilidades dos estudantes, abrindo espaço para o uso de diferentes linguagens e formas de expressão e também criando canais de conexão via tecnologia com o que sucede fora.
Aos pais compete acompanhar as escolas, cobrar as mudanças necessárias, apoiar os educadores, compreender as modificações em curso e estar ao lado de seus filhos, seja acompanhando seus compromissos escolares ou indo a escola para participar de eventos e reuniões.
Os alunos precisam ser melhor orientados e também ouvidos quanto a escola como é hoje e em que poderia melhorar. É o cliente final, aquele que irá usufruir diretamente do produto trabalhado na sala de aula e, portanto, quem tem o interesse maior e mais imediato na melhoria da qualidade das aulas e cursos nos quais está inserido. É importantíssimo que, no entanto, a escola seja apresentada a ele de forma diferente daquilo que conhece ou ouviu falar, como um ambiente que irá provocar, estimular, inserir, gerar oportunidades, fazer com que cresça e se torne cidadão do mundo, trabalhador com reais chances de prosperar e de melhorar a vida ao seu redor. Para isso, a escola precisa estar sintonizada com estes alunos e com o contexto no qual atua.
A aula, especificamente, teria outra dinâmica de aplicação com todas estas alterações preconizadas. Começaria sempre antes do aluno chegar na sala de aula, com ações antecipadas em aulas anteriores ou por meio de recursos e plataformas tecnológicas. Leituras, vídeos, imagens, músicas, animações e outras mídias seriam oferecidas ao longo do caminho para ativar produções e antecipar movimentos.
O trajeto da aula já teria um desenho prévio e atividades como a chamada ou verificação de tarefas não tomariam tempo ou teriam diminuição considerável neste percentual de perdas percebido nas escolas brasileiras hoje.
A indisciplina teria considerável redução, com o foco em projetos e ações relacionadas ao contexto de vida de todos, pois isto aumentaria o interesse e a participação dos alunos no processo de busca de conhecimentos.
A meta a ser atingida teria que ser de reduzir o percentual de tempo perdido para, no máximo, 5% de uma hora aula, o que, em termos reais, significaria para uma aula de 50 minutos, “perder” entre 2 e 3 minutos. Se é possível? Acredito que sim, mas para isso teríamos que oferecer todas estas pré-condições e realizar um trabalho de consolidação desta nova cultura de ação educacional entre todos os envolvidos.
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