Maturidade e sonhos juvenis - 11/12/2015
Wanda Camargo
Ao cursar o ensino médio, e principalmente o superior, jovens costumam ser generosos e solidários, repletos do desejo de contribuir significativamente para tornar o mundo melhor, mais igualitário e pacífico.
Os idealistas dentre eles preservarão este sentimento por muitos anos, embora aos poucos a crueza do mundo e os conflitos de relacionamentos, a necessidade de sobrevivência em mercados de trabalho extremamente competitivos, a convivência com pessoas egoístas e cruéis, possam destruir algumas ilusões. Em parte, isso é um processo natural, embora desagradável, do que denominamos amadurecimento.
Crescer não é fácil, a adolescência é reconhecidamente uma fase complexa, cheia de boas percepções, mas também de revoltas e incompreensões, fatos que adultos muitas vezes esquecem, criando antagonismos que podem interferir no próprio processo educacional, e que necessitam tempo e paciência para serem contornados.
Despreparados para lidar com os aspectos não intelectivos da personalidade, inexperientes no relacionamento interpessoal, é quase impossível para os jovens, sem terem ainda desenvolvido completamente a habilidade cognitiva e social, dominarem as próprias emoções.
Jean-Jacques Rousseau, um dos principais filósofos do iluminismo, considerava o período da adolescência como de instabilidade e profundos conflitos emocionais, devido ao processo natural de maturação biológica, mas também como uma espécie de renascimento da espécie humana, na procura por seu lugar numa comunidade. Assim, propunha que apenas um contrato social poderia assegurar a segurança e a vida em sociedade, ou seja, a vontade coletiva deveria sobrepor-se à individual, na busca pela coletividade ideal.
Esta ideia, nobre e solidária, parece ser inerente a quase todos os educandos, ou a esta fase da vida estudantil, provocando muitas vezes a adesão às religiões ou associações de benemerência, partidos políticos ou entidades de voluntariado. Embora sejam positivas de forma geral, algumas dessas atividades trazem o risco de levar o jovem a uma crença excessiva em seus dogmas, levando-o a sucumbir à tentação fácil do pensamento único; quando parece que o caminho que se adota é, não apenas o melhor, mas o único que tem reais qualidades, relegando quem não o reconhece deste modo a uma posição, não de adversário, discordante ou dissidente, mas de inimigo a ser destruído.
Renunciar aos ideais assumidos na juventude, aos sonhos de um mundo melhor, igualitário, de interesses comuns e compartilhamento não é simples, pois realmente embasado em bons sentimentos. Entretanto, não pode impedir a visão da realidade. Dirigentes que pareceram maravilhosos em algumas fases da vida podem revelar-se mais tarde mentirosos e corruptos, o que é lamentável, mas não pode implicar na manutenção do autoengano como maneira de fugir da decepção e da dor do amadurecimento.
Todos nós entendemos a necessidade do oferecimento de melhores condições à nossa juventude, sabemos o que a ausência de um verdadeiro processo educativo pode ocasionar para o futuro do país; porém assistimos inertes nossos impostos sendo desviados para financiar processos de enriquecimento ilícito, fortunas serem depositadas em paraísos fiscais e larápios escaparem impunes.
A escola enfrenta hoje a mesma crise cultural que afeta as relações que os homens mantém entre si; e a liberdade se torna um fardo, uma responsabilidade difícil de assumir, sendo mais fácil a adesão a uma ideologia ou facção partidária, o problema da escolha é também o de assumir racionalmente suas consequências; como já afirmou George Bernard Shaw, “liberdade quer dizer responsabilidade: é por isso que tanta gente tem medo dela”.
# Artigo: A Educação Física em questão
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