As multi faces da pronúncia - 03/12/2015
Rodolfo Mattiello
Após um tempinho sem dar as caras por aqui (espero que alguém tenha sentido falta), volto para falar com meus colegas teachers sobre algo que ainda aqui no nosso amado(?) Brasil está muito simplificado e, de certa maneira, mal compreendido. Teimamos em achar que pronúncia é, acima de tudo, sinal de um bom nível de competência linguística, além de ser totalmente associada com combinação fonética na hora de se (re)produzir uma determinada palavra.
É óbvio que à primeira vista o sotaque é o que percebemos e notamos de mais diferente quando conversamos com pessoas de outros lugares, quer seja dentro de um país ou não. Mas, repito, isso não é necessariamente um fator preponderante para se rotular a fala de uma pessoa, principalmente de nossos alunos que estão aprendendo uma outra língua. Se fizermos uma análise da produção fonética de algumas palavras - lembrando que isso não representa, obrigatoriamente, alto nível de competência linguística - encontraremos variações como em (1), (2) e (3).
(1)Have you found interesting / deI /ta?
(2)Have you found interesting / dα /ta?
(3)Have you found interesting / dæ /ta?
Em todos os exemplos, temos instâncias de variação fonética da mesma palavra encontrada na oralização e, caso não tenhamos cuidado na hora de nos prepararmos para dar as aulas, poderemos cair na armadilha de corrigir ou avaliar mal nossos alunos que por acaso produzirem algo diferente do que nós, professores, sabemos. E você pode me dizer "ah! mas essas variações são aceitas, não estão erradas". Só que precisamos então dar uma olhadinha na etmologia da palavra, isto é, na sua origem. A palavra em questão vem do latim datum e seu plural, data, acabou sendo universalizado, portanto, pode-se imaginar que a pronúncia original é a encontrada em (2). Portanto, temos aqui o exemplo de como um "erro" acabou se tornando uma variação oficial, pois (1) e (3) são produções fonéticas derivadas da palavra original latina.
Assim sendo, nós teachers temos a obrigação de prestar atenção se aquela pronúncia não é uma variação. Depois, precisamos ver se essa pronúncia da palavra causa algum tipo de mal entendido ou ambiguidade porque às vezes, aquele tipo de pronúncia é resultante do sotaque da língua nativa de nosso aluno e, talvez, ele não queira sufocar essa identidade e isso não vai causar problemas. Mas não é só isso, como diriam aquelas propagandas do 011-1406 dos anos 90 e 2000.
Em uma de minhas visitas em escolas, estava esperando a diretora e passaram por mim uma turminha de alunos provavelmente do Ensino Infantil e a professora. Por se tratar de uma escola bilíngue, a comunicação que pude presenciar foi toda em inglês, foi quando a teacher perguntou a um aluno "Do you want a carrot?" (acredito que tenha sido essa a palavra, mas não me lembro com certeza se foi carrot ou outro legume). A entonação de frases também faz parte da pronúncia de uma língua e, portanto, da fluência. As perguntas fechadas (yes-no questions) tem entonação diferente das interrogações em português, pois aqui elas apresentam altos e baixos, se colocarmos em um gráfico, teremos algo parecido com uma curva senoidal. Já em inglês, essas perguntas são decrescentes, ou seja, o final da frase, por mais infantilizada que seja para se comunicar com alunos do EI, a entonação vai caindo e o que pude presenciar naquela escola e em outras que não eram bilíngues, é que o professor é altamente influenciado pela língua nativa - o português - e acaba oferecendo aos alunos um modelo de pergunta que não está associado ao idioma estrangeiro.
Muitos colegas acabam caindo nessa cilada quando vão falar com os alunos ou quando vão avaliar as produções orais deles. Quer dizer, alguns teachers ficam tão bitolados com sotaques e pronúncia correta de palavras e acabam se esquecendo de que uma boa pronúncia vai além dos fonemas e da produção canônica das palavras que encontramos nos dicionários. Mas a entonação também não é uma estrela que aquece sozinha o planeta Pronúncia, tem também o tipo de discurso, os pitches, mas esses são assuntos pra um outro texto porque este já ficou bem longo.
# Artigo: #InglesNoEnsinoPublico
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