A importância do diálogo no processo de gestão de escolas - 26/11/2015
João Luís de Almeida Machado
“Nas minhas relações com os outros, que não fizeram necessariamente as mesmas opções que fiz, no nível da política, da ética, da estética, da pedagogia, nem posso partir de que devo ‘conquistá-los’, não importa a que custo, nem tampouco temo que pretendam ‘conquistar-me’. É no respeito às diferenças entre mim e eles ou elas, na coerência entre o que faço e o que digo, que me encontro com eles ou com elas.” (Paulo Freire, em sua obra “Pedagogia da Autonomia”).
A gestão das escolas precisa atuar de modo mais profissional. Isso significa formação, inserção de recursos e ferramentas adequadas e modernas para a execução dos trabalhos, liderança efetiva, sintonia com o mundo da educação e bom relacionamento entre todos os membros da equipe.
É muito comum na educação, assim como em outros segmentos, como na área de saúde, que as atribuições de gestão sejam executadas por profissionais da área, no caso, por professores ou pedagogos.
Neste sentido é prioridade que a estes profissionais sejam oferecidas condições para que se aperfeiçoem e conheçam mais a fundo as ferramentas da gestão e que tenham disposição e interesse para atuar em processos gerenciais, muito diferentes daqueles relacionados ao trabalho em sala de aula, na docência.
Uma das ferramentas essenciais tanto para as aulas quanto para o trabalho em gestão é o diálogo. Para muitas pessoas quando o diálogo é abordado tendo em mente a gestão de equipes e pessoas basta falar bem. Não é só isso. A expressão qualificada em língua portuguesa é um dos elementos fundamentais, sem sombra de dúvidas, mas além deste diferencial, em qualquer área de atuação e não somente na educação, são essenciais atributos como:
a) Clareza na comunicação. E isso significa, na prática, ser mais objetivo, direto, específico, sem floreios ou ainda focado naquilo que se pretende ao se efetivar uma comunicação.
b) Informação completa. Quem comunica tem que estar com a informação completa para realizar o diálogo, trazendo à tona os dados necessários para que se efetive de fato a troca de ideias.
c) Abertura para ouvir as diferentes opiniões e participações. Estar aberto a ouvir o que os interlocutores têm a dizer é igualmente parte desta missão. E não apenas escutar, estar atento, mas abrir-se a possibilidade de que algumas destas ideias diferentes possam definir mudanças de rumo se forem, de fato, interessantes e enriquecedoras para o que se discute.
d) Firmeza na comunicação de determinações. Ser capaz de comunicar enfatizando aquilo que é, desde o princípio, determinação a ser cumprida por todos, ainda que exista abertura para ouvir argumentos que se oponham a isso e ponderar com sabedoria estas intervenções.
e) Assertividade. Ser assertivo significa ter posição clara ao comunicar algo o que é deveras importante tanto para as lideranças quanto para os colaboradores. O posicionamento deve estar respaldado em argumentos bem construídos, embasados e que firmem seus pontos de vista para que sejam realmente considerados pelos demais.
f) Sentido de trabalho em equipe. Capacidade de admitir e trabalhar em prol daquilo que foi definido pela maioria ainda que não seja o que você pensava ou propunha em relação a isso.
g) Expressar-se livremente. Muitas pessoas não se sentem à vontade diante de seus superiores ou de colegas de trabalho e deixam de expressar suas opiniões e isso é ruim para o grupo e também para a pessoa pois todos perdem, por vezes, comentários e inserções que poderiam enriquecer o debate.
h) Admitir erros. Ainda que para muitas pessoas o erro seja um problema e não uma possibilidade, não há iniciativa a prova de erros e, é por meio destes que tantas vezes se efetivam, num processo, as respostas adequadas ao problema. A comunicação é muitas vezes truncada porque as pessoas que dela participam não admitem que se pense fora de uma linha pré-determinada, considerando isso errado. Pensar diferente, ainda que por vezes isso possa induzir a respostas erradas, ajuda a ampliar o ângulo pelo qual se observa e se analisa uma determinada questão.
i) Gestão democrática. Quando prevalece uma hierarquia rígida, que impede a participação de todas as pessoas do grupo, tolhidas pelas lideranças, ou então por que alguns participantes querem monopolizar a fala e justificar sua posição e cargo, todos perdem. A empresa, os gestores e a equipe, pois boas ideias morrem no nascedouro já que não há espaço ou liberdade para opinar e expressar ideias.
j) Cooperação e não competição. Em algumas empresas ainda prevalece a ideia de que os colaboradores são competidores. Isso inibe talentos já que, tantas vezes, as lideranças temem a ascensão de alguns de seus subordinados e os sufocam. Não percebem estes gestores que ao valorizar as pessoas de suas equipes o trabalho flui e os resultados favorecem não somente aqueles colaboradores em particular mas toda a equipe e a empresa.
Nas escolas há ainda, por vezes, deficiência no processo de comunicação interna. Direção que pouco ou nada interage com a coordenação pedagógica; orientação educacional que não subsidia a coordenação ou a direção com as informações obtidas juntamente aos alunos; competição entre pessoas que atuam numa mesma função...
Além da clareza necessária para se efetivar a comunicação, com o diálogo como principal ferramenta, as escolas precisam ter diretrizes claras para todos os seus colaboradores e, neste processo, visando efetividade e transparência, que reuniões entre as pessoas da equipe ocorram regularmente.
Criar um calendário, prevendo reuniões periódicas entre os profissionais, juntando grupos de interesse para deliberar os planos e ações futuras, trabalhar as questões do cotidiano ou prever e projetar o futuro é ação fundamental.
É inconcebível que numa escola, por exemplo, não existam reuniões regulares dos gestores pedagógicos com a equipe docente. Não apenas como formalidade, mas como algo efetivo, em que se oriente a ação e estudos de atualização sejam realizados. As reuniões de início e meio de ano, que tantas escolas realizam, precisam ter foco tanto para as questões de planejamento de ações quanto para discutir e enfatizar aspectos do dia a dia das unidades educacionais, sua filosofia de trabalho, as inovações em curso, o que precisa ser revisto, as questões de atendimento e relacionamento com alunos e familiares...
Ter grupos de estudo semanais ou quinzenais não é algo que se aplique somente a relação entre gestores pedagógicos e professores, mas também a equipe da secretaria, orientadores educacionais e os próprios gestores principais, como diretores e coordenadores pedagógicos. Se na escola não há estudos e processos reflexivos, pautados no diálogo diário e em reuniões periódicas o que se estabelece é uma real contradição. Afinal de contas, se as escolas se propõem a educar, também nelas deve prevalecer um ambiente que proporcione contínua educação e aperfeiçoamento entre seus colaboradores. A escola é um local que pulsa, cheio de vida e, neste sentido, cabe a seus agentes, a todos eles, fomentar de fato, como ideia e realização, a constante busca pelo conhecimento, formação e aperfeiçoamento.
# Artigo: Precisamos realmente é de uma Reforma Civilizatória
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