Você conhece as pessoas com quem trabalha? - 03/11/2015
João Luís de Almeida Machado
O ritmo avassalador do mundo globalizado e as demandas crescentes das empresas associado ao processo de inserção de tecnologias no cotidiano das pessoas têm como uma de suas consequências silenciosas e pouco perceptíveis o distanciamento entre as pessoas, mesmo entre aquelas que trabalham lado a lado e passam horas a fio muito próximas.
O que num passado não tão distante era muito comum como conhecer as pessoas de seu departamento, por exemplo, não ocorre com a mesma frequência e intensidade.
Fechados em seus cubículos ou estações de trabalho, colaboradores de uma mesma instituição conhecem apenas superficialmente seus pares. A rotina da vida de muitas pessoas se tornou estressante e se reduziu a um cotidiano marcado pelo trajeto de casa para o trabalho e na direção contrária ao fim do expediente.
Até mesmo nas famílias é possível perceber situações em que, por não se aproximarem, pais e filhos não se entendem ou mesmo cônjuges se distanciam e o relacionamento se desfaz. Falta diálogo, há uma ausência na presença, se gasta mais tempo com outras ações ou coisas do que entre as pessoas. Há pais que não conhecem os amigos de seus filhos, não sabem o que eles gostam de fazer e nem desconfiam como passam seu tempo livre. Há casais em que as pessoas não se dedicam um ao outro, centrados que estão em si mesmos ou no trabalho e isso vai esgotando o relacionamento.
Parece dramático demais? Verifique no seu contexto profissional ou pessoal se isso não está acontecendo.
Você conhece seus colegas de trabalho? Sabe quais são seus hobbies? Conhece suas famílias? Já conversou com ele sobre seus filmes ou livros preferidos? Compartilhou pessoalmente suas preferências musicais? Participou de caminhadas, atividades esportivas ou afins com os colegas? Vocês já tiveram a oportunidade de sair em grupo para uma pizza?
Sabemos coisas do trabalho. Conhecemos um pouco da trajetória profissional e das habilidades e competências de nossos colegas. Somos informados sobre o currículo e a formação acadêmica ou técnica destas pessoas. Por vezes vemos fotos pessoais em cima de suas mesas ou em algum momento furtivo imagens de seus familiares no computador. A conversa informal, o bate-papo da hora do café, o almoço no refeitório da empresa sem que se fale sobre o trabalho, todos momentos importantes para esta aproximação e descontração, necessários para a saúde mental e para o entrosamento de todos perderam espaço.
É comum ver pessoas fazendo as refeições sozinhas e, certamente, isso não é bom para ninguém. Somos seres sociais, precisamos uns dos outros, temos uma necessidade cultural de compartilhar espaço, de ouvir, de falar, de fazer amigos. As redes sociais na internet, apregoadas por tantas pessoas como espaços de intensa interação, não podem restringir o contato pessoal. Estas ferramentas auxiliam a comunicação, mas não substituem a presença, vital elemento para a saúde mental de cada um de nós.
Percebemos a cada dia que passa que mais e mais pessoas se refugiam em seus celulares mesmo quando cercadas de inúmeras outras com as quais poderiam confabular. E isso não apenas em locais públicos, como aeroportos ou rodoviárias, por exemplo, também no trabalho ou nas casas das pessoas, nas quais a própria estrutura familiar está em xeque, tantas vezes, por conta da falta de diálogo, participação, carinho e aconchego.
Não há nada de errado na utilização das redes sociais exceto quando elas se tornam prioridade na vida das pessoas e substituem as relações pessoais essenciais do mundo real. Como elemento de contato e aproximação são recursos valiosos, no entanto, quando você estiver próximo a um amigo, colega de trabalho ou familiar, dispense o uso destas tecnologias e vá pessoalmente falar com esta pessoa.
A produtividade ou eficiência, a competição e a disputa por mercados, o profissionalismo e o cumprimento das obrigações, por sua vez, não podem afastar as pessoas. Agir de modo correto no trabalho não implica abdicar das relações sociais, pelo contrário, podem e devem ensejar o surgimento de novos contatos, laços pessoais e amizades.
Estender a mão para cumprimentar uma pessoa, num aperto de mão, olho no olho, permite que se transmita a necessária confiança, que se passem adiante valores ou ainda que toda credibilidade e empatia surjam para que as pessoas fiquem mais próximas.
Procure conhecer melhor as pessoas com quem trabalha e convive. Isso certamente irá melhorar a sua qualidade de vida e também a de todos com quem se relaciona.
# Artigo: É preciso aprender a ouvir
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