Controvérsias - 30/10/2015
Wanda Camargo
Educadores têm deveres e direitos, embora muitos desses últimos não tenham sido respeitados devidamente por nossos governantes. Educadores têm também algo maior, têm missão; o que define em última análise a razão de ser da profissão, transcendendo meros deveres.
A missão da Educação e do Educador está ligada intrinsecamente ao conhecimento e sua construção, diz respeito a uma parte importante da formação das pessoas e da sociedade. Educadores devem facilitar o aprendizado do pensamento, podem “ensinar a pensar”, jamais, porém, “ensinar o que pensar”.
O sindicato dos professores da rede estadual paranaense de ensino está em campanha contra um projeto apresentado por um deputado. Chamado “Escola sem partido”, o projeto pretende impedir o que chama de “doutrinação ideológica” dos alunos pelos professores. A ideia central, aparentemente, é criar uma espécie de código de ética que estabeleceria limites para o proselitismo político partidário ou sindical em sala de aula.
O sindicato afirma que o projeto vai contra o direito de livre atuação dos professores e, até mesmo, seus direitos sindicais. As manifestações em sala de aula que teriam ocorrido posteriormente ao lamentável episódio de violência contra os professores em frente à Assembleia Legislativa em abril último, constituiriam a forma como os docentes poderiam relatar aos alunos a sua visão dos fatos. Se houve referencias ao atual governo isso decorreu naturalmente de que foi este governo o responsável, em seu ponto de vista. Eventuais excessos de professores teriam sido pontuais, constituindo exceção dentro de uma ampla maioria.
O direito à opinião é inalienável, externar juízos sobre assuntos controversos faz parte da visão do mundo, e alunos precisam, sim, conhecer vários aspectos de um mesmo acontecimento, para formarem seus conceitos próprios, para exercerem suas cidadanias.
No entanto, docentes tem uma função precípua em nossa sociedade, são eles que transmitem conteúdos nas várias áreas do saber humano: linguagem, matemática, história, geografia e outras, indispensáveis à formação do profissional que no futuro desempenhará, com competência, todas as funções indispensáveis à comunidade. Médicos, engenheiros, empresários, professores e todas as demais atividades demandam conhecimentos específicos, e não se espera de um verdadeiro mestre gastar a maior parte de seu tempo externando “opinião” – que é, segundo Platão, o contrário de ciência – a seus alunos; os conteúdos das disciplinas demandam um bom professor, aprender sozinho é mais difícil e desordenado.
Professores ensinam muito além de seus conteúdos quando são eficientes na transmissão de seus conhecimentos, pontuais, assíduos, bons colegas, e verdadeiramente interessados pelos estudantes e suas aprendizagens.
Entretanto não precisamos de mais uma lei, o país está repleto delas, nem todas acatadas, muitas ignoradas, desrespeitadas, inúteis, excessivas; necessitamos mais de bom senso que de novas leis.
Pelo grande respeito que merecem, professores são ouvidos pelos alunos com pouca crítica, quase sempre prevalece o antigo conceito latino “Magister dixit”, o mestre falou. Isso é positivo e desejável quando tratamos de temas curriculares, pontos pacificados sobre os quais há consenso acadêmico, e que poderão vir a ser contestados em outros níveis educacionais, contribuindo, talvez, para a inevitável evolução tecnológica e científica.
Questões que dependem de opinião ou de ideologia devem, por justiça, serem debatidas entre iguais, pessoas com poder equivalente de convencimento ou aceitação.
# Artigo: A escolha de uma escola para os filhos -
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