Dia de professor - 15/10/2015
João Luís de Almeida Machado
6 horas da manhã
Toca o despertador. Acordo e depois da higiene pessoal coloco a roupa que irei utilizar no dia longo que terei pela frente. O café da manhã é acompanhado pelo noticiário para que, desta forma, chegue na escola com as novidades na ponta da língua, seja para a conversa com os outros professores, seja para as aulas mesmo, nas quais como professor de humanidades, isso sempre tem que estar na ordem do dia com meus alunos
6h30
Já a caminho do colégio, escutando música para que o astral fique em conformidade com os desafios desta jornada. Se for dia de turma muito agitada o melhor é colocar uma trilha sonora mais calma para tentar frear um pouco o agito da galera. Se o que me espera é uma turma tranquila demais é preciso um som mais agitado para despertar a turma com minha “vibe” roqueira ou em ritmo de samba.
7 horas
Já na escola e, mais especificamente, tendo os primeiros contatos com os colegas de trabalho. Neste papo rápido rola de tudo um pouco, do clima a política, passando pelo futebol ou pela economia, com algumas rápidas incursões sobre o programa da TV que todo mundo (ou ninguém) acompanha. Em tempos de internet como agora, ao invés de televisão, o pessoal está vendo mesmo é filmes ou séries em streaming.
7h10
Primeira aula do dia e os alunos ainda sonados. Hora de tocar bumbo, bateria ou elevar o tom de voz para que acordem todos. Verificar atividades propostas é bater de frente com desculpas mil, da tradicional “esqueci o caderno em casa” ao muito honesto “não fiz”, há de tudo um pouco. Durante as explanações já fico de olho nos alunos do fundo, que vivem no mundo da lua, distantes, por isso teimo em chama-los para que me “ajudem” a reforçar algum conceito ou dividam alguma experiência.
8 horas
Dobradinhas numa turma muito interessada. Fazem e entregam tudo. Adoram ler. Participam ativamente. Querem estudar nas melhores universidades e desde cedo entenderam que isso demanda participação. Mais do que isso, são críticos e a maioria deles gosta de estudar. Há um ou outro perdido nesta sala, mas no geral constituem grupo que todos os professores da escola admiram e sabem que irão longe na vida. Que delícia de aula! Quisera todos fossem iguais a vocês quanto ao interesse e participação!
9h40
Intervalo. Hora do café. Bate-papo animado com os colegas de todos os dias. Falamos do mundo e deste mundinho tão nosso que é a escola. Alunos que dão trabalho demais são tema tanto quanto aqueles que são ótimos e encantam todo mundo. Trocamos ideias sobre projetos, falamos sobre as famílias, sugerimos filmes ou programas, marcamos para tomar um café fora da escola ou para jogar bola e assar uma carne no final de semana.
10 horas
De volta a sala de aula. Uma hora-aula (que tem 45 ou 50 minutos) com a turma mais difícil do colégio. Dão um trabalhão porque não entenderam os motivos que os levam a estar ali. Há aqueles que não gostam e vão porque os pais obrigam. Outros até sabem porque é preciso estudar, mas ainda assim fazem corpo mole e não entregam atividades ou estudam para as provas. Como professores não desistem nunca, vamos na batalha para tentar fazer com que consigam melhorar um pouco seu rendimento ou para que gostem ou entendam a escola, a educação e seus propósitos.
10h50
Mais uma dobradinha. Desta vez com uma sala bem heterogênea, mais dentro do padrão da escola, sem altos ou baixos, na média. Apesar do cansaço, a variação de estratégias e o uso de recursos diferentes tem boa repercussão juntamente ao grupo. Usamos trechos de vídeos, poesias, música, jornais, revistas, arte, charges, histórias em quadrinhos e tudo o que for preciso para ativar a aprendizagem. Há projetos e os alunos se envolvem. Reclamam, como é de se esperar entre adolescentes no Ensino Médio, mas fazem e entregam bons resultados. Ao final de tudo, prevalece nesta sala e também nas anteriores um sentido de cumplicidade e companheirismo, respeitados os papéis que ali temos, que nos permite atingir as metas propostas e o necessário e fundamental respeito. No final do ano e dos ciclos que se completam ganhamos sempre, seja no conhecimento, seja na amizade.
12h30
Fim das aulas do dia. Hora do almoço.
14 horas
Mais algumas aulas à tarde. Desta vez para jovens e adultos em outra escola. Curso supletivo oferecido por uma empresa. Outro astral e interesse. Muita gratidão dos alunos e percepção de que estão tendo uma nova oportunidade. Saem de suas casas ou do trabalho, abrem mão da companhia da família ou dos amigos para estudar. São esforçados apesar de algumas limitações ou dificuldades. Trabalho fabuloso este juntamente a grupos mais maduros. Muitos deles estão olhando para a frente já pensando numa universidade. Queremos muito que isso aconteça e nos esforçamos para que as aulas sejam muito bem aproveitadas.
17h
Fim de um longo dia de aulas. Hora de ir para casa. Ler, estudar, preparar aulas, corrigir exercícios, lançar resultados de exercícios, projetos ou provas no site da escola.
A hora de parar? É, o dia precisa ter um fim quanto as atividades produtivas, mas a cabeça, apesar de relaxar de diferentes formas, seja na cozinha preparando uma refeição gostosa para a família, se divertindo com o animal de estimação, curtindo os filhos ou o cônjuge, assistindo ou programa na televisão, ouvindo música ou lendo um livro, não perde de vista a escola, a sala de aula, os alunos... E do lazer também brotam ideias, aulas, exercícios...
É, assim vai o dia de um professor, e com o passar de vários deles, as semanas, meses e anos.
Se vale a pena? Não trocaria um dia sequer da minha vida de professor por qualquer outra experiência profissional...
# Artigo: Em busca da chave mágica
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