Dia de aula com tecnologias - 17/09/2015
João Luís de Almeida Machado
João foi acordado por seu telefone. Eram 6 horas da manhã. Suas aulas iriam começar em uma hora e meia e ele acordou um pouco mais cedo que o usual para estudar. O aplicativo da escola é que o acordara, com um chamado para a revisão que pretendia fazer para a prova que teria logo mais, na 3ª aula daquela quarta-feira chuvosa.
Depois de uns dez minutos que precisou para sua higiene pessoal e um copo de água para hidratar, o jovem de 15 anos, estudante do ensino médio de um colégio no interior de São Paulo, acessou em seu tablet um buscador de recursos recomendado por seus professores, parte dos recursos digitais indicados pela Editora/Sistema de Ensino que fornecia recursos para sua escola.
Encontrou videoaulas relacionadas aos conceitos da prova de logo mais, curados e aprovados pelo YouTube Edu. Viu também páginas dos livros que usava em formato digital, resgatando anotações que fizera no próprio tablet e que estavam disponíveis nas nuvens, para acesso em qualquer lugar ou momento em que delas precisasse.
Não satisfeito buscou em um HD Virtual alguns exercícios enviados pelos professores de exatas, matérias que seriam avaliadas neste dia. Teve até chance de ver apresentações em powerpoint usadas pelos professores com falas dos docentes gravadas pois tudo havia sido feito com o uso de lousas digitais interativas.
Uma maravilha, pensou o jovem. Bastava uma boa conexão à internet, ou sem alguns casos nem isso, caso os arquivos já tivessem sido baixados anteriormente.
João, mesmo tendo todo esse acesso à tecnologia não abria mão dos livros. Antes de dormir tinha lido algumas páginas de “Sonhos de Einstein”, que lhe inspirava a estudar física, matéria em relação a qual tinha alguma dificuldade. Tinha sido uma indicação de seu pai, que apesar de ser profissional da área de jornalismo, por ser leitor assíduo, tinha sempre algum bom livro para indicar.
O pai de João, por sinal, também era cinéfilo e cultivara o gosto pela sétima arte entre os filhos. Era comum que ele apresentasse dicas de filmes que poderiam ajudar nos estudos. Para o estudo de ciências, indicara uma produção que abordava a vida e produção de Charles Darwin.
Quando se deu conta, com aquela revisão de conteúdo, já eram quase 7 horas. João tinha que se apressar para chegar a tempo na escola.
Deu tempo. Foi em cima da hora, mas João correu e pegou o seu Benedito quase fechando o portão. Apressou-se para chegar na sala de aula antes do professor. Encontrou a Célia, o Ênio e o Paulinho na entrada da sala. Trocaram cumprimentos e foram logo perguntando se estavam preparados para a prova.
A professora Daniela entrou na sala e logo pediu a todos que acessassem a cópia digital do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, pois continuariam trabalhando esta obra na aula de literatura. Um simulador instalado no projetor digital dava a aula a possibilidade de dramatizar a obra do grande romancista e os alunos estavam debruçados sobre o texto clássico a preparar uma versão local, com eles como protagonistas, realizando uma releitura do livro. João e os colegas adoravam a ideia e por conta da ação, estavam entendendo a obra, discutindo seu conteúdo, apreciando Machado e sua rica narrativa. Até o final daquela semana teriam um vídeo produzido com a dramatização do livro.
Na aula seguinte o encontro foi com o Mário, professor de história admirado por todos. Com ele o que acontecera no passado tinha sentido. Estavam estudando a Segunda Guerra Mundial e naquela semana viram trechos de filmes sobre o conflito. Entraram literalmente na tela e foram escrevendo impressões, como se fossem consultores sobre temáticas específicas, como o Holocausto, o Dia D, a Guerra no Pacífico, o Nazismo e todos os itens trazidos à tona nas aulas.
Ao assistir o trecho de um filme, tinham que buscar referências sobre cada um dos temas e anotar em seus cadernos digitais, ao lado de imagens das produções apresentadas, críticas embasadas quanto a veracidade histórica das produções. Vibraram muito com esta forma de aprender pois tiveram contato com obras do calibre de “Os últimos dias de Hitler”, “O Diário de Anne Frank”, “A Lista de Schindler”, “Além da Linha Vermelha” e outros grandes filmes.
Passada a aula do Mário vinha a prova. Tiveram um breve intervalo, de 20 minutos, durante os quais procuraram desligar das aulas e daquela avalanche de saberes com os quais tinham tido contato.
Não conseguiram pois a intensidade das aulas de literatura e história os faziam viver e realmente aprender. Além disso o Mário e a Daniela eram incríveis, magnetizavam a todos quando falavam e os faziam trabalhar o tempo todo na busca por conhecimentos. As ferramentas possibilitavam o acesso ao mundo e, associadas a maestria dos professores e a curiosidade deles, os faziam literalmente viajar.
Acabou o intervalo.
Voltaram para a prova. Seriam 2 aulas seguidas. Questões de física, matemática e química. Mas não era uma prova comum. Os alunos recebiam as questões em seus tablets e folhas de papel para a resolução. Diferentemente de anos anteriores, eram divididos em equipes de 3 pessoas, com acesso a algumas ferramentas que os auxiliariam na construção das respostas.
Não eram questões simples, daquelas nas quais os cálculos e o uso de fórmulas resolveria suas vidas. Eles tinham que usar as ciências exatas para resolver problemas da vida real. Compor planilhas, equacionar fórmulas de medicamentos e entender como a química podia ajudar a combater determinada enfermidade, usar a física para ajudar uma equipe de futebol a vencer uma partida do campeonato brasileiro.
Tinham que atuar como aspirantes a engenharia, a farmácia, a química industrial ou ao desenvolvimento de projetos para a NASA ou para a Embraer. É claro que o uso de tecnologias ajudava a realizar na tela rápidas simulações e desenhar todo o projeto, mas o raciocínio, o trabalho em equipe, os cálculos todos e o esboço final das soluções, como por exemplo, o desenho de uma usina hidrelétrica, tinham que surgir ao final daqueles 100 minutos.
Era um grande desafio, mas nada melhor para a vida de uma pessoa que o estímulo, a provocação, a busca por novas metas a serem atingidas.
Os professores de matemática, química e física estavam com eles durante a aplicação da prova e a tudo acompanhavam. Leandro, Marina e Jonathan eram entusiastas da tecnologia, adoravam seus conteúdos, trabalhavam de forma interdisciplinar e eram respeitadíssimos pelos alunos. Muitos daqueles jovens queriam ser cientistas, engenheiros ou professores por inspiração destes mestres.
Passada a prova, novo intervalo, algum descanso, um suco e um sanduíche natural e João estava pronto para a próxima aula.
Desta vez, a aula seria de biologia. A professora Débora era severa, mas sabia muito sobre os assuntos e estimulava os alunos o tempo todo. As aulas não abriam mão de simuladores que replicavam o corpo humano, ecossistemas inteiros, células e todos aqueles temas de biologia. Microscópios digitais, que permitiam repassar as imagens para os tablets ou smartphones dos alunos eram usados para estudar bactérias, vírus e seres unicelulares. Observações relacionadas ao trabalho visual eram gravadas em áudio, trechos dos livros que falavam sobre o assunto eram trazidas pela docente para a lousa digital e copiada pelos alunos para posterior aprofundamento. Um vídeo com depoimento de um grande especialista fechou aquela aula.
O melhor do dia, no entanto, ficara para o final, ao menos do ponto de vista do João. O Bruno e a geografia iam levar a todos para a Ásia naquele dia. China, Índia e Japão eram os temas daquela aula. Viajaram com auxílio do Google Maps. Estiveram no Monte Fuji, na Grande Muralha da China e no Ganges. Começaram a estudar as Monções, os tsunamis que por vezes afetavam o Japão e o crescimento econômico descomunal da China. Tabelas, gráficos, imagens, sons, mapas e infográficos imergiram todos naquele mundo tão diferente, de culturas tão distantes e tão próximas.
O dia terminara. Havia leituras e tarefas no ambiente educativo da escola. Registros digitais de todas as atividades igualmente haviam sido mandados para os alunos antes que chegassem em suas casas. Na escola as atividades tinham cessado, mas suporte à distância, comunicadores instantâneos, livros online e avaliações rápidas das ações do dia já estavam à disposição de todos eles. A aula apenas começara, o dia de aprendizagem continuaria por mais algum tempinho, depois, daria para encontrar a Sheila, namorar um pouco, passear com o Apolo, jogar um futebol com a galera...
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