Educação e Tecnologia
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Maturidade digital: O que isso significa? - 14/08/2015
João Luís de Almeida Machado

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Pesquisa afirma que brasileiros são “maduros digitais” a partir da constatação de uso crescente de ferramentas.

Pesquisa Ibope Media/Target Group Index sobre os hábitos dos brasileiros na internet, divulgada por grandes grupos de mídia, como o Estadão, buscou descobrir se o internauta brasileiro é digitalmente maduro. Este levantamento, realizado entre os meses de fevereiro de 2014 e março de 2015, obteve respostas de 20 mil usuários da web no país.

De acordo com os resultados da pesquisa, “maduros digitais” seriam aqueles que usam 11 ou mais serviços online; Imaturos são aqueles que realizam entre 1 e 5 atividades online; Há ainda aqueles que estão no meio do caminho, chamados de “usuários meio termo”, ou sejam, aqueles que realizam de 6 a 10 atividades online.

Mas, para princípio de conversa, o que ou quais são as chamadas “atividades online”? De acordo com os pesquisadores há 4 áreas maiores onde podemos encontrar e nas quais podemos classificar as tais atividades. As áreas são as seguintes: Relacionamento, Informação, Diversão e Transações/Trabalho.

Dentro das áreas encontramos ações como:

Informação: Acessar canais de notícias na web (TV, rádios, jornais, grandes portais...), realizar cursos online, comunicar-se pela rede...

Diversão: Assistir vídeos, jogar online, ouvir ou baixar músicas, organizar ou realizar atividades de lazer pela internet...

Relacionamento: Utilizar as redes sociais, comunicar-se pela web, manter páginas pessoais como blogs, manifestar suas opiniões políticas na rede...

Transações/Trabalho: Pagar contas ou realizar outras transações financeiras, comunicar-se pela rede, utilizar a internet para fins profissionais, acessar redes online da empresa em que trabalha...

Se analisarmos com profundidade esta divisão das áreas de atividades on-line perceberemos que há um entrelaçamento entre as ações que podem estar localizadas em uma ou mais áreas detectadas pela pesquisa. O uso de redes sociais, por exemplo, está disseminado entre as empresas. Que corporação nos dias de hoje não utiliza o Facebook, o Twitter ou o Instagram para se comunicar com seu público, divulgar seu produto, lançar campanhas e, desta forma, consolidar-se como força no mercado? Do mesmo modo, acessar canais de notícias ou ver vídeos na internet são formas de atuar relacionados ao lazer e/ou ao acesso a informação mas também a relacionamentos e trabalho...

Num país como o Brasil, em que segundo a ComScore já temos 84 milhões de usuários de internet, a pesquisa detectou que 63% dos usuários pode ser considerado como “maduro digital”. Em relação ao ano de 2005, no qual auferiu-se que o percentual de “maduros digitais” era de 44% e, numa época em que a quantidade de usuários era menor que a atual (aproximadamente 26 milhões de usuários em 2005, segundo dados da Internet World Stats), o crescimento verificado é mais do que considerável.

O que contribuiu para isso? Como chegamos a este crescimento tão expressivo?

Há vários fatores que podem ser enumerados, entre os quais é possível associar os seguintes: queda nos preços dos equipamentos; advento dos recursos móveis; brasileiros acessando a web por, em média, 2 telas; melhoria na qualidade dos serviços de transmissão de dados; preços mais acessíveis para ter acesso a internet; proliferação dos espaços onde há wi-fi sem custos...

Neste cenário, a pesquisa igualmente definiu o que os brasileiros fazem na rede e constatou, de imediato, o óbvio nas duas pontas, ou seja, que o maior uso da web no país é relacionado ao acesso as redes sociais, com 81% dos internautas sendo regulares usuários destes serviços; por outro lado, apenas 7% dizem fazer ou já terem feito cursos online.

Além destas ações, na parte de cima das ações regularmente realizadas estão o uso de e-mail (72% dos usuários), o acesso a notícias nacionais ou estrangeiras (65 e 50% respectivamente), assistir ou baixar filmes na web (ação realizada por 61% dos internautas) e o uso de ferramentas de geolocalização, como o Google Maps ou o Waze, por 45% das pessoas que acessam a internet no país.

Baixar músicas, jogar na internet e procurar empregos se juntam ao estudo online como as atividades com menor procura, ao menos segundo os dados deste levantamento, representando, respectivamente, um percentual de 26, 17 e 8% para cada uma das atividades listadas.

A pesquisa, portanto, tendo abarcado um universo considerável de usuários, em virtude também de sua atualidade e de ter realizado tal levantamento ao longo de período superior a 1 ano, tem seus méritos e define, a priori, que o parâmetro para reconhecermos os brasileiros como “maduros digitais”, associando esta constatação ao fato de que o uso mais regular e acentuado das ferramentas e serviços da internet permitir tal “maturidade digital”, são aceitáveis, porém não definidores daquilo que precisamos ser ou da forma como devemos de fato agir para atingirmos tal status.

Maturidade digital não se estabelece somente a partir do uso, traquejo e facilidade de navegação ou acesso a ferramentas, mas também a compreensão destes recursos e as implicações quanto a seu uso, para o bem e para o mal. Somente o fato de usarmos vários recursos, plataformas, softwares ou aplicativos sem que se leiam os termos de uso de todos eles já demonstra o quanto não somos “digitalmente maduros”.

Quando falo que é preciso ir além daquilo que é mais objetivo, ou seja, do conhecimento do operacional, tendo também a preocupação de entender o que é feito com nossas “pegadas digitais”, demonstro igualmente que o internauta muitas vezes concede informações demais sem mesmo se dar conta desta atitude que é, no mínimo, demonstração de imprudência. Há riscos inerentes a tais ações que são desprezados pelos usuários. O que dizer então de famílias que não monitoram, acompanham ou autorizam o uso de recursos digitais por seus filhos menores de idade, deixando que eles mesmos façam suas escolhas e realizem sua navegação na web sem qualquer supervisão de um adulto responsável. Os casos de pedofilia, por exemplo, são fruto da negligência dos pais quanto a esta necessária supervisão. Excesso de horas acessando a web, pornografia, pirataria, terrorismo, substituição da vida presencial pela vida virtual, disponibilização de dados pessoais na internet colocando em risco sua própria vida e outras questões devem igualmente fazer parte do processo de conscientização dos usuários.

São questões a serem levantadas, entre tantas outras, para que definamos, de fato, o que significa ser “maduro digital”. O que temos, até o momento, com os dados desta pesquisa, é a constatação de que usamos cada vez mais a internet e que, com isso, aprendemos a operacionalizar o uso de uma forma mais eficiente, usando as ferramentas com maior facilidade e habilidade. A maturidade ou consciência quanto aos usos, no entanto, ainda está distante...



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