Planeta Literatura
João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O Poder do Hábito: Por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios - 12/06/2015
João Luís de Almeida Machado

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Hábitos adquiridos ao longo da vida pessoal, corporativa ou social podem determinar os rumos da vida, para o bem e para o mal.

“‘Toda a nossa vida, na medida em que tem forma definida, não é nada além de uma massa de hábitos’, escreveu William James em 1892. A maioria das escolhas que fazemos a cada dia pode parecer fruto de decisões tomadas com bastante consideração, porém não é. Elas são hábitos.” (Charles Duhigg)

Pense no seu dia a dia. Da hora em que acorda e sai da cama até o momento em que retorna do trabalho ou dos estudos e finaliza suas atividades. Como é a sua alimentação? E sua higiene? Qual é o cotidiano em seu trabalho? Você se diverte de que forma? Assiste muita televisão? Gasta horas e horas diante do computador? Prefere praticar exercícios? Vai para a cozinha e ao preparar pratos deliciosos relaxa do stress diário?

Quando simplesmente vivemos não conseguimos observar detalhes de quem somos e de como agimos. Não percebemos, com isso, quais são os hábitos que incorporamos ao longo da vida e que nos acompanham tão proximamente que determinam até mesmo quem somos. Ao passarem despercebidos tais hábitos cotidianos podem tanto estar nos prejudicando quanto nos beneficiando.

Se desde cedo adquirimos o hábito de praticar alguma atividade física, por exemplo, e conseguimos manter isso ao longo de nossas vidas, ainda que o trabalho nos ocupe boa parte do dia, indo a uma academia, piscina ou simplesmente correndo ou caminhando no parque ou na praça próxima de casa, estaremos certamente nos beneficiando.

Se, por outro lado, nossa alimentação sempre foi desregrada, com o uso de alimentos industrializados em detrimento de comida saudável, natural, como frutas e verduras, por exemplo, criamos um hábito pernicioso que, é claro, prejudica nossa saúde.

Esta questão, aparentemente simples, relacionada aos hábitos e como eles influenciam quem somos e o que fazemos de nossas vidas, deu origem a uma pesquisa que acabou se transformando num livro de grande sucesso no Brasil e no mundo, escrito por Charles Duhigg, cujo título é “O Poder do Hábito”, lançado no Brasil pela Editora Objetiva.

A partir do estudo de casos, como o da dona de casa norte-americana que após a saída dos filhos de casa, entediada, começou timidamente a jogar em cassinos próximos a sua casa até se tornar uma jogadora tão viciada em roletas e jogos de cartas que recebia convites de hotéis de Las Vegas para lá se deslocar sem custos de estadia somente para jogar e que, com isso, queimou as reservas financeiras acumuladas por ela e pelo marido e depois ainda desperdiçou todo dinheiro da herança que recebeu dos pais, passamos a ter uma clara compreensão de como os hábitos definem quem somos para o bem e para o mal.

Num outro caso examinado pelo pesquisador e autor do livro, Charles Duhill, temos a situação de um homem enfermo, com problemas sérios de memória, que não deveria sair de casa sem o monitoramento da esposa ou de algum familiar. Num belo dia a mulher se distraiu por alguns momentos e quando retornou notou que o marido havia sumido. Procurou por toda a casa e não o encontrou. Percebeu então que a porta da frente estava aberta e ficou desesperada. Havia risco de atropelamento ou de que ele se perdesse pela cidade e nunca mais conseguisse voltar. Saiu a perguntar aos vizinhos se tinham visto ele e ninguém percebeu a presença dele naqueles poucos minutos. Passado algum tempo ele, apesar de desmemoriado, caminha de volta para casa. Tinha percorrido o caminho que fizera durante anos quando ainda estava são. O hábito o havia feito andar pelos quarteirões do bairro e, apesar de não se lembrar de nada, nem mesmo de onde morava, conseguiu sair de casa e retornar como assim fizera durante tantos anos.

Hábitos bons, como aqueles relacionados a atividade física, alimentação saudável ou inclinação e gosto pelos estudos igualmente são alvo do estudo de Duhigg. O interessante é notar que as pessoas, ainda que saibam que comer alimentos gordurosos ou muito carregados de sal ou açúcar, com seus corpos habituados a estes componentes nefastos para seus corpos, insistem neste tipo de alimentação. O sedentarismo é igualmente algo nocivo a saúde das pessoas mas a quantidade de pessoas que prefere chegar em casa e sentar no sofá da sala na frente da televisão é maior que a daqueles que enfrentam o cansaço e a preguiça para realizar atividades físicas.

Conceitos interessantes como o “loop do cérebro”, explicando a lógica e a dinâmica de funcionamento destas repetições que tornam ações boas ou ruins em hábitos das pessoas são apresentadas no livro para que possamos desde o primeiro momento, baseando nossa compreensão em exemplos do mundo real, entender de que modo nossas vidas são afetadas por estes atos em relação aos quais, na maior parte dos casos, nem sequer pensamos a respeito.

O autor discorre também sobre a mudança de hábitos, como é difícil para a maioria das pessoas, quanta ansiedade gera e o que pode ser feito para que, de fato, se efetivem transformações benéficas para o indivíduo e, como consequência, para todos que o cercam. Como no caso que abre a leitura do livro, acerca da jovem que fumava, era sedentária, se alimentava muito mal e que, como consequência de tudo isso, era obesa, mal humorada, instável e, por vezes, agressiva. Isso dificultava seus relacionamentos, sua carreira e, é claro, sua saúde física e emocional... Até que um dia, literalmente “a ficha caiu”, ou seja, ela percebeu as incongruências de sua vida e resolveu mudar. Não sabia ao certo como fazê-lo e suas decisões iniciais não foram as mais sábias, mas sua vontade de mudar existia e, dois anos depois disso, participava de maratonas, estava sendo promovida e tinha relacionamento estável... Qual o caminho para este milagre? É preciso ler o livro para descobrir em detalhes, é claro!

O trabalho de Charles Duhigg não foca apenas nas experiências individuais, amplia o espectro e busca verificar como os hábitos de organizações inteiras podem ser elementos que explicam seus sucessos ou fracassos. Partindo de exemplos extremos, para o bem e para o mal destas empresas, o autor nos mostra que também as corporações devem rever suas práticas estabelecidas regularmente para que hábitos nocivos não a levem para o buraco. Casos de empresas bem-sucedidas como a Starbucks, por exemplo, ganham espaço para que possamos entender o ciclo virtuoso que se estabelece quando os bons hábitos se estabelecem como práticas e ações regulares num ambiente profissional.

Indo um pouco além na leitura destes dados, para nos surpreender ainda mais, o livro relata como as empresas tentam entender os hábitos das pessoas para trabalhar seus negócios tanto nos erros quanto nas virtudes de seus consumidores. Em determinados casos, como é explicado no livro, os hábitos dos indivíduos são usados pelas empresas para que estas pessoas sejam até mesmo manipuladas em prol dos interesses das corporações.

O estudo caminha além das esferas pessoal e corporativa e analisa até mesmo mudanças no âmbito social, como no relato que resgata o boicote aos ônibus em Montgomery, relacionados a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos nas décadas de 1950 e 1960 e, especificamente nesta história, a pessoa de Rosa Parks. Notável exemplo de como o alinhamento entre as pessoas, a partir da adoção de hábitos relacionados ao respeito, justiça e honestidade podem frutificar para toda a sociedade com ganhos exponenciais para todo mundo e para cada um em particular. Não perca!


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