Educar com telescópios e microscópios - 27/04/2015
João Luís de Almeida Machado
“Educar não é ensinar matemática, química, português, que essas coisas podem ser aprendidas nos livros e nos computadores. A primeira tarefa da educação é ensinar a ver. A coisa mais deletéria na relação do professor com o aluno é dar resposta (…) Se os reitores das universidades fizessem o vestibular, seriam reprovados…” (Rubem Alves)
Amplie o olhar. Use telescópios. Reduza o olhar. Use microscópios. “A primeira tarefa da educação é ensinar a ver”, nos ensina Rubem Alves. Seja no micro ou no macrocosmo, o importante é ver, perceber, se sensibilizar, entender a partir deste contato...
Não reduza sua ação a simplesmente ensinar matemática, química ou português. Aonde estes saberes estão presentes no mundo, nas nossas vidas? Já pensou em mostrar para seus alunos ao invés de se restringir a replicar as teorias apresentadas nos livros didáticos? “A coisa mais deletéria na relação do professor com o aluno é dar resposta”, afirma Rubem Alves no trecho inicial desta pensata, ou seja, por mais que as respostas existam, mais que dá-las é preciso estimular a busca por elas...
Não, não descarte os livros. São companhias importantes. Devem fazer parte da jornada. Ajudam a entender. São registros de estudos realizados anteriormente que sintetizam ideias, conceitos, estudos... É importante, porém, que as pessoas façam suas próprias trilhas, percorram seus caminhos, sejam convidadas a sentir o mundo e compor suas próprias anotações. Depois podem se debruçar nos livros e iniciar diálogos com escritores, filósofos, cientistas, educadores, historiadores, sociólogos...
Por isso Rubem Alves nos provoca com seus escritos, ainda que não esteja mais entre nós, suas ideias permanecem, seus escritos nos permitem conversar com ele, perceber sua alma de educador que concebia a educação para além dos limites que a sociedade criou.
Ao dizer que “educar não é ensinar” e que “essas coisas podem ser aprendidas nos livros e computadores”, Rubem Alves nos obriga a rever, a repensar e a desconstruir nossa prática professoral, aquela da qual nos revestimos ao sairmos das universidades com nossos diplomas nas licenciaturas que cursamos ou em pedagogia.
Depois de alguns anos na Academia, devíamos sair para o mundo com abertura suficiente para buscar mais e mais aprendizado, novas experiências e o afinar de nossos instrumentos.
Saímos quadrados, “Pinóquios às avessas”, batendo palmas para configurações estabelecidas, as quais nos ajustamos, para dar continuidade e não para renovar, ainda que a renovação por vezes esteja em valorizar e empreender com aquilo que um dia já foi valorizado mas que com o passar dos anos caiu em desuso.
Mas, o que posso fazer? Podem se perguntar alguns destes Pinóquios, entre os quais por vezes me percebo, também encarcerado entre as grades de um cotidiano em que o trabalho nos encerra, quando pelo contrário, deveria nos emancipar...
Tenho real paixão pela matemática, pela química ou pelo ensino da língua portuguesa e, de repente, me dizem que não é esse o caminho... Podem alegar certos Pinóquios, em crise de identidade.
Carlo Collodi, autor de Pinóquios”, em sua célebre história nos conta que o boneco de madeira tinha que aprender com a vida para que um dia realizasse o seu sonho de se tornar um menino de verdade.
Rubem Alves, por sua vez, nos diz que estamos na contramão do clássico de Collodi, pois viramos bonecos de madeira e deixamos para trás nossa essência e originalidade.
E o que o torna original? Qual a sua essência? Porque escolheu ser professor? Qual o seu jeito de aprender? É possível aprender e ensinar tendo prazer nestas ações? A conversa começa aqui, ou seja, no desafio de se redescobrir e de igualmente rever o que significa educar ou como realizar ações de ensino e aprendizagem que desafiem os alunos e lhes apresente o mundo, de forma prazerosa, instigante, interessante e desafiadora, para além dos muros da escola.
# Artigo: Há janelas em meus olhos
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