No País do Futuro - 14/03/2014
Wanda Camargo
No país do futuro, futuro parece não ter muita importância. Nos últimos vinte anos, o Índice de Desenvolvimento Humano – IDHM da maioria dos municípios brasileiros teve acréscimo notável, passando de uma classificação considerada muito baixa, para um nível entre bom e muito bom. O IDHM considera três aspectos: a longevidade, a renda e a educação. Nos dois primeiros, o desempenho do país pode nos orgulhar. Quanto à educação, amargamos uma mediocridade preocupante.
O Brasil contou com governantes em sucessão que, cada um a seu modo, o mudou para muito melhor, com a estabilização da Economia, o início do resgate da dívida social, melhora da geração e distribuição de renda, condições de alimentação e cuidados com a saúde, que propiciaram a elevação nas duas dimensões do IDHM. Infelizmente, a educação parece não ter tido a mesma sorte - e nem tanto pela determinação dos dirigentes. O trágico é a quase total falta de ressonância, principalmente nas populações de mais baixa renda, da sua necessidade real. Como se ganhos financeiros um pouco melhores do que os de seus pais e acesso a financiamento para aquisição de bens de consumo encerrassem toda a sua jornada de melhoria de vida.
Houve tempos em que o diploma e o anel simbolizavam a condição de “bacharel”, quase um título de nobreza, e davam ao portador direito a privilégios e vantagens, independente de sua real competência ou conhecimentos. Criou-se uma mitologia acerca da educação, como se seus benefícios fossem destinados a uns poucos e, para os demais, reservada apenas obrigação enfadonha de frequentar aulas durante alguns anos, geralmente com a atenção em outra coisa.
A forma de resolver os problemas da educação brasileira é extensamente conhecida. Escolas que não possuem biblioteca, quadra esportiva e área de lazer são maioria no ensino público - e isso acontece até mesmo nos estados mais ricos. Desnecessário falar em valorização do magistério, metodologias adequadas, recursos pedagógicos e estímulo à participação da família no processo de ensino e aprendizagem.
Assistimos à (tardia) constatação governamental acerca da inexistência de docentes para o ensino fundamental e médio, consequência de baixa atratividade da carreira aos jovens formandos. Apenas fica surpreso aquele que desconhece os salários oferecidos, em alguns locais inclusive abaixo do mínimo, o que é um disparate, além de crime.
O desvio de recursos públicos é crime hediondo, pior ainda se são destinados à educação e à saúde. É igualmente criminoso o mau uso de recursos públicos decorrente de incompetência, apadrinhamentos e descaso. Se muitas verbas são simplesmente roubadas, outras são pessimamente empregadas por pessoas que não sabem o que fazem - e que não serão perdoadas, como queria o Nazareno.
O desafio que se apresenta a nós, brasileiros, é imenso. Além do combate à corrupção, fazer a difícil transição de donos de cartão de crédito, para donos da própria vida e consciência. O futuro demandará pessoas com conhecimentos e habilidades que só se adquirem na escola de qualidade. Sabemos que o processo é trabalhoso, requer disciplina e renúncia, mas é o melhor caminho para a verdadeira liberdade e cidadania.
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