Aprender exige esforço e satisfação - 20/02/2014
Wanda Camargo
Não existem evidencias históricas de que Maria Antonieta tenha dito que se o povo não tinha pão, deveria comer brioches. É provável que o mito tenha sido espalhado por algum ancestral de marqueteiro, para insuflar mais ainda os ânimos de uma população carregada de inúmeras razões para acreditar que suas necessidades não eram levadas em conta pelo governo.
A realidade devia ser muito pior: os membros da alta aristocracia sequer tomavam conhecimento da existência do povo; provavelmente viam apenas a massa amorfa que enchia as ruas à sua passagem, de um para outro palácio, de onde vinham os servos que os atendiam desde o nascimento. Muitos nobres provavelmente viram essas pessoas de perto apenas quando a caminho do cadafalso.
Agora, quando multidões estão nas ruas manifestando sua insatisfação com muito do que ocorre em nosso país, deixando claro que não tolera mais a corrupção, a arrogância e os privilégios indevidos de uma classe que se pretende a nova aristocracia, políticos ainda praticam atitudes dignas do período francês pré-revolucionário. Ao serem questionados pela mídia e a opinião pública, como sempre, as explicações do ponto de vista legal parecem impecáveis - a questão moral é que resta prejudicada.
Pessoas em posições chave para a vida do país algumas vezes defendem o indefensável - e o fazem porque lucram (e muito!) com tal atitude, publicamente contrariando o mínimo bom senso, na obviedade de defender interesses escusos, privilégios ilícitos. Poucos hoje acreditam na importância do empenho, no cultivo das boas qualidades, não transmitindo, portanto, aos seus próximos esta mensagem: o país não tem sido pródigo em exemplos de valorização do competente, do honesto, do estudioso.
Professores ministram aulas de ética em quase todos os níveis de ensino e, possivelmente, grande parte de seus discípulos os consideram tolos - ou pelo menos ingênuos -, pois a descrença na possibilidade de mudança no comportamento é imensa. Muitos jovens creem mesmo que a lógica do “Mateus, primeiro os teus” é que deve imperar - e a questão de que o poder corrompe é encarada com naturalidade, tudo o que podemos querer é chegar lá, para sermos docemente deturpados em nossos valores, ganhando o paraíso das benesses públicas, do dinheiro alheio. Apenas são considerados inteligentes aqueles que acumulam riqueza, independente de sua origem. A lógica do trabalho é consolo dos pobres e fracassados - e o desejo de uma vida tranquila, com o indispensável, porém sem luxo, um desvio intelectual típico dos perdedores.
Aprender não é agradável ou fácil. Exige esforço, dedicação - e provoca frustrações. Quando boa parte dos amigos prefere a saída noturna, o passeio e o relacionamento superficial, a decisão de estudar demanda perspectivas de porvir, satisfação a médio ou longo prazo, em detrimento do prazer imediato. Alunos só poderão levar o professor a sério se tiverem muita confiança no futuro. Caso contrário, mais fácil desvirtuar o presente.
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