Universo Escolar
Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil.

Brasil é o país que consome menos tempo em ensino e aprendizagem - 22/11/2013
Wanda Camargo

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Foto de alunos durante debate. Crédito: nagora/flickr


A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou recentemente resultados de pesquisa internacional sobre ensino e aprendizagem, realizada em 24 países, tendo como objetivo contribuir para o desenvolvimento de políticas educacionais mais efetivas, com foco no ambiente de aprendizagem e condições de trabalho oferecidas pelas escolas. No Brasil, foi coordenada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Dentre os aspectos levantados, um dos mais relevantes é que, na média dos países pesquisados, metade dos professores gasta mais de 80% do tempo de aulas em ensino e aprendizagem, embora muitos apontem que dispendem até 30% do tempo de aula com problemas disciplinares e atividades administrativas.

No entanto, dentre os países participantes, o Brasil é o que consome menos tempo em ensino e aprendizagem e mais tempo com a manutenção da ordem em suas salas - deixando evidente que grande número dos regentes de classe não atinge o padrão de disciplina indispensável ao ensino, durante a aula. É algo que pode ser debitado ao clima de “vale tudo”, aparentemente instalado nas relações sociais, parentais e profissionais no país. Depois de um longo tempo em que tudo era proibido, tudo parece ter se tornado permitido - e qualquer uso de autoridade é confundido com autoritarismo.

Outro dado interessante vem da distribuição de gênero entre professores e diretores de escola. Na média dos países pesquisados, as mulheres são maioria entre os professores e minoria entre os diretores; no Brasil esse padrão não ocorre - tanto professores quanto diretores são, na maioria, mulheres. Esta discrepância pode ser entendida perfeitamente, não pela obtenção de saudável equiparação de gênero, mas sim pela remuneração oferecida pela área, não tão atrativa para os homens, numa sociedade em que seus salários são, geralmente, superiores aos recebidos pelas mulheres.

Na maioria dos países, incluindo o Brasil, pelo menos um terço dos professores afirmou necessitar mais desenvolvimento para trabalhar com educação especial. Questão importante quando analisamos a inclusão de alunos necessitados de atenção especial em turmas comuns, imposta de modo um tanto precipitado e sem que o docente receba qualificação para este atendimento. Em algumas salas, chega-se a colocar alunos com vários tipos de demandas, como se um profissional pudesse ser, ao mesmo tempo, especialista em deficiência visual, surdez ou déficit cognitivo, obrigando-o a ministrar conteúdos simultaneamente a mais vinte ou trinta alunos irrequietos, como natural na idade.

Assim, não é de estranhar que grande parte dos educadores afirme desejar melhores oportunidades de evolução - e não apenas nesta, mas também em outras áreas: quase um quarto dos pesquisados relata dificuldades com o ensino de Tecnologias de Informação e Comunicação. Em que pese a subjetividade inerente a toda pesquisa, o estágio ainda incipiente da interpretação dos resultados - e a imensa variedade cultural do universo de pesquisa - os dados são preocupantes. Porém, trazem subsídios para a avaliação do sistema educacional, implicando em correções de rumo, se desejamos efetivamente um futuro melhor.


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