Recente
reportagem da Folha de S.Paulo apresenta um quadro bem animador: taxa
de desemprego nunca foi tão baixa, sobram vagas e faltam
candidatos.
Apesar disso, a reportagem avisa que os pequenos negócios
estão com dificuldades de contratar funcionários
de baixa qualificação, isto é, com
escolaridade até o Ensino Médio.
Para uma faixa salarial entre 700 e 1200 reais, o maior entrave
é atrair os candidatos. Os poucos que se interessam pelas
vagas têm formação muito
deficitária. Eles têm problemas com contas e
dificuldades de escrever corretamente”, coloca uma gerente de
Recursos Humanos entrevistada pelo jornal.
Em contrapartida, o Governo de São Paulo deseja implementar
medidas especiais de cotas nas universidades estaduais: USP, UNESP e
UNICAMP.
Consideradas universidades de excelência, inclusive em
rankings internacionais, o governo paulista quer inverter o sistema
atual e facilitar o acesso para os alunos que tenham cursado o Ensino
Médio em colégios públicos.
As famílias de classe média sentem-se penalizadas
pelo esforço que fazem para que seus filhos tenham chance de
acessar o ensino superior público de qualidade.
E agora a regra do jogo tornou-se outra, aumentando a
concorrência para alunos oriundos da rede particular. Em
2016, das 12 mil vagas oferecidas pela FUVEST, 6000 serão
oferecidas para alunos cotistas.
Se o sistema é meritocracia, por que as cotas? Por que
não criar mais escolas de Ensino Médio de
excelência, atraindo os melhores alunos das escolas
públicas?
Por que no sistema no ensino médio não
há mais esforço para garantir qualidade, haja
visto a dificuldade na formação da massa dos
estudantes?
Questões sociais e políticas levaram a
massificação ao acesso das crianças na
escola, mas isso não garantiu a qualidade.
O papel do governo é garantir essa
formação básica, de forma atraente e
efetiva, necessária para o ingresso no mercado de trabalho.
Se isso fosse feito, não haveria necessidade de
políticas de cotas: melhores alunos acessam as melhores
escolas.
Os outros podem pelo menos garantir que terão
opções de acesso ao ensino superior, como FIES e
PROUNI, e não apenas as Estaduais e Federais.
A discussão das cotas é importante, mas muito
mais necessário é o investimento na
formação dos jovens que desejam iniciar sua
carreira e estão muito mal preparados para enfrentar os
desafios atuais. Faltam as bases: comunicação e
raciocínio.
Afinal, o que estamos ensinando nas escolas?
Por onde os nossos jovens irão começar? Como
irão desenvolver seu potencial sem o mínimo de
condições de competir no mercado de trabalho?
Responder essas questões se torna crucial para que as
escolhas sejam feitas pelos diretores de escola, professores e a
comunidade em geral. Esse é o maior desafio de agora e para
frente.
Letícia
Bechara é mestre
em Educação e coordenadora do Vestibular e
Relacionamento da Trevisan Escola de Negócios.