"A
boa educação é moeda de ouro: em toda
parte tem valor." (Padre Antônio Vieira)
Não é tijolo que educa. Escolas podem ser
reformadas e ampliadas, quadras poliesportivas construídas,
computadores de última geração
instalados, e ainda assim a qualidade de ensino continuar
sofrível porque a chave para a boa
educação está no professor.
Ser professor neste país já foi
símbolo de status. Contudo, pesquisa realizada em 2009 pela
Fundação Carlos Chagas, encomendada pela
Fundação Victor Civita, apontou que apenas 2% dos
universitários escolhem o magistério como
primeira opção de carreira.
Pior, os que o fazem estão entre os 30% de estudantes com
pior desempenho escolar que usam a licenciatura e a pedagogia como mera
porta de entrada para o nível superior, haja vista serem
cursos pouco disputados.
Em contrapartida, na Finlândia (meca do ensino no mundo),
para abraçar a carreira de docência, o candidato
deve estar entre os 20% melhores alunos. Em Singapura, outra
referência, apenas os 30% melhores são aceitos.
A lição é simples: o caminho
está em selecionar os professores com maior potencial,
valorizá-los e extrair o máximo deles.
Neste debate, o salário sempre surge como um dogma. O
detalhe é que estudos diversos, inclusive do exterior,
desmistificam esta assertiva, comprovando a inexistência de
uma correlação direta entre salários
maiores e melhor qualidade de ensino.
Mas é fato que a questão salarial exige que o
profissional acumule vários empregos, tendo menos tempo para
capacitação e preparação de
aulas. E não se pode negligenciar que a
remuneração é um forte atrativo.
Afinal, um professor da rede pública, em São
Paulo, atinge ganhos mensais da ordem de R$ 4.000,00, incluindo
bônus por desempenho, após anos de
exercício da profissão, o que representa apenas
15% da bagatela que juízes, e agora também parte
do legislativo, recebem. É para fugir do
magistério.
Contudo, o maior problema do corpo docente não é
o salário, e sim o despreparo, a falta de
vocação e interesse em lecionar, além
do descrédito da categoria profissional.
O Estado brasileiro fez uma opção
míope pela quantidade em lugar da qualidade. Assim, valem as
estatísticas de redução do
analfabetismo, ainda que se formem analfabetos funcionais.
Vale perseguir a meta de 30% de estudantes com nível
superior, ainda que formados em universidades de fundo de quintal, que
vendem diplomas à baciada, em suaves
prestações mensais. Neste contexto, ensino vira
negócio e, aluno, cliente.
Na Finlândia, o nível de mestrado é
pré-requisito para lecionar, exceção
feita à pré-escola. No Brasil, apenas 2% dos
docentes no 8º ano do ensino fundamental são
mestres.
Na busca pela quantidade, não é
possível formar adequadamente os profissionais mediante uma
capacitação que transcenda o conhecimento
técnico. Tal qual uma residência
médica, o professor precisa de respaldo empírico
em sua formação.
A valorização do professor é
instrumento essencial para a melhoria da qualidade da
educação.
É preciso resgatar a autoridade do docente, inseri-lo em um
processo de desenvolvimento contínuo, motivar os educadores
a trabalharem por metas e ensiná-los a inspirar os
educandos.
Alunos de professores ruins aprendem mal, aprendem menos e reproduzem o
circulo vicioso que já conhecemos.
Tom
Coelho
é educador,
conferencista e escritor com artigos publicados em 17
países. É autor de “Somos Maus Amantes
– Reflexões sobre carreira, liderança e
comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas
– Lições para construir seu
equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008)
e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail
tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.