Entrevistando para Saber
 

Um exemplo dentro de casa - 04/03/2013
Entrevista cedida ao "O Regional Online"

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Foto-de-Erika-de-Souza-Bueno-autora-do-artigoO Regional: Quando falamos em educação de crianças, qual a melhor forma dos pais agirem?

Erika de Souza Bueno: Sem dúvida, pelo exemplo. Famílias que mandam de um jeito e agem de modo diferente de suas instruções à criança, certamente, tendem a não ter sucesso em suas intervenções, pois é um caminho ilógico que, a qualquer momento, poderá despertar sentimentos de injustiça e revolta nos próprios filhos. Se uma criança sofre algum tipo de castigo por ter insultado um colega de classe, mas vê as pessoas de sua própria família tratando-se grosserias e falta de educação, qualquer tentativa de corrigir esse mau comportamento dela não terá o menor fundamento, ou seja, não terá base sólida e, consequentemente, poderá não surtir nenhum efeito positivo. Se forem oferecidos às crianças materiais incoerentes às boas e desejáveis instruções que os pais lhes fornecem, eles terão um inimigo muito grande dentro da própria casa, um inimigo em cores, com brilho, glamour e tantos outros atrativos. Ainda bem que todos nós tem

O Regional: Bater não educa?

Erika de Souza Bueno: É pior do que isso. A violência ensina muito a qualquer pessoa. Nossos filhos, em especial, aprendem que ela é um meio rápido de conter os ânimos de alguém incômodo. Também podem aprender que ela é usada quando falta capacidade de argumentação, de humor ou compreensão. Por isso e por tantos outros motivos, a família precisa se certificar sobre o que estarão ensinando, de fato, à criança se optarem pelo castigo corporal. É como uma mensagem malpassada, na qual o destinatário (a criança) não capta com eficiência as informações do remetente (a família). Como ensinamos pelo exemplo, não fica nada bem agirmos de modo violento, mesmo se as intenções forem as melhores. Além disso, até quando os pais terão condições físicas para conter seus filhos por meio da força do próprio braço?

O Regional: O que as agressões, mesmo que sejam leves, podem causar psicologicamente nas crianças?

Erika de Souza Bueno: Primeiramente, uma agressão não é leve e nem pesada no sentido literal da palavra, pois o que mais pesa é o impacto psicológico que será causado. Um dos grandes prejuízos causados à criança se dá quando ela perceber as “armas” que sua família usa para corrigi-la. Entre essas armas, a criança poderá identificar a vergonha e a humilhação, dado que são esses os sentimentos que a invadem a cada novo castigo corporal. Longe dos pais, no seu relacionamento com outras crianças ou adultos, ela poderá ver-se diante de muitas situações em desacordo com suas vontades e desejos, o que acontece naturalmente todos os dias. Nesses momentos, a criança sentirá os reflexos psicológicos do que ficou em si ao ter apanhado de seus pais, podendo adotar comportamentos muito semelhantes ao que vive dentro de casa. É importante pontuar que violência física também causa medo e traumas, sentimentos estes que inibem e contêm muitas pessoas. Contudo, não é bom para ninguém que nossas crianças utilizem esses métodos, mas que aprendam a defender-se também pela argumentação, uma ferramenta que pode ser usada pelos pais no lugar do castigo físico.

O Regional: Elas entendem que isso realmente é para que não façam o que os pais não querem?

Erika de Souza Bueno: Existe, nesse ponto, um porquê, ou seja, a criança que apanha de seus pais entenderá que não é mais para agir de um determinado modo PORQUE, caso contrário, vai apanhar novamente. Contudo, essa razão que a motiva a não repetir uma birra, uma “arte” ou algo semelhante não é suficiente para promover uma educação adequada a elas. Queremos acreditar que as orientações aos nossos filhos vão com eles em todos os lugares e tempos, mas, infelizmente, tendemos a não querer pensar que castigos físicos demasiados também podem deixar marcas seríssimas que eles poderão carregar por toda a vida.

O Regional: Quando falamos em violência e, hoje em dia, os pais estão muito preocupados com o comportamento e as possibilidades dos filhos futuramente agirem com desrespeito a outras pessoas ou partirem para o mundo do crime, por exemplo, existe algo que pode ser feito enquanto são pequenos? Algo que eles possam carregar pela vida toda?

Erika de Souza Bueno: Busque conseguir ter tempo de qualidade com seus filhos. Faça diferente da maioria e marque um bate-papo semanal com cada um deles, momento em que você poderá identificar os pensamentos que eles têm tido a tempo de poder “aparar as arestas”. Lembre-se que, como pais, não somos perfeitos e podemos cometer erros a qualquer momento. Por isso, não deixe acumular dentro de seus filhos palavras que foram proferidas equivocadamente. Dialogue, argumente, leia sobre os assuntos que seu filho gosta, de modo a ter conteúdos para tentar se aproximar mais deles. O Regional - Qual o papel da escola na educação de crianças?

O Regional: Pergunto isso porque muitos pais acreditam que a educação é só na escola e não tem a obrigação de orientá-los.

Erika de Souza Bueno: A escola é o lugar em que a educação recebida em casa é percebida com mais clareza, mas não seria correto dizermos que somente a família é a responsável, pois muito do comportamento da criança ficará evidente apenas no contato com o meio escolar, ocasião em que a escola também fará seu papel de orientação também nesse quesito.

O Regional: Problemas familiares, principalmente entre os pais da criança, podem interferir na educação?

Erika de Souza Bueno: Toda criança tem sua família como seu maior exemplo de vida. Há algumas medidas que podem ser tomadas para não manchar essa belíssima fase da vida humana, a infância. Mesmo separados, os pais podem entrar em acordo quanto à educação dos filhos em comum. Se isso não for possível, pelo menos uma das partes terá que adotar uma atitude mais madura e consciente, tentando sempre estabelecer uma ponte segura entre um e outro. Logo, falar mal do pai ou mãe da criança não é uma atitude louvável, bem como discutir agressivamente na presença dela. Além disso, as frustrações oriundas do fracasso do relacionamento não podem ser transferidas aos filhos, dado que eles ainda anseiam e necessitam ter pai e mãe, mesmo que separados, como sua maior referência de vida.

O Regional: Como evitar a violência, seja pela televisão ou jogos infantis que a estimulam, sem privá-los do direito de conhecer, ter acesso a estes meios de integração tão normais em qualquer sociedade?

Erika de Souza Bueno: Em primeiro lugar, toda família precisa ter consciência quanto à faixa etária expressa em novelas, séries, filmes e jogos de videogame, bem como em revistas e afins. Observada essa primeira orientação, a família também terá que respeitar os limites de seus filhos, sabendo que eles, principalmente diante de muitas novelas e filmes, estarão sendo manipulados a todo o momento. Prova disso é o que acontece conosco mesmo ao assistirmos a um episódio em que o vilão age negativamente contra o protagonista, fazendo arder em nós desejos de justiça a qualquer preço, mesmo que esse preço seja ver o personagem do mal sofrendo os piores castigos que se pode imaginar. Se nós, como adultos, já nos deixamos influenciar a esse ponto com algum estímulo externo como nesse exemplo, imagine o que ocorre no subconsciente da criança, dos nossos filhos. Impedi-los de assistir a algo inapropriado à idade deles é uma atitude de respeito, mas, no dia a dia, eles vão viver situações que, dependendo da intervenção da família, podem prepará-los ou não para a vida. Assim, sempre que possível, dê atenção a tudo o que seu filho fala, bem como nas brincadeiras e nos conteúdos que ele está buscando na Internet, televisão e videogame. A partir dessa identificação, antes de simplesmente proibi-lo de continuar se expondo a tais materiais, faça perguntas do tipo “o que você acha disso?”, “acha que o personagem x agiu de modo correto?”, “por que o personagem do jogo matou o outro?”, entre tantas outras possibilidades. Com esse contato, você, como pai ou mãe, aumenta seu cuidado com a segurança de cada um de seus filhos.

O Regional: Como lidar com a quantidade de informações que recebem por meio da internet?

Erika de Souza Bueno: Há alguns recursos tecnológicos que você pode usar para filtrar o que seu filho está tendo acesso por meio da Internet, mas, apesar de eu os considerar eficientes, eles não substituem os cuidados quanto à orientação que todos nós, como pais e professores, precisamos oferecer às nossas crianças. Impedir por completo o uso da Internet não tem muito sentido, pois ela é apenas o reflexo do que acontece no mundo e, cedo ou tarde, a criança poderá ter contato com alguém que, infelizmente, age de um modo que vá contra aos bons conceitos que queremos que ela tenha. Dessa forma, a melhor forma para lidar com tudo isso é pelo caminho do contato, da aproximação. Uma família que está atenta à educação de seus filhos não terá grandes dificuldades para perceber qualquer mudança no comportamento deles.

Fonte da Entrevista: http://www.oregional.com.br/portal/detalhe-noticia.asp?Not=298539

Fonte do artigo que motivou a entrevista:  http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=2404

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