Diário de Classe
 

Prevenção e Tratamento da Dependência Química - 25/01/2013
Claudio Paris

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Quais razões levam um jovem a usar drogas? Como ajudá-lo a se livrar delas? O que se entende por drogas e dependência? Essas e outras questões são complexas e demandam uma análise um pouco mais aprofundada do fenômeno da drogadição.

Maconha, heroína, LSD, cocaína, crack, entre outras, chamadas popularmente de drogas, são substâncias psicoativas (SPAs) que têm convivido de alguma forma com o homem na maioria dos grupos sociais. Algumas têm origem natural, outras são feitas em laboratório, mas todas trazem inúmeras consequências para o sistema nervoso central. Tais efeitos modificam o estado geral da mente e do corpo e a conduta de quem as utiliza.

O usuário é chamado de drogadicto, já que este fenômeno é tratado hoje como uma patologia ou doença grave. A chamada drogadição é algo antigo, amplamente relatado na literatura médica, que se tornou um problema de saúde pública em meados da segunda metade do século 20, em especial nos centros urbanos. A percepção generalizada atual é de que tem crescido significativamente o consumo de substâncias psicoativas, sendo usadas por faixas etárias cada vez mais jovens.

Uma pesquisa da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelou que os principais motivos para alguém experimentar essas substâncias psicoativas são: satisfazer a curiosidade a respeito dos efeitos das drogas; sentir necessidade de participar de um grupo social; ter vontade de expressar sua independência; buscar experiências agradáveis, novas e emocionantes; melhorar a “criatividade”; favorecer uma sensação de relaxamento e fugir de sensações e/ou vivências desagradáveis.

No mesmo estudo, a OMS elencou os cinco principais fatores de risco para o consumo de SPAs: não ter informações adequadas sobre os efeitos das drogas, ter saúde deficiente, estar insatisfeito com a qualidade de vida, ter personalidade deficientemente integrada e encontrar facilidade de acesso às drogas.

As drogas podem provocar um fascínio e atração quando apoiadas no contexto social e cultural contemporâneo, que incorpora elementos da chamada pós-modernidade. De acordo com o sociólogo contemporâneo Zygmunt Bauman, diferentemente da sociedade moderna anterior, que ele chama de “modernidade sólida”, tudo agora está sendo permanentemente desmontado e sem perspectiva de permanência no chamado “mundo líquido”. Tudo acaba sendo temporário, o que explica a metáfora da “liquidez” para caracterizar o estado da sociedade moderna.

Como os líquidos, essa sociedade é incapaz de manter a forma, o que pode ser traduzido por suas instituições, quadros de referência, estilos de vida, crenças e convicções, modificando tudo antes que se tenha tempo de solidificar costumes, hábitos e verdades “autoevidentes”.

Dessa forma, Bauman aponta que os jovens da atual geração, em especial, não podem mais contar com a natureza permanente do mundo lá fora nem com a durabilidade das instituições, que tinham antes toda a probabilidade de sobreviver aos indivíduos.

Contidos nessa “liquidez”, o fenômeno da drogadição e a disseminação do consumo de substâncias psicoativas espelham o modo como muitos jovens se relacionam hoje. Ele reforça valores baseados em consumismo e busca do prazer imediatista, associados à pauperização de importante parcela da população mundial.

Quando alguém se torna dependente, a “liquidez” de seu mundo é ainda mais aguda. A dependência pode ser entendida como o impulso que a impele a usar uma droga a fim de saciar seu desejo e lhe conferir prazer. O chamado drogadicto - ou dependente - caracteriza-se por ser incapaz de controlar seu desejo de consumir drogas, tendo um comportamento impulsivo e repetitivo, muito alterado em relação ao seu padrão habitual.

A dependência também é marcada pela síndrome de abstinência, cujos sintomas estão associados à ansiedade, mal-estar e desconforto incontrolável, além de tremor nas mãos, náuseas, vômitos e até um quadro de abstinência agudo denominado delirium tremens, com risco de morte, em alguns casos.

Já há inúmeros medicamentos que podem minimizar tais efeitos. Porém, a cura para a drogadição é extremamente difícil, o tratamento é demorado e muito custoso emocionalmente para o dependente, sua família e círculo social.
O tratamento da dependência não pode estar restrito às medicações. Há nesse aspecto uma observação, muito disseminada, sobre o êxito na recuperação estar ligado a uma reorganização psicossocial do indivíduo.

Psicólogos e terapeutas apresentam um grande arsenal de estratégias que colaboram nesse processo, deixando claro que um problema de tal complexidade exige uma abordagem terapêutica aliada a iniciativas que afastem o dependente das drogas. A arte, a prática esportiva e outras atividades prazerosas são capazes de ocupar o tempo utilizado anteriormente com as drogas, dentro de um contexto saudável, construtivo e estimulante.

Para isso, é fundamental o papel do tripé "escola, comunidade e família", atuando conjuntamente em harmonia. Isso favorece o processo de recuperação das vítimas da dependência. O desafio dos pais e educadores é promover um amálgama de saberes tradicionais (“legado”) com novos saberes (“futuro”) por meio de práticas que atinjam os jovens nos sentidos, levando-os a desenvolver uma percepção de que há vida, alegria e saúde longe das drogas.

Incorporando o pensamento do sociólogo Bauman, deve-se criar uma nova matriz “líquida”, capaz de promover uma cultura de tolerância, solidariedade, respeito mútuo, cidadania, autonomia e protagonismo social. Vivemos na fluidez, em períodos desafiadores, tempo de incertezas e novos desafios, mas fortalecidos pela certeza de que a luta contra as drogas é dever de cada um de nós.

Claudio Paris é licenciado em Ciências e Biologia e pós-graduado em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). É professor, músico e gestor da Nova Geração, comunidade terapêutica que assiste jovens vítimas de exclusão social e drogadição.

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