A
Matemática é uma ciência sisuda,
sinistra, lúgubre, abstrata e tem cara de poucos amigos ―
pensam muitos que por ela foram humilhados.
No entanto, sendo a Matemática a rainha e serva de todas as
ciências, uma das joias da coroa de Sua Majestade
é lúdica, bem-humorada, hilária e se
apresenta na forma de quebra-cabeças, passatempos, sudokus,
diversos games, causos e galhofas.
Ela diverte e é bálsamo para as horas de
tédio ou quando falta companhia. Ademais, enseja a
têmpera racional da mente. Merecidamente, o mercado de
trabalho valoriza o profissional com senso de humor, leitor e dotado de
raciocínio lógico.
Os quebra-cabeças são desafios estimulantes. Dos
milhares existentes, escolho dois:
1)Três gatos comem três ratos em três
minutos. Cem gatos comem cem ratos em quantos minutos?
2) Numa lagoa, há dois patos na frente de dois patos, dois
patos no meio de dois patos e dois patos atrás de dois
patos. Quantos patos há na lagoa?
Após muitas sinapses, chegamos às respostas: 3
minutos e 4 patos.
Há também anedotas:
Um casal de matemáticos, cujo marido se chamava Roberto,
tinha três filhos: zero-roberto, um-berto, dois-berto. Outro
matemático, ao contar a história para a filha,
assim começava: era uma vez uma floresta F, onde havia
três porquinhos P¹, P² e P³, sendo
P¹>P²>P³...
A filosofia popular é recorrente desde os para-choques dos
caminhões – “A minha vida é
como a Matemática, cheia de problemas” –
até as cavilosas piadas do Joãozinho. Nestas
últimas, o professor se esmera em explicar que o logaritmo
de 2 é 0,30103. Na aula seguinte, quando o mestre pergunta
qual o logaritmo de 2, Joãozinho debocha: o
lugar-íntimo de dois é ¼.
Atualmente, a relação entre aluno e professor
é amistosa, diferentemente do passado. Nas
décadas de 1970 e 1980, as provas de Álgebra
Linear e Geometria Analítica para os alunos das engenharias
da UFPR eram feitas aos sábados, às sete horas da
manhã, na chamada “câmara de
gás” do Centro Politécnico.
Nós, em cinco professores, sob o comando do
lendário Leo Barsotti, mais parecíamos um
pelotão de fuzilamento. Participavam cerca de 700 alunos.
“Quem não cola não sai da
escola” era a filosofia dos estudantes. Boa parte deles
passava a noite em claro, preparando-se para aquele inferno de Dante.
Às quatro da manhã do dia da prova, toca o
telefone na minha residência. Obviamente, acordo
sobressaltado:
– Alô...
– O Napoleão está?
– Aqui não tem nenhum Napoleão!
– Mas por que o cavalo dele está dormindo
aí?
Histórias pitorescas sempre têm um pouco de
fantasia, principalmente quando se reportam a homens bem-sucedidos.
Conta-se que na Universidade de Harvard havia um professor de
Cálculo Integral extremamente rigoroso.
Na última avaliação do ano, elaborou
uma prova muito difícil e lançou um desafio a
seus alunos: "se um de vocês tirar nota 10 nesta prova,
peço demissão da Universidade e serei seu
assessor". Era seu aluno um fedelho de 17 anos, mas brilhante nessa
disciplina. Obteve nota 9,5.
Até hoje, o nosso caro professor lamenta ter sido
tão exigente. Perdeu a oportunidade de se tornar um dos
homens mais ricos do planeta. Em tempo: o aluno se chamava Bill Gates.
Enfim, a Matemática tem seus encantos, apesar do rigor e de
sua linguagem fria e sincopada. Contemplando as leis físicas
e universais, a harmonia e a beleza do Universo, já se disse
que a mente de Deus é matemática.
Em valorização ao cômico e divertido,
não é difícil anuir com Umberto Eco:
“O riso aproxima o homem de Deus.”
Jacir
José Venturi
é Engenheiro Civil – UFPR; Licenciado em
Matemática – UFPR;
Especialização em Engenharia e
Educação; Professor adjunto da UFPR (1974 a
1998); Professor da PUC-PR (1974 a 1985); Docente do Colégio
Estadual do Paraná de (1972 a 1974);
Sócio-fundador, professor e diretor do Curso e
Colégio Decisivo (desde 1977); Sócio-fundador,
professor e diretor do Curso e Colégio Unificado (de 1974 a
2009); Diretor do Colégio Stella Maris (de 1989 a 2009);
Diretor do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do
Paraná (desde 1986); Autor do livro: Da Sabedoria
Clássica à Popular; Autor dos livros para o
ensino superior: Álgebra Vetorial e Geometria
Analítica; Cônicas e Quádricas; Autor
de inúmeros artigos para jornais e
revistas; Cidadão Honorário de Curitiba (2001);
Mentor e
colaborador do Amo Curitiba – ações
voluntárias; Promoção do Sinepe-PR
(são 750 projetos implementados pelas escolas particulares
de Curitiba, junto a escolas públicas de periferia, creches,
asilos, hospitais e ao meio ambiente).