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Uma das maiores alegrias que tenho ao redigir meus textos da coluna Cinema na Escola é constatar que a cada nova “safra” de artigos redigidos há uma quantidade expressiva de filmes nacionais sendo analisados, comentados, discutidos e recomendados ao amigo internauta que “freqüenta” nossas páginas, no Planeta Educação. O cinema nacional recuperou-se na última década depois de quase falir em virtude da desastrosa política cultural implementada no início dos anos 1990. Walter Salles, Fernando Meirelles, Bruno Barreto, Carla Camuratti e tantos outros importantes cineastas surgiram e consolidaram uma linguagem que consegue ser, ao mesmo tempo, acessível ao grande público, original, criativa e elogiada pelos críticos especializados. Prêmios e indicações nos principais festivais de cinema do mundo inteiro comprovam esse crescimento notável. É para sentir muito orgulho!

O mais interessante é que, além dos longa-metragens, o Brasil consolidou há algum tempo uma justa fama de produtor de ótimos curta-metragens (filmes que tem, no máximo, 30 minutos de duração), também merecedores de especial consideração pelo mercado mundial. Basta lembrar que em recente levantamento de especialistas o curta-metragem nacional “Ônibus 174” foi considerado um dos melhores do mundo (“Segundo o site Rotten Tomatoes, que reúne as resenhas de cerca de 200 dos mais influentes críticos cinematográficos dos Estados Unidos e alguns da imprensa estrangeira, incluindo o Brasil, o documentário brasileiro Ônibus 174, de João Padilha, ocupa o importante lugar de 2° Melhor Filme de todos os tempos, com 64 críticas conferindo-o nota máxima”).

O curta “Ilha das Flores”, do premiado cineasta Jorge Furtado (responsável pelo ótimo filme
“O Homem que Copiava”), faz parte do acervo do Porta-Curtas.
(fotos de divulgação do filme e do diretor Furtado).

Porém, existe um problema significativo a ser resolvido no que tange a distribuição e acesso do grande público a produção nacional de curta-metragens. Nossos curta-metragens são exibidos em circuitos fechados, compostos por cineclubes ou festivais especializados que, na maior parte dos casos, ficam restritos aos grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro. Depois de participarem dessas mostras, raramente acabam se tornando vídeos comerciais que possam ser repassados para locadoras nas quais nós, meros mortais, possamos ter acesso.

Isso cria uma situação um tanto quanto disparatada já que os brasileiros acabam desconhecendo a produção nacional de curta-metragens que estão sendo premiados e elogiados mundo afora. Para resolver esse problema surgiu o site Porta-Curtas, patrocinado pela Petrobrás (já envolvida com cinema nacional ao promover e financiar alguns dos mais recentes sucessos brasileiros, como “Cidade de Deus” e “Carlota Joaquina”), onde os internautas podem se deliciar com vários curta-metragens nacionais disponíveis através do Windows Media Player (a ser baixado e instalado no computador do visitante). É, sem dúvida alguma, uma valiosíssima contribuição à cultura nacional e merece visita obrigatória de toda e qualquer pessoa interessada no assunto, especialmente professores e estudantes sequiosos por mais informação a respeito de nosso país. Imperdível.

O Site

As produções nacionais são esmeradas e têm em seus elencos grandes astros
do cinema e da televisão como Norma Bengel e José Wilker (em “Banquete”),
Antônio Fagundes (em “Barbosa”) e Paulo José e Laura Cardoso (em “Morte”).

O Porta-Curtas é um site de visual agradável, de simples navegação e bastante objetivo quanto a sua organização interna, o que facilita muito a pesquisa por parte do internauta. A princípio seria interessante ao internauta cadastrar-se para poder ser informado regularmente, através de e-mails, das novas aquisições que passam a fazer parte do acervo disponibilizado pelo site.

Na página inicial encontramos um eficiente mecanismo de busca (Ache um Curta) que permite a rápida localização dos filmes procurados. Se você não souber o nome da produção que está procurando, mas souber outros dados como o diretor, atores e atrizes, ano de realização, duração, prêmios, sinopse ou mesmo parte dos diálogos, você pode recorrer à busca detalhada.

Outro recurso valioso disponível na página inicial é o link “Minha Cinemateca” através do qual o internauta pode criar uma lista de curtas que tenha visto e gostado ou que possam servir como referências para seu trabalho.

Um ponto forte do site são os curtas recomendados na seção Em Destaque. Para facilitar ao visitante o conhecimento do acervo e as possibilidades do mesmo são dadas informações iniciais, numa breve sinopse acompanhada de fotografia da produção para incentivar a visualização da obra. No momento em que escrevo esse artigo estão sendo recomendadas as seguintes produções: “Rua da Escadinha 162”, “Barbosa” (estrelado por Antônio Fagundes), “Ex-Inferis” e “Viagem” (com Laura Cardoso e Paulo José).

Não perca também as Estréias disponíveis. São os novos filmes incorporados ao rico acervo do Porta-Curtas. Nessa semana está em destaque um filme de 8 minutos, do diretor Marcelo Laffitte, estrelado por José Wilker e Norma Bengell, entitulado “Banquete”.

Além de tudo isso, o Porta-Curtas disponibiliza uma relação dos filmes mais assistidos e dos mais cotados (de acordo com a avaliação dos internautas). Liderando a relação estão, entre os mais assistidos, “Almas em Chamas” e o clássico “Ilha das Flores” e, entre os mais cotados, “Uma História de Futebol” (Indicado ao Oscar, um relato sobre a infância de Pelé) e “Coruja”.

O visitante ainda tem como opções assistir um filme escolhido aleatoriamente através da Roleta, obter mais informações sobre curtas com as indicações de outros sites em +Curtas ou saber mais a respeito do setor com as notícias em Curtinhas.

Aos Professores

“Uma História de Futebol”, do diretor Paulo Machline, narrado por Antônio Fagundes,
foi indicado ao Oscar de melhor Curta-Metragem e também faz parte do acervo do Porta-Curtas.

Aproveitei a oportunidade de entrar no Porta-Curtas e revi alguns daqueles incríveis filmes disponíveis no acervo do site. Emocionei-me particularmente com “Uma História de Futebol”, de Paulo Machline, que nos conta um pouco da infância do rei Pelé. Acredito que todos nós temos muita coisa para contar, muitos relatos a fazer, histórias vividas por cada um de nós ou mesmo inventadas a partir de nossa imaginação, de nosso contato com a realidade e com a vida. Acho que, por isso, os curta-metragens nacionais servem como importante apoio para o resgate da memória e para a valorização da criatividade existente em nosso país.

Nunca fui um Pelé no futebol, mas como todo bom garoto brasileiro também disputei minhas “peladas” por campos alternativos e pude, na medida do possível, fazer uns golzinhos. Independentemente disso, vale ressaltar que a simples capacidade de voltar no tempo, resgatando uma época em que aprendíamos a jogar bola na rua, em campões de terra batida, muitas vezes descalços e voltando para casa com cortes e arranhões é contribuição inestimável de um filme como “Uma História de Futebol”.

Há muitas outras histórias a se resgatar e tantas reflexões que podem surgir e se desenvolver se tivermos contatos com mais referências culturais. Há um Brasil a ser descoberto na literatura, na música, nas artes plásticas, no esporte e no cinema desse país.

Acessar o Porta-Curtas, bancado pela nobre iniciativa da Petrobrás, pode ser um canal fantástico para singrar novos mares e redescobrir nosso país, nossa gente e nossa cultura. Que tal levantar as velas e partir para essa nova e grandiosa aventura? Boa viagem...