No tradicional conto “Cinderela”, a jovem afligida
pela inveja advinda de suas irmãs e madrasta faz pensarmos o
quanto a sociedade, desde tempos remotos, é materialista e o
quanto um belo traje pode mudar a percepção de
alguma pessoa.
A simplicidade de Cinderela não estava apenas nas roupas
velhas que tinha sido obrigada a usar para dar conta de todos os
afazeres domésticos que lhes eram impostos em sua casa,
principalmente quando seu pai, um rico comerciante, ausentava-se,
deixando-a sozinha com sua nova
“família”.
Não, a simplicidade de alguém não
é medida pelo o que veste, tampouco pelo o que tem ou deixa
de ter, dado que o simples de verdade age de modo espontâneo,
sem complicações e não “cria
caso” de pouca coisa.
As características da simplicidade são ainda
superiores, pois o simples também pode ser entendido como o
elegante, discreto e sincero, aspectos estes que parecem compor o
perfil da bela jovem apresentada no conto.
Esses traços relacionados ao comportamento da
moça a afastam de qualquer crítica, dado que,
pelo que a história nos conta, foi o príncipe
que, mesmo após momentos fantasiosos de uma noite de
dança, só a reconheceu por ser ela a
única jovem do reino em que um dos pés cabia no
elegante (e, ao que parece, desconfortável) sapatinho de
cristal.
Infelizmente, muitos estão agindo hoje em dia de modo muito
semelhante ao príncipe apresentado no conto, o qual parece
ter ficado tão enfeitiçado pelo brilho do
cristal, a ponto de este ter sido o único meio
possível para encontrar a humilde jovem por quem se
apaixonou após uma linda noite festiva.
Contudo, a “meia-noite” pode chegar à
vida de qualquer pessoa em qualquer momento. Quando as luzes da
saúde, da beleza e do vigor se apagarem, vamos precisar de
príncipes com qualidades muito superiores àquelas
do cavalheiro de Cinderela.
Em qualquer momento, nossos encantos vão se apagar, e o
único brilho que teremos não será o do
“sapatinho de cristal”, podendo ser simbolizado
aqui como um bom emprego, status social ou elevadas
condições financeiras.
Depois da nossa “meia-noite”, o nosso brilho
terá que ter sido suficiente para permanecer em
nós, de modo que possamos ainda ser identificados por
pessoas amigas que queiram, de fato, ficar ao nosso lado, a despeito de
possíveis condições
desfavoráveis.
Assim como as demais pessoas presentes naquele baile oferecido pelo
rei, o príncipe também não foi capaz
de reconhecer a linda moça sem os elegantes trajes da noite
da noite anterior.
Num mundo cada vez mais materialista,
muitas circunstâncias
podem forçar alguém a “descer do
salto” e, não somente por isso, é
importante viver de um modo mais condizente com os frutos que
desejamos, um dia, colher.