Diário de Classe
 

Cuidados Extremos com os Filhos - 07/01/2013
Breno Rosostolato

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Cuidar do filho, participar da vida dele, dialogar e orientar as questões que envolvem seu desenvolvimento psíquico e cognitivo, direcionar atitudes e comportamentos da criança permitindo a livre escolha, alicerçar a autonomia do filho...

Todas essas ações e comportamentos são importantes papéis e dever dos pais, mas o exagero e o excesso de cuidados e zelos podem ocasionar problemas emocionais à criança.

O aumento da violência, as drogas que cada vez mais cedo são apresentadas aos jovens e as denúncias e crimes ligados a abusos sexuais vêm gerando um conflito interno ao seio da família.

Ao mesmo tempo em que se deve proteger os filhos, os pais enfraquecem-se diante do medo e se deparam com as exigências intensas dos próprios, os quais possuem necessidades específicas, pois estão inseridos em um momento tecnológico e imediatista.

Isso faz com que mães e pais adotem atitudes desesperadas, nas quais a educação do filho passa a ser sufocante ou, então, sucumbem a essas pressões.

O que se observa é que muitos pais sentem-se ameaçados e não conseguem assumir seu papel social e afetivo, o que os leva a transferir a educação dos filhos para tutores, parentes próximos e até mesmo à escola.

A escola, por sua vez, ensina, mas a educação, aquela que vem de “berço”, é condição primordial da família.

Os pais mais excessivos e ansiosos encontram uma maneira de contornar esse conflito ao aprisionar os filhos a eles, equipando as crianças com celulares, laptops e tablets, todos antenados e acessíveis apenas ao toque de um botão.

Quaisquer recursos que diminuem a independência e autonomia dos filhos os deixam medrosos e enclausurados à proteção exacerbada dos pais.

Outro excesso (muito comum) é quando a criança começa a andar e os pais ficam à sombra dela, tentando impedir que se machuque.

Mas o ato de andar acontece através de tentativas e erros, do mesmo modo que deve ser o desenvolvimento psicomotor da criança, que vai cair e insistir até conseguir se equilibrar.

Muito embora os pais se preocupem, deve-se dar vazão ao aprendizado espontâneo da criança que se constrói através da frustração que precede a recompensa.

Donald Woods Winnicott, famoso pediatra e psicanalista inglês, afirmava que todo indivíduo humano possui uma tendência inata para o amadurecimento, o que se dá em algumas fases.

São elas: a dependência absoluta, a fase de onipotência e a fase rumo à independência.

Inicialmente, mãe e bebê formam uma unidade, ou seja, vivem uma relação simbiótica, fazendo com que a mãe também crie um estado de dependência. É aí que entra a mãe suficientemente boa, a qual reconhece as necessidades do filho.

Mas o estado de onipotência da criança é importante para a constituição de sua subjetividade e a transição para a independência, que culminará numa autonomia que se dá pela aceitação do universo externo, não se limitando à mãe.

Esta deve desenvolver uma aceitação de sua frustração e desmistificar a ilusão de ter o filho para si. Esse fracasso materno é imprescindível para estabelecer papéis, mas o pai também tem um papel primordial.

Antes relegado apenas ao posto de provedor, hoje já com uma nova configuração e assumindo outro papel, enquanto que a mãe amamenta o filho, o pai deve amamentar a mãe.

Apoiar e participar das decisões quanto à educação do filho, sustentar os anseios do casal, evidenciando as dificuldades e procurando diminuí-las, além de promover o diálogo conjugal. O casal precisa se ajudar mutuamente, sem rivalidades e disputas.

Quando requisitado, o pai será um interventor, dizendo não para a criança e para a mãe. Assim, uma omissão de sua parte desorganiza a dinâmica desta família.

O pai se sensibiliza e se mobiliza junto à esposa. É retrógrado o conceito de um pai como nos moldes de um sistema patriarcal, autoritário e impositivo.

A participação responsável dos pais será crucial para o desenvolvimento de capacidades no filho, da mesma forma que o exagero, excessos e omissões serão igualmente destrutivos a esse desenvolvimento.

Não existe uma medida certa, mas existe coerência e bom senso. Os pais devem “falar a mesma língua” para que ambos se sintam integrados a esta família.

Questionamentos, dúvidas e culpa são sentimentos inevitáveis, mas construtivos e que servem de base para o crescimento pessoal.

Breno Rosostolato é especialista em psicologia clínica, arteterapia, hipnose clínica, sexualidade e professor de psicologia da Faculdade Santa Marcelina.

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