Cuidar do filho, participar da vida dele, dialogar e orientar as
questões que envolvem seu desenvolvimento
psíquico e cognitivo, direcionar atitudes e comportamentos
da criança permitindo a livre
escolha, alicerçar a autonomia do filho...
Todas essas ações e comportamentos
são importantes papéis e
dever dos pais, mas o exagero e o excesso de cuidados e zelos
podem ocasionar problemas emocionais à criança.
O aumento da violência, as drogas que cada vez mais cedo
são apresentadas aos jovens e as denúncias e
crimes ligados a abusos sexuais vêm gerando um conflito
interno ao seio da família.
Ao mesmo tempo em que se deve proteger os filhos, os pais
enfraquecem-se diante do medo e se deparam com as exigências
intensas dos próprios, os quais possuem
necessidades específicas, pois estão inseridos em
um momento tecnológico e imediatista.
Isso faz com que mães e pais adotem atitudes desesperadas,
nas quais a educação do filho
passa a ser sufocante ou, então, sucumbem a essas
pressões.
O que se observa é que muitos pais sentem-se
ameaçados e não conseguem assumir seu papel
social e afetivo, o que os leva a transferir a
educação dos filhos para tutores, parentes
próximos e até mesmo à escola.
A escola, por sua vez, ensina, mas a educação,
aquela que vem de “berço”, é
condição primordial da família.
Os pais mais excessivos e ansiosos encontram uma maneira de contornar
esse conflito ao aprisionar os filhos a eles, equipando as
crianças com celulares, laptops e tablets, todos antenados e
acessíveis apenas ao toque de um botão.
Quaisquer recursos que diminuem a independência e
autonomia dos filhos os deixam medrosos e enclausurados à
proteção exacerbada dos pais.
Outro excesso (muito comum) é quando a
criança começa a andar e os pais ficam
à sombra dela, tentando impedir que se
machuque.
Mas o ato de andar acontece através de tentativas e erros,
do mesmo modo que deve ser o desenvolvimento psicomotor da
criança, que vai cair e insistir até
conseguir se equilibrar.
Muito embora os pais se preocupem, deve-se dar vazão ao
aprendizado espontâneo da criança que se
constrói através da
frustração que precede a recompensa.
Donald Woods Winnicott, famoso pediatra e psicanalista
inglês, afirmava que todo indivíduo humano possui
uma tendência inata para o amadurecimento, o que se
dá em algumas fases.
São elas: a dependência absoluta, a fase
de onipotência e a fase rumo à
independência.
Inicialmente, mãe e bebê formam uma unidade, ou
seja, vivem uma relação simbiótica,
fazendo com que a mãe também crie um estado de
dependência. É aí que entra a
mãe suficientemente boa, a qual reconhece as
necessidades do filho.
Mas o estado de onipotência da criança
é importante para a constituição de
sua subjetividade e a transição para a
independência, que culminará numa autonomia que se
dá pela aceitação do universo externo,
não se limitando à mãe.
Esta deve desenvolver uma aceitação de
sua frustração e desmistificar a
ilusão de ter o filho para si. Esse fracasso materno
é imprescindível para estabelecer
papéis, mas o pai também tem um papel primordial.
Antes relegado apenas ao posto de provedor, hoje já com uma
nova configuração e assumindo outro papel,
enquanto que a mãe amamenta o filho, o pai deve amamentar a
mãe.
Apoiar e participar das decisões quanto à
educação do filho, sustentar os anseios do casal,
evidenciando as dificuldades e procurando diminuí-las,
além de promover o diálogo conjugal. O casal
precisa se ajudar mutuamente, sem rivalidades e disputas.
Quando requisitado, o pai será um interventor,
dizendo não para a criança e para a
mãe. Assim, uma omissão de sua parte desorganiza
a dinâmica desta família.
O pai se sensibiliza e se mobiliza junto à esposa.
É retrógrado o conceito de um pai como nos moldes
de um sistema patriarcal, autoritário e impositivo.
A participação responsável dos pais
será crucial para o desenvolvimento de capacidades no filho,
da mesma forma que o exagero, excessos e omissões
serão igualmente destrutivos a esse desenvolvimento.
Não existe uma medida certa, mas existe coerência
e bom senso. Os pais devem “falar a mesma
língua” para que ambos se sintam integrados a esta
família.
Questionamentos, dúvidas e culpa são sentimentos
inevitáveis, mas construtivos e que servem de base para o
crescimento pessoal.
Breno
Rosostolato
é
especialista em psicologia clínica, arteterapia, hipnose
clínica, sexualidade e professor de psicologia da Faculdade
Santa Marcelina.