De Olho na História
 

Jovens Sem Causa - 10/12/2012
Jacir José Venturi

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Foto de Jacir José Venturi, autor do artigoÉ tristemente baixa a capacidade de mobilização dos nossos jovens.

Salvo exceções, perderam o nobre sentimento da indignação diante dos problemas sociais e políticos em um país com milhões de estudantes bem nutridos, bem instruídos, com tempo disponível e, no entanto, consumistas, hedonistas e sem qualquer participação comunitária.

Poucos são os jovens que conhecem a crua e nua realidade da periferia de sua cidade ou que movem alguma ação concreta para debelar a perversa condição de miserabilidade de 19 milhões de brasileiros.

Em uma pesquisa que realizamos com 1900 alunos de três escolas de Curitiba, constatamos que apenas 8% participam sistematicamente de ações voluntárias.

No entanto, 71% gostariam de participar, mas não sabem como.

Assim, estamos muito aquém dos países da Europa e da América do Norte, onde a inserção dos jovens em projetos comunitários é relevante: de 40% a 62%.

Mesmo com a mídia concedendo espaços generosos a temas como justiça social, corrupção, impunidade, mais vagas nas escolas técnicas, qualidade do ensino público, poucos são os jovens que se apresentam.

Cadê o frenesi que está no DNA da juventude, a exemplo das campanhas dos movimentos estudantis de 1968, das Diretas Já, dos caras-pintadas pró-impeachment do Collor?

Depois disso, duas décadas de tibieza e inércia em meio a uma profusão de boas causas.

Os lídimos aglutinadores dos anseios da sociedade, como a UNE, UBES, UPE, DCE, Grêmios, etc. pouco ou nada se manifestam.

Faltam-lhes representatividade e capacidade de mobilização. comumente eles se desgastaram com suas participações político-partidárias.

Mundialmente, vivemos duas realidades distintas: intensa participação estudantil, na denominada primavera árabe, fornecendo músculos aos legítimos e populares movimentos em prol da democracia.

Em contrapartida, o que se vê no Ocidente?

Violência, quebra-quebras e saques como os que eclodiram nas ruas de Los Angeles em 1992, de Paris em 2005, de Santiago, Londres, Madri e quase uma dezena de outras cidades em 2011.

É a fúria das ruas. Não há causas, apenas caos.

Especialmente em relação aos recentes vandalismos em Londres, Zygmunt Bauman, 85 anos, professor universitário, autor de dezenas de livros e um dos mais respeitados sociólogos da atualidade, é enfático:

“É uma revolta motivada pelo desejo de consumir, não por qualquer preocupação maior com mudanças na ordem social. Foi um motim de consumidores excluídos e frustrados. Todos nós fomos seduzidos para ver o consumo como uma receita para uma boa vida.”

Aos sábados, a Gazeta do Povo nos brinda com as deliciosas e afetivas crônicas da jornalista Marleth Silva.

Há duas semanas, discorreu sobre os jovens ingleses que fizeram quatro noites de quebra-quebras e só pouparam as livrarias.

A nossa jornalista indaga e já em seguida palpita: “Que livro essa rapaziada deveria escolher? Eu arriscaria O Apanhador no Campo do Centeio, do Salinger.”

Realmente, uma ótima sugestão.

Porém, nós, os sessentões remanescentes dos movimentos estudantis de 1968, líamos Sartre, Marcuse, Platão, Darcy Ribeiro e Celso Furtado.

Pouco entendíamos dos dois primeiros, pois eram densos e maçantes, mas estavam na moda.

E não nos faltava pilhéria e presunção quando afixamos um cartaz na parede da pensão da rua Riachuelo, onde morávamos em quatro: “Há muito mais filosofia numa república da Riachuelo, que em toda a República de Platão.”

Sempre atentos aos riscos iminentes, cantávamos as músicas de protesto de Vandré: Chico, Gil e Caetano.

Hoje, um quase hino à apatia, a maioria dos jovens pratica o refrão de Zeca Pagodinho: “deixa a vida me levar” .

No entanto, essa bela música tem um estribilho reparador: “mas meu coração é nobre”.

Jacir José Venturi é Engenheiro Civil – UFPR; Licenciado em Matemática – UFPR; Especialização em Engenharia e Educação; Professor adjunto da UFPR (1974 a 1998); Professor da PUC-PR (1974 a 1985); Docente do Colégio Estadual do Paraná de (1972 a 1974); Sócio-fundador, professor e diretor do Curso e Colégio Decisivo (desde 1977); Sócio-fundador, professor e diretor do Curso e Colégio Unificado (de 1974 a 2009); Diretor do Colégio Stella Maris (de 1989 a 2009); Diretor do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Paraná (desde 1986); Autor do livro: Da Sabedoria Clássica à Popular; Autor dos livros para o ensino superior: Álgebra Vetorial e Geometria Analítica; Cônicas e Quádricas; Autor de inúmeros artigos para jornais e revistas; Cidadão Honorário de Curitiba (2001); Mentor e colaborador do Amo Curitiba – ações voluntárias; Promoção do Sinepe-PR (são 750 projetos implementados pelas escolas particulares de Curitiba, junto a escolas públicas de periferia, creches, asilos, hospitais e ao meio ambiente).

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1 COMENTÁRIOS

1 Adilson Gonçalves - São Jose do Campos
Os muros das batalhas são muitos, no que tange as ideologias a maioria são fadadas ao fracasso, perdem o valor no curso das aguas, ser realmente inocentes como as bombas, porem astutas como as serpentes, é o que terá real valor para o futuro.
29/01/2013 17:13:52


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