“A
curiosidade matou o gato”.
Essa expressão, até certo ponto comum, inibe a
curiosidade, pois ameaça dizendo que não podemos
ser curiosos, pois é perigoso.
Algum mal pode ocorrer com aquele que for curioso, a curiosidade torna
as pessoas inconvenientes...
Principalmente quando falamos de crianças, é
inevitável lembrar que elas são, por natureza,
curiosas.
E é aí que reside sua grande capacidade de
aprender, de buscar, de desvendar os segredos que as rodeiam.
Mas, por conta da má-fama da curiosidade entre os adultos,
ao crescerem, as crianças são levadas a perderem
a atitude da curiosidade.
Gostaria de resgatar o significado de curiosidade.
Ser curioso é saber que sempre há algo a mais do
que foi visto e falado.
É não se contentar com aquilo que de imediato
é apresentado.
Recorrendo aos vários sentidos etimológicos que a
palavra recebeu em seu percurso histórico, curiosidade pode
ser definida como “desejo intenso de ver, ouvir, saber,
experimentar algum coisa”.
Daniel Goleman, em seu livro "Inteligência Emocional" resume,
generoso: “Curiosidade é o senso de que descobrir
coisas é positivo e dá prazer”.
E é graças à curiosidade que
conseguimos alcançar tantas conquistas nos mais diversos
campos de nossa existência.
A ciência, as artes, a filosofia e a espiritualidade
só foram desenvolvidas porque o homem quis ir
além, porque ele ousou buscar, porque ele foi curioso.
Infelizmente, na percepção popular, a curiosidade
caiu em desgraça.
Passou a ser associada a atitudes menos aceitáveis
moralmente, com invasão, e com bisbilhotice.
Passamos a ter vergonha de nos reconhecermos curiosos.
Criamos uma espécie de culpa ao redor daquela que, em
princípio, seria nossa primeira mola propulsora.
Inclusive, passamos a ensinar a nossas crianças
não serem curiosas, criamos uma série de maneiras
de acostumá-las a não ir atrás das
coisas, mas esperar que nós as entregássemos
prontas em suas mãos.
Com a santa intenção de protegê-las dos
perigos (“a curiosidade matou o gato”), mostramos
que não é bom ir ao encontro do desconhecido, que
não vale a pena buscar novas respostas a uma pergunta que
já foi respondida, que não fica bem fazer
perguntas desconcertantes sobre coisas que parecem óbvias.
Por isso, quero ajudar no resgate da curiosidade.
Não discuto que a curiosidade dos pequenos e iniciantes
não deva ser acompanhada e orientada pelas
experiências dos maiores e mais velhos (mas que ainda
não perderam o hábito de serem curiosos).
Certamente, não é a bisbilhotice que defendemos.
E é aqui que pais e professores têm papel
fundamental: ajudarem no desenvolvimento do hábito
saudável de ser curioso dos filhos e alunos.
Mas nunca podemos confundir acompanhamento e
orientação com proibição e
substituição.
Não podemos, mesmo que com a justificativa de achar que
estaremos poupando do perigo, tirar o direito de alguém
ousar e buscar novas aprendizagens.
A curiosidade está intimamente ligada à
criatividade.
E esta última é a que mais precisamos para
resolver tantos problemas que nos afligem.
Precisamos ser mais criativos para resolver questões como a
pobreza, a indiferença, a mediocridade.
Assim, precisamos permitir que nossa curiosidade, aliada à
criatividade, que é a ferramenta que forjou o mundo, possa
nos ajudar a tornar nossas vidas melhores.
Flávio
Batista é
Filósofo, mestre em educação,
professor e palestrante.