Diário de Classe
 

A Curiosidade Matou o Gato - 30/11/2012
Flávio Batista

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“A curiosidade matou o gato”.

Essa expressão, até certo ponto comum, inibe a curiosidade, pois ameaça dizendo que não podemos ser curiosos, pois é perigoso.

Algum mal pode ocorrer com aquele que for curioso, a curiosidade torna as pessoas inconvenientes...

Principalmente quando falamos de crianças, é inevitável lembrar que elas são, por natureza, curiosas.

E é aí que reside sua grande capacidade de aprender, de buscar, de desvendar os segredos que as rodeiam.

Mas, por conta da má-fama da curiosidade entre os adultos, ao crescerem, as crianças são levadas a perderem a atitude da curiosidade.

Gostaria de resgatar o significado de curiosidade.

Ser curioso é saber que sempre há algo a mais do que foi visto e falado.

É não se contentar com aquilo que de imediato é apresentado.

Recorrendo aos vários sentidos etimológicos que a palavra recebeu em seu percurso histórico, curiosidade pode ser definida como “desejo intenso de ver, ouvir, saber, experimentar algum coisa”.

Daniel Goleman, em seu livro "Inteligência Emocional" resume, generoso: “Curiosidade é o senso de que descobrir coisas é positivo e dá prazer”.

E é graças à curiosidade que conseguimos alcançar tantas conquistas nos mais diversos campos de nossa existência.

A ciência, as artes, a filosofia e a espiritualidade só foram desenvolvidas porque o homem quis ir além, porque ele ousou buscar, porque ele foi curioso.

Infelizmente, na percepção popular, a curiosidade caiu em desgraça.

Passou a ser associada a atitudes menos aceitáveis moralmente, com invasão, e com bisbilhotice.

Passamos a ter vergonha de nos reconhecermos curiosos.

Criamos uma espécie de culpa ao redor daquela que, em princípio, seria nossa primeira mola propulsora.

Inclusive, passamos a ensinar a nossas crianças não serem curiosas, criamos uma série de maneiras de acostumá-las a não ir atrás das coisas, mas esperar que nós as entregássemos prontas em suas mãos.

Com a santa intenção de protegê-las dos perigos (“a curiosidade matou o gato”), mostramos que não é bom ir ao encontro do desconhecido, que não vale a pena buscar novas respostas a uma pergunta que já foi respondida, que não fica bem fazer perguntas desconcertantes sobre coisas que parecem óbvias.

Por isso, quero ajudar no resgate da curiosidade.

Não discuto que a curiosidade dos pequenos e iniciantes não deva ser acompanhada e orientada pelas experiências dos maiores e mais velhos (mas que ainda não perderam o hábito de serem curiosos).

Certamente, não é a bisbilhotice que defendemos.

E é aqui que pais e professores têm papel fundamental: ajudarem no desenvolvimento do hábito saudável de ser curioso dos filhos e alunos.

Mas nunca podemos confundir acompanhamento e orientação com proibição e substituição.

Não podemos, mesmo que com a justificativa de achar que estaremos poupando do perigo, tirar o direito de alguém ousar e buscar novas aprendizagens.

A curiosidade está intimamente ligada à criatividade.

E esta última é a que mais precisamos para resolver tantos problemas que nos afligem.

Precisamos ser mais criativos para resolver questões como a pobreza, a indiferença, a mediocridade.

Assim, precisamos permitir que nossa curiosidade, aliada à criatividade, que é a ferramenta que forjou o mundo, possa nos ajudar a tornar nossas vidas melhores.

Flávio Batista é Filósofo, mestre em educação, professor e palestrante.

Avaliação deste Artigo: 5 estrelas
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