Ensinar
a raciocinar, em meio a tantas demandas, é uma das
principais tarefas da escola.
Não importa a área, sempre encanta uma
apresentação oral ou escrita com bom encadeamento
lógico.
Quando da visita de Howard Gardner, na plateia éramos 100
privilegiados educadores a convite da Universidade Positivo.
Julgo que o maior mérito de Gardner foi valorizar e inserir
no espectro das Inteligências Múltiplas as
inteligências interpessoal e intrapessoal.
Quando perguntado quais as mais valorizadas para o mercado de trabalho,
Gardner foi enfático:
- É a combinação da união
do pensamento lógico à capacidade de lidar com as
pessoas.
O edifício gardneriano se sustenta sobre a premissa de que
todas as inteligências podem e devem ser desenvolvidas.
A escola e a família sempre suscitam respostas positivas por
parte do aluno, quando oferecem condições
adequadas de aprendizado e um ambiente estimulador.
Desenvolver na criança e no adolescente a
inteligência lógico-matemática, uma das
nove inteligências de Gardner, é das
incumbências mais relevantes dos professores e dos pais.
Continua indispensável a memorização
de alguns conteúdos das disciplinas, mesmo com todos os
avanços tecnológicos.
No entanto, o saber enciclopédico perde em parte a sua
importância, pois em poucos minutos estamos ao alcance de um
teclado, e só o Google hospeda 1 trilhão e 200
bilhões de páginas.
Diante desse gigantesco acervo de informações
– verdadeiras ou falsas –, é preciso
discernimento e racionalidade.
Estamos convivendo com “mestres” que, para serem
bonzinhos ou em nome da didática, apresentam as
matérias por demais prontas, tipo fast-food.
É crítico o nível de
exigência da maioria dos livros e apostilas de
Matemática adotados pelas escolas, quando se sabe que essa
disciplina é a que melhor induz o desenvolvimento da
têmpera racional da mente.
Danosas têm sido as provas de Matemática do ENEM,
o que se dá pelo excesso de
contextualização e aritmética e pouca
exigência em raciocínio.
As tecnologias disponíveis ensejam enormes
benefícios, mas em contrapartida aliciam os jovens ao
aprendizado superficial e, pela exacerbação,
roubam preciosas horas que deveriam ser dedicadas ao estudo,
às leituras, à prática esportiva e
às relações interpessoais.
Por esses e outros motivos, temos uma geração que
tem preguiça de pensar.
Entretanto, nunca se valorizou tanto a pessoa ou o profissional com boa
capacidade de raciocínio, enfim, o resolvedor de problemas.
Hoje, o jovem aprende rápido e esquece rápido,
não mergulha fundo e, assim, o aprendizado é
fugaz ou fruto de um clique.
Em síntese, só se desenvolve o pensamento
lógico com o cérebro e com as nádegas.
Sim – blague à parte –, é
preciso organização pessoal, disciplina, uma
mesa, uma cadeira, um ambiente de silêncio e a
disposição para o aprofundamento.
Um texto ou exercício mais complexo é um desafio
e faz bem aos neurônios.
Há muito mais sinapses em 10 minutos dedicados a um problema
difícil, mesmo não resolvido, do que na
solução de três outros
exercícios bastante acessíveis.
Raciocinar exige esforço. “Pensar
dói” – declamava Brecht.
Quando o rei Ptolomeu folheava os pergaminhos de Os Elementos,
recheados de axiomas, teoremas e postulados, perguntou
esperançosamente a Euclides:
- Não existe uma forma mais fácil de aprender
essas demonstrações?
- Não, majestade, não há estrada real
para a Geometria – teria respondido o autor.
Há 24 séculos, aproximadamente, a
Matemática e a Filosofia helenísticas nos
despertaram para o prazer de pensar.
Foi o início da civilização e culminou
com o espírito cartesiano – “cogito,
ergo sum” –, de ceticismo,
indagação e crítica.
Apropriadas são as palavras do filósofo e
matemático francês Henry Poincaré
(1845-1912): “Duvidar de tudo ou acreditar em tudo
são atitudes preguiçosas. Dispensam-nos de
refletir”.
Jacir
José Venturi
é Engenheiro Civil – UFPR; Licenciado em
Matemática – UFPR;
Especialização em Engenharia e
Educação; Professor adjunto da UFPR (1974 a
1998); Professor da PUC-PR (1974 a 1985); Docente do Colégio
Estadual do Paraná de (1972 a 1974);
Sócio-fundador, professor e diretor do Curso e
Colégio Decisivo (desde 1977); Sócio-fundador,
professor e diretor do Curso e Colégio Unificado (de 1974 a
2009); Diretor do Colégio Stella Maris (de 1989 a 2009);
Diretor do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do
Paraná (desde 1986); Autor do livro: Da Sabedoria
Clássica à Popular; Autor dos livros para o
ensino superior: Álgebra Vetorial e Geometria
Analítica; Cônicas e Quádricas; Autor
de inúmeros artigos para jornais e
revistas; Cidadão Honorário de Curitiba (2001);
Mentor e
colaborador do Amo Curitiba – ações
voluntárias; Promoção do Sinepe-PR
(são 750 projetos implementados pelas escolas particulares
de Curitiba, junto a escolas públicas de periferia, creches,
asilos, hospitais e ao meio ambiente).