Quando
o assunto é criatividade, é importante lembrar
que ela não surge da noite para o dia.
Mesmo que seja considerada por muitos um dom, é preciso
desenvolvê-la e instigá-la, pois todos
nós temos a capacidade de sermos criativos.
Para que isso de fato ocorra, entretanto, é preciso que haja
curiosidade, dado que, nesse sentido, ela serve de subsídio
necessário ao desenvolvimento dessa habilidade.
Sendo assim, é natural pensarmos que pessoas inteligentes e
rápidas, que buscam informação e
conhecimento, conseguem realizar coisas novas e originais.
Afinal, a busca por informações remete a
mudanças, novas alternativas, novas
soluções, novas ideias.
Contudo, segundo o fundador e presidente da Creative Think –
empresa situada em Menlo Park, na Califórnia/EUA
–, Roger von Oech, que considera o conhecimento como a
matéria-prima das novas ideias, esses requisitos
não são suficientes para tornar uma pessoa
criativa, mas o que se faz com tudo isso é
de extrema importância, pois o pensamento criativo sugere uma
atitude.
Não estamos acostumamos a ter atitudes criativas em nossa
rotina diária, até mesmo pelo fato de que
não precisamos pensar coisas diferentes para realizar sempre
as mesmas tarefas.
Isso é naturalmente aceitável para que
seja mantida uma ordem e evitar um possível caos, mas essas
atitudes se transformam em obstáculos ao pensamento
criativo e, ainda segundo Von Oech, são tidas como
bloqueios mentais.
Em seu livro "Um
Toc
na Cuca", o autor cita a história “A marca de
giz”, que ilustra muito bem o hábito que temos de
procurar, com o máximo de praticidade, apenas uma resposta
certa, limitando o espaço para outras alternativas ou outras
ideias:
"Quando
eu estava no meio do curso colegial, meu professor de Inglês
fez uma pequena marca de giz no quadro-negro. Ele perguntou
à turma o que era aquilo. Passados alguns segundos,
alguém disse: “É uma marca de giz no
quadro-negro”. O resto da classe suspirou de
alívio, porque o óbvio foi dito e
ninguém tinha mais nada a dizer. “Vocês
me surpreendem”, o professor falou, olhando para o grupo.
“Fiz o mesmo exercício ontem, com uma turma do
jardim da infância, e eles pensaram em umas cinquenta coisas
diferentes: o olho de uma coruja, um inseto esmagado e assim por
diante. Eles realmente estavam com a imaginação a
todo vapor”. Nos dez anos que vão do jardim da
infância ao colegial, nós tínhamos
aprendido a encontrar a resposta certa, mas também
havíamos perdido a capacidade de procurar outras respostas
certas e perdido muito em capacidade imaginativa." (EOCH, Um
“toc” na cuca, 1999. p.34).
Dessa forma, é possível perceber a forte
influência que a curiosidade exerce sobre o saber, o
pensamento criativo e a busca por outras respostas.
Essa atitude tem base na infância, como afirma o
crítico social norte-americano Neil Postman:
“Quando as crianças vão para a escola,
são como pontos de interrogação;
quando saem, são frases feitas”.
O nosso sistema educacional tem seu foco na busca pela única
resposta certa, deixando de lado a flexibilidade, que é
primordial para a boa convivência.
O grande impasse é que a vida não
é dessa maneira, tudo depende muito do ponto de vista e do
que se deseja alcançar.
E, felizmente, a vida permite mais de uma resposta certa.
Referências
EOCH, von Roger. Um “toc” na cuca. 14 ed.
São Paulo: Editora Cultura, 1999.
Leila
Almeida Lopes é
Graduada em Pedagogia pela Universidade de Taubaté (UNITAU)
e Atua como Instrutora Técnica do Programa
Informática Educacional em Caçapava,
São Paulo.