O fim dificilmente é lógico e, tampouco, se
obriga a ser feliz.
A ansiedade toma conta e é evidenciada por olhos
lacrimejantes que se negam a piscar.
Cada detalhe, cada gesto, cada olhar, cada cena...
Sem se dar conta, o espectador se vê envolvido por uma
atmosfera de tensão, medo e um sentimento
inexplicável que o faz torcer por um determinado fim.
Nada o satisfaz mais do que ver o vilão recebendo as
recompensas negativas por todos os males que praticou contra o
inofensivo “mocinho”.
Como se não bastasse, inúmeras vezes o castigo do
vilão não satisfaz os desejos de
violência que foram gerados por uma narrativa
surpreendentemente eficaz.
É até difícil explicar, pois
é muito diferente do que acontece com a narrativa no papel,
na qual escrevemos detalhadamente as características
físicas e emocionais dos personagens.
Na narrativa do Cinema, evapora-se a necessidade da escrita, pois todas
essas características ficam a cargo do olhar do espectador,
que se delicia pelas expressões corporais e faciais dos
personagens, além dos aspectos dos cenários.
Tudo isso ganha muito mais ênfase quando se soma à
trilha sonora e aos inumeráveis enquadramentos, os quais
direcionam a atenção do espectador, que se
vê vencido pelas técnicas dessa fascinante
linguagem.
São tantas as diferenças entre essas narrativas
que chega a surpreender até o mais estudioso da arte que se
rende ao fascinante mundo cinematográfico.
É preciso se questionar... O que, afinal, aconteceu com os
finais felizes?
Certamente, percebeu-se que a angústia, o medo e a
violência dão muito mais audiência do
que a felicidade, o amor e a paz.
E assim, a narrativa cinematográfica caminha alterando os
rumos e desafiando o intelecto de seus espectadores ao
envolvê-los numa trama que, junto ao protagonista, deseja-se
desvendar.
Completamente entrelaçado pelo filme, o espectador vibra ao
descobrir os desdobramentos que se tomará a
história que está assistindo.
Elogia-se, fica feliz e até cobra reconhecimento de seus
pares ao enfatizar, repetidas vezes, que ele,
“sozinho”, conseguiu prever tudo o que estava por
acontecer naquelas dramáticas cenas.
Esses sentimentos, é fato, também são
perfeitamente possíveis e cabíveis em nossas
literaturas, o que torna o Cinema um dos recursos mais essenciais
à sala de aula.
A narrativa cinematográfica é, então,
um valioso objeto de estudo, que não pode ser negado aos
nossos alunos.
Mesmo que sem perceber, eles já mudam suas
práticas, alteram seus planos e repensam suas vidas
através da arte cinematográfica.
A escola precisa prover meios para que seus alunos identifiquem essas
manobras que fazem a partir do que assistem num filme, bem como nas
mais diferenciadas cenas da vida.
Assim, eles assumirão o papel de autores conscientes de
todas as formas de influência, passando a repensar o que, de
fato, querem para a própria vida.