De Olho na História
 

O Terrorismo do Ser Humano - 09/10/2012
Breno Rosostolato

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O terrorismo é um ato selvagem e desleal com o intuito de causar dor e sofrimento a uma pessoa, grupo, sociedade e população.

Alguns estudos apontam que teve início no século I d.C., quando os sicários, que significa “homens de punhal”, atacavam cidadãos judeus e não judeus considerados a favor do domínio romano.

O terrorismo torna-se eficaz pelos instrumentos que utiliza para cometer seus propósitos: a surpresa, a sustentação nas crenças que fundamentam o ato e, posteriormente, o trauma causado. ]

A intensidade do atentado define o grau de comprometimento do trauma e, em se tratando de um gesto desumano, quanto mais sanguinário e destrutivo, maior o poder de corrosão.

O trauma causado são sequelas que vão conduzir o pensamento e os rumos de uma nação.

Ideologias totalitaristas nas quais os propósitos políticos misturam-se a crenças religiosas e motivadas por visões conspiratórias, os terroristas são grupos que se formam e utilizam a sanguinolência como modalidade de luta e reivindicação.

Inúmeros são os grupos terroristas espalhados pelo mundo como o ETA na Espanha; as FARC na Colômbia; os Tigres Tâmeis no Sri Lanka; o IRA na Irlanda do Norte; a Al Qaeda no Afeganistão, além de grupos islâmicos fundamentalistas em diversos países africanos e asiáticos.

O impacto do ato terrorista num primeiro instante causa perplexidade e consternação.

A população fica apavorada e dá vazão a uma histeria, ou seja, um descontrole emocional, insegurança e medo.

Num segundo momento, esta sensação de medo revela uma tendência a uma reação selvagem e primitiva, mas sem sair de cena.

O medo continua, pois o sentimento alimenta a percepção, a compreensão da fragilidade e do ódio fomenta a retaliação e a reação ao sofrimento é imediato e igualmente destrutivo ao ato sofrido.

O medo é tendencioso, privilegiando o sofredor, cria vitimizações e uma atmosfera de pânico.

O medo, ao mesmo tempo em que deixa a pessoa em alerta, pode distorcer uma verdade, confundir.

Contudo, a reação violenta é inevitável porque é uma tentativa de suplantar a fragilidade, mas condicionada a sensação de pavor enfraquece uma racionalização.

No nazismo, existia a expressão “Führerprinzip”, ou seja, o princípio de liderança, a lei do chefe. O pai eleito que protege seu rebanho, sua prole, seus filhos.

A referência que utilizo para explicar esse princípio pode causar incômodo, mas com isso quero provocar o leitor a uma reflexão.

O nazismo que possuía como argumentação um movimento político foi liderado por um déspota e que regeu toda uma nação, criando uma nação sua imagem e mentalidade.

A ação terrorista possui este mecanismo. Ela influencia opiniões e controla pessoas contra um determinado grupo, as quais acreditam em qualquer coisa que seja apoiada no medo e passam a lutar, supostamente, por um ideal.

Uma interpretação básica do Inconsciente Coletivo do psicólogo Carl Gustav Jung nos ensina que a existência humana está relacionada aos eventos do passado e que nossa psique herda as influências das imagens e experiências do passado e cria os arquétipos, fenômenos psíquicos que persistem e se moldam no nosso inconsciente.

Colhemos o que plantamos, portanto, somos o reflexo de nossos pensamentos e influenciados por pessoas, grupos, comunidades, sociedades, ideologias e muitas outras camadas que antecedem o que é atual e constitui nossa realidade.

Um exemplo dessa concepção foi que, por causa da Inquisição na Idade Média, o Vaticano, décadas depois, se retratou e pediu desculpas pelas atrocidades que a igreja católica cometeu na idade média, admitindo sua culpa.

Foi por causa da Ditadura no Brasil, para ficarmos com um exemplo próximo, que houve as passeatas e as revoltas contra o regime autoritarista e as discussões das “Diretas Já”.

A mudança de uma política militarista pela democracia e deste movimento o direito da população ao voto.

Olhar para o passado e reconhecer os erros se fazem necessário, não apenas para corrigi-los, mas o intuito é transformá-los em algo melhor.

No terrorismo, as mortes de pessoas inocentes dão a tônica de uma violência desmedida e cruel.

Não existe vítima e o vilão. A intersecção dos papéis confunde e desassocia a figura do herói e do bandido.

Os ditadores continuam no comando e a sensação de medo circunda o cotidiano das pessoas.

A sociedade continua repetindo as lições deixadas por seus tiranos e cria novos fascistas.

A violência entre os povos que acompanha o desenvolvimento da humanidade desde seus primórdios e é a tônica de mentalidades alienadas, parece também flertar com a morbidez.

Esse é, então, o estilo de vida de pessoas que, ao mesmo tempo em que conseguem se chocar com uma carnificina, estão à mercê da própria falta de escrúpulos.

Muitos se comovem com a desgraça alheia, outros se deliciam e, na verdade, todos agradecem por não ter sido com ele.

Parece que temos muito mais dificuldades de aprender com os erros do passado porque a soberba enfraquece a verdade, haja vista a bandalheira política, em que governantes e dirigentes se posicionam como deuses e são intocáveis.

A intolerância bebe da mesma fonte das ideologias, a maioria, utópicas e sem valor.

A violência do terrorismo, o derramamento de sangue, a chacina em massa de inocentes decreta a falência do humano que deixou de “ser” e existir.

Breno Rosostolato é psicoterapeuta e professor da Faculdade Santa Marcelina.

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