O terrorismo é um ato selvagem e desleal com o intuito de
causar dor e sofrimento a uma pessoa, grupo, sociedade e
população.
Alguns estudos apontam que teve início no século
I d.C., quando os sicários, que significa “homens
de punhal”, atacavam cidadãos judeus e
não judeus considerados a favor do domínio
romano.
O terrorismo torna-se eficaz pelos instrumentos que utiliza para
cometer seus propósitos: a surpresa, a
sustentação nas crenças que
fundamentam o ato e, posteriormente, o trauma causado. ]
A intensidade do atentado define o grau de comprometimento do trauma e,
em se tratando de um gesto desumano, quanto mais sanguinário
e destrutivo, maior o poder de corrosão.
O trauma causado são sequelas que vão
conduzir o pensamento e os rumos de uma nação.
Ideologias totalitaristas nas quais os propósitos
políticos misturam-se a crenças religiosas e
motivadas por visões conspiratórias, os
terroristas são grupos que se formam e utilizam a
sanguinolência como modalidade de luta e
reivindicação.
Inúmeros são os grupos terroristas espalhados
pelo mundo como o ETA na Espanha; as FARC na Colômbia; os
Tigres Tâmeis no Sri Lanka; o IRA na Irlanda do Norte; a Al
Qaeda no Afeganistão, além de grupos
islâmicos fundamentalistas em diversos países
africanos e asiáticos.
O impacto do ato terrorista num primeiro instante causa perplexidade e
consternação.
A população fica apavorada
e dá vazão a uma histeria, ou seja, um
descontrole emocional, insegurança e medo.
Num segundo momento, esta sensação de medo revela
uma tendência a uma reação selvagem e
primitiva, mas sem sair de cena.
O medo continua, pois o sentimento alimenta a
percepção, a compreensão da
fragilidade e do ódio fomenta a
retaliação e a reação ao
sofrimento é imediato e igualmente destrutivo ao ato
sofrido.
O medo é tendencioso, privilegiando o sofredor, cria
vitimizações e uma atmosfera de pânico.
O medo, ao mesmo tempo em que deixa a pessoa em alerta, pode distorcer
uma verdade, confundir.
Contudo, a reação violenta é
inevitável porque é uma tentativa de suplantar a
fragilidade, mas condicionada a sensação de pavor
enfraquece uma racionalização.
No nazismo, existia a expressão
“Führerprinzip”, ou seja, o
princípio de liderança, a lei do chefe. O pai
eleito que protege seu rebanho, sua prole, seus filhos.
A referência que utilizo para explicar esse
princípio pode causar incômodo, mas com isso quero
provocar o leitor a uma reflexão.
O nazismo que possuía como
argumentação um movimento político foi
liderado por um déspota e que regeu toda uma
nação, criando uma nação
sua imagem e mentalidade.
A ação terrorista possui este mecanismo. Ela
influencia opiniões e controla pessoas contra um determinado
grupo, as quais acreditam em qualquer coisa que seja apoiada no medo e
passam a lutar, supostamente, por um ideal.
Uma interpretação básica do
Inconsciente Coletivo do psicólogo Carl Gustav Jung nos
ensina que a existência humana está relacionada
aos eventos do passado e que nossa psique herda as
influências das imagens e experiências do passado e
cria os arquétipos, fenômenos psíquicos
que persistem e se moldam no nosso inconsciente.
Colhemos o que plantamos, portanto, somos o reflexo de nossos
pensamentos e influenciados por pessoas, grupos, comunidades,
sociedades, ideologias e muitas outras camadas que antecedem o que
é atual e constitui nossa realidade.
Um exemplo dessa concepção foi que, por causa da
Inquisição na Idade Média, o
Vaticano, décadas depois, se retratou e pediu desculpas
pelas atrocidades que a igreja católica cometeu na idade
média, admitindo sua culpa.
Foi por causa da Ditadura no Brasil, para ficarmos com um exemplo
próximo, que houve as passeatas e as revoltas contra o
regime autoritarista e as discussões das “Diretas
Já”.
A mudança de uma política militarista pela
democracia e deste movimento o direito da
população ao voto.
Olhar para o passado e reconhecer os erros se fazem
necessário, não apenas para corrigi-los, mas o
intuito é transformá-los em algo melhor.
No terrorismo, as mortes de pessoas inocentes dão a
tônica de uma violência desmedida e
cruel.
Não existe vítima e o vilão. A
intersecção dos papéis confunde e
desassocia a figura do herói e do bandido.
Os ditadores continuam no comando e a sensação de
medo circunda o cotidiano das pessoas.
A sociedade continua repetindo as lições deixadas
por seus tiranos e cria novos fascistas.
A violência entre os povos que acompanha o desenvolvimento da
humanidade desde seus primórdios e é a
tônica de mentalidades alienadas, parece também
flertar com a morbidez.
Esse é, então, o estilo de vida de pessoas que,
ao mesmo tempo em que conseguem se chocar com uma carnificina,
estão à mercê da própria
falta de escrúpulos.
Muitos se comovem com a desgraça alheia, outros se deliciam
e, na verdade, todos agradecem por não ter sido com ele.
Parece que temos muito mais dificuldades de aprender com os erros do
passado porque a soberba enfraquece a verdade, haja vista a bandalheira
política, em que governantes e dirigentes se posicionam como
deuses e são intocáveis.
A intolerância bebe da mesma fonte das ideologias, a maioria,
utópicas e sem valor.
A violência do terrorismo, o derramamento de sangue, a
chacina em massa de inocentes decreta a falência do humano
que deixou de “ser” e existir.
Breno
Rosostolato
é
psicoterapeuta e professor da Faculdade Santa Marcelina.